Violência

Aplicativo propõe mapear tiroteios no Rio de Janeiro

No ar desde terça-feira (5), plataforma se concentra em receber dados de sete comunidades da região metropolitana

Redação |
Tela do aplicativo Fogo Cruzado
Tela do aplicativo Fogo Cruzado - Reprodução

Com o objetivo de mapear colaborativamente os tiroteios que ocorrem na cidade do Rio de Janeiro (RJ), a Anistia Internacional lançou nesta terça-feira (5) o aplicativo Fogo Cruzado. Já no primeiro dia de funcionamento, a plataforma recebeu ocorrências de troca de tiros no Complexo do Alemão e em Acaraí, e de uma morte de um policial militar na Favela do Rola.

Através do app, os moradores da região metropolitana fluminense, "afetados pela lógica de guerra", poderão enviar informações preenchendo um formulário pelo smartphone. Os dados serão transformados em notificações enviadas aos usuários da plataforma, já disponível gratuitamente para download no sistema operacional Android. Em breve, será lançada a versão para iOS.

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A partir das informações acumuladas no serviço, a organização sem fins lucrativos pretende criar uma fotografia da violência armada na região e ajudar a aprofundar o debate sobre segurança pública na cidade olímpica, afirma Cecilia Olliveira, gestora de dados do aplicativo.

Como surgiu

A iniciativa surgiu após a constatação que a compilação dos números deste tipo de ocorrêcia são inexistentes, salvo acompanhamento pela imprensa ou boletins de ocorrência da Polícia Militar.

"Temos esta noção que estes números não eram agregados ao acompanhar pela imprensa ou pelo Facebook, e que os tiroteiros acontecem com mais frequência. O intuito foi agregar estes dados, como faz o jornal Vozes da Comunidade no Complexo do Alemão, por exemplo", explicou Cecília.

O projeto ao qual ela faz referência apontou que no Complexo do Alemão houve 100 dias seguidos de tiroteio em 2015. De acordo com o Mapa da Violência, foram registrados cerca de 3,5 mil assassinatos por armas de fogo em 2012, dentre os quais, 2 mil foram de jovens entre 15 e 29 anos.

Periodicidade

Os dados do Fogo Cruzado serão apresentados em mapas semanal e mensalmente . Além disso, a cada três meses, a ONG pretende elaborar relatórios nos quais as informações coletadas serão cruzadas com de outras áreas, como educação, saúde e transporte.

"Ao combinar os tiroteios com a interrupção dos serviços (por exemplo, com a quantidade de vias e escolas fechadas), a gente consegue valorar o custo social dessa violência armada para cidade e para os moradores. Ferir uma pessoa é o último estado. Existem outras violências menores", disse.

Este panôrama fornecido pelo aplicativo, diz Cecília, será útil para delinear políticas públicas mais abrangentes e eficazes de enfrentamento ao problema.

Abrangência

Quanto à apuração dos dados, a coordenadora admite ser "impossível" checar todas as informações recebidas, mesmo trabalhando com coletivos parceiros da sociedade civil em diversas regiões.

Por isso, será possível aplicar filtros para visualizar os relatórios, separando o que são informações oficiais de boletins de ocorrência, o que foi extraído de veículos de imprensa e o que chegou através de denúncias que chegaram pelo app.

"Não temos uma metodologia científica, porque este é outro tipo de produto. Checar todas as informações é um trabalho inatíngivel. Mas este mapa servirá para que as pessoas tenham esta noção da disparidade dos dados", justificou.

Tendência

O Fogo Cruzado é mais uma iniciativa de plataforma colaborativa que chega no Rio de Janeiro na área dos Direitos Humanos. Em maio, foi lançado o DefeZap, app da organização Meu Rio que se propõe a ser um canal rápido e seguro para denunciar repressão a manifestações e ocupações, operações violentas em favelas, blitz duvidosas, repressão a camelôs e outros casos de uso e abuso da violência de Estado.

A plataforma da Anistia Internacional deve permanecer na versão beta até dezembro deste ano e, por enquanto, funciona com prioridade em sete regiões da cidade: Jacarezinho, Manguinhos, Complexo da Maré, Complexo do Alemão, Acari, Cidade de Deus e Morro Agudo (Nova Iguaçu).

Edição: Camila Rodrigues da Silva

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