A Folha de S. Paulo publicou uma pequena matéria neste domingo (10) que traz em sua manchete: "Executivos da Andrade falarão a Sergio Moro sobre obra erguida no governo Aécio Neves (PSDB), em Minas". De acordo com o jornal, os executivos da Andrade Gutierrez estão com depoimentos marcados em Curitiba para os próximos dias 25 e 27. Eles foram convocados a depor sobre a construção da Cidade Administrativa, em Belo Horizonte, durante o governo Aécio Neves. Em negociações para fechar delação premiada, Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, relatou suposto pagamento de propina durante a construção da obra.
Pelo relato da notinha, finalmente, o juiz Moro vai tomar conhecimento da "grande" obra de Aécio Neves nos oito anos em que permaneceu à frente do governo mineiro – entre 2003 e 2010 –, além dos dois famosos "aecioportos". O palácio de governo faraônico, chamado Cidade Administrativa de Minas, foi estimado em R$ 500 milhões, mas a obra custou aos cofres público R$ 2,3 bilhões (R$ 1,7 bilhão em 2010, corrigido pelo IGP-M), e ganhou dos mineiros até apelidos como Aeciolândia e Neveslândia.
O ex-presidente da construtora OAS Léo Pinheiro disse nas negociações para o acordo de delação na Operação Lava Jato que vai relatar, com base em documentos, que pagou suborno a auxiliares do então governador de Minas Gerais, atual presidente do PSDB e senador Aécio Neves, durante a construção da chamada Cidade Administrativa.
Pinheiro ainda deu detalhes sobre o pagamento da propina: A OAS teria pago a Aécio 3% do valor recebido pela sua parte no empreendimento, construído por consórcios que reuniram nove empreiteiras em Minas. A OAS recebeu R$ 102,1 milhões, ou seja, a suposta propina seria equivalente a pouco mais de R$ 3 milhões. Segundo Pinheiro, a dinheirama era entregue por um operador da empreiteira – em dinheiro vivo – a um intermediário do senador.
Pela delação do executivo, Aécio Neves teria feito jus à fama de conciliador na construção de seu palácio faraônico: a divisão da obra bilionária, entre nove empreiteiras, transcorreu sem nenhum abalo de relacionamento, do começo ao fim da licitação e, posteriormente, durante as obras.
A divisão aparece de forma organizada: nenhuma empreiteira se repete, nenhuma ganhou a concorrência no lote da outra e cada consórcio construiu um dos três grandes prédios.
O senador tucano Aécio Neves, até então poupado nas delações de empreiteiros, tem sido ultimamente lembrado nas notas de jornais e comentários de delatores. A jornalista Monica Bergamo sugere que Aécio deu tiro no pé ao esquecer dos amigos.
De acordo com a colunista, integrantes da equipe que acompanha as delações, tanto dos executivos da Odebrecht quanto Léo Pinheiro, da OAS, acham que Aécio colocou fogo na Operação Lava Jato porque imaginava que ela só atingiria o PT. Pouco teria se importado com as empreiteiras.
Recados enviados inclusive por Marcelo Odebrecht, que dizia ser amigo do tucano, teriam sido desprezados pelo mineiro. Aécio Neves diz que não esteve com o empresário no ano passado... Mas esteve.
Serra na roda
A segunda nota foi publicada em O Globo: "José Serra aparece em delações da Odebrecht e da OAS". Serra aparece nas duas "megadelações" que estão sendo negociadas, as da Odebrecht e OAS. As duas empreiteiras revelarão histórias de propinas em obras públicas nos tempos em que Serra (PSDB) era governador de São Paulo, entre 2007 e 2010.
No caso da OAS, a história a ser relatada gira em torno de uma propina negociada (e paga) diretamente entre Léo Pinheiro e uma pessoa muito próxima de Serra, que dizia falar em nome do então governador.
O rolo com a Odebrecht é relativo a um trecho do Rodoanel, a maior obra viária de São Paulo. A Odebrecht promete detalhar a propina que teria dado ao homem-bomba de José Serra, Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, o controverso ex-diretor da empresa que administrava a construção de rodovias no estado, a Dersa.
Léo Pinheiro citou o senador e atual chanceler interino nas negociações para firmar acordo de delação premiada na Operação Lava Jato. O tucano integra uma lista de quase uma centena de políticos sobre os quais a empreiteira promete dar informações detalhadas de contribuições para campanhas eleitorais.
Serra pode aparecer também na delação da Odebrecht. Ele já constava da lista de mais de 200 políticos que foi obtida em operação de busca e apreensão feita na casa de um dos executivos da empreiteira. Agora, a Odebrecht pretende trazer à tona o caso que os tucanos queriam esquecer.
O trecho do Rodoanel custou R$ 5 bilhões e é alvo de suspeitas e denúncias de instituições fiscalizadoras, como o Tribunal de Contas da União e o Ministério Público, que apontam a obra como manchada por superfaturamentos e irregularidades de todo tipo.
Na época, o então candidato à presidência José Serra, mesmo depois de ter nomeado (quando foi governador de São Paulo, em 2007) a filha do ex-diretor da Dersa Tatiana Arana Souza Cremonini, assistente técnica de gabinete, declarou, que não sabia quem era Paulo Preto: "Eu não sei quem é o Paulo Preto. Nunca ouvi falar".
Paulo Preto reagiu em uma entrevista: "Não somos amigos, mas Serra me conhece muito bem". Inconformado por ter sido retirado da direção da Dersa, mandou um recado para José Serra: "Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam esse erro". No dia seguinte, José Serra lembrou de Paulo Preto e definiu-o como um engenheiro competente.
Paulo Preto foi exonerado da Dersa oito dias depois de participar da festa de inauguração do Rodoanel, ao lado dos principais líderes do PSDB. A portaria, publicada no Diário Oficial em 2010, não explica os motivos da demissão. O nome do engenheiro está registrado em uma série de documentos apreendidos pela Polícia Federal durante a chamada Operação Castelo de Areia, deflagrada para investigar a suposta ação ilegal de executivos da construtora Camargo Corrêa para fraudar licitações e pagar propinas a agentes públicos entre 2008 e 2009.
No inquérito estão planilhas que listam valores que teriam sido pagos pela construtora ao engenheiro Paulo Vieira de Souza. Seriam pelo menos quatro pagamentos de R$ 416,5 mil entre dezembro de 2007 e do ano seguinte.
Apesar de o relatório de inteligência da PF citar o nome do engenheiro inúmeras vezes, Paulo Preto não foi indiciado, e o inquérito da Operação Castelo de Areia foi suspenso por força de uma liminar concedida pelo Superior Tribunal de Justiça.
Será que dessa vez veremos tucanos sendo investigados? A conferir.
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