Ayotzinapa

Comissão de Direitos Humanos do México contesta morte do atentado em Ayotzinapa

Órgão pediu recomendações à Procuradoria para esclarecer o caso da morte de Julio César Mondragón

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Os país dos 43 estudantes desaparecidos em Ayotzinapa e o sindicato CNTE durante manifestação em junho em frente à ao monumento da PGR
Os país dos 43 estudantes desaparecidos em Ayotzinapa e o sindicato CNTE durante manifestação em junho em frente à ao monumento da PGR - Flickr @Berenice Zambrano

A família de Julio César Mondragón, um dos três estudantes mortos em setembro de 2014 na ocasião do desaparecimento dos 43 alunos da Escola Normal Rural Isidro Burgos, de Ayotzinapa, pediu nesta quinta-feira (14) que a Procuradoria Geral do México realize novas investigações sobre a morte do jovem após a CNDH (Comissão Nacional dos Direitos Humanos) do país contestar a investigação realizada em 2015 pela instituição.

Em comunicado, a família de Mondragón também pediu que a Procuradoria cumpra com as recomendações dadas pela CNDH em seu relatório, divulgado na segunda-feira (11/07), para que os reponsáveis pela morte do estudante não fiquem impunes.

De acordo com o documento da CNDH, Mondragón teria morrido devido a uma lesão cranioencefálica decorrente de tortura realizada por diversos indivíduos — que acabou provocando 64 fraturas em 40 ossos do crânio do jovem. Em 2015, a Procuradoria havia afirmado que ele havia sido morto por um tiro no rosto.

O órgão também afirma que as lesões no corpo do estudante indicam que ele teria “realizado manobras de defesa, luta e combate contra seus atacantes” e seu rosto, esfolado e sem um olho, foi comido por animais, como cães e ratos, quando seu corpo já sem vida estava abandonado perto da zona industrial da cidade de Iguala. As conclusões da investigação de 2015 da Procuradoria afirmavam que Mondragón teria sido vítima de apenas um atacante e seu rosto havia sido desfigurado pelo próprio assassino.

A Procuradoria chegou a responsabilizar Luis Francisco Martínez Díaz, detido pela polícia municipal de Iguala no mesmo ano, pela morte de Mondragón e deu o caso por resolvido — atitude condenada pela família do jovem, que a considerou “de impacto midiático” e “inconsistente”.

A versão da CNDH foi corroborada pela EAAF (Equipe Argentina de Antropologia Forense), que também estuda o caso.

Assim, a Comissão realizou uma série de recomendações à Procuradoria a fim de esclarecer o motivo do assassinato e identificar, para posteriormente punir, os autores da morte do estudante.

O órgão sugeriu “investigar 11 indivíduos identificados por integrantes da organização criminosa Guerreiros Unidos como participantes da tortura e homicídio” do jovem, com destaque para o papel que pode ter exercido Victor Hugo Benítez Palacios, preso no início deste mês, e membro da gangue. A CNDH também recomendou dar continuidade às investigações “que permitam confirmar se, efetivamente, Julio César Mondragón gravou com um telefone celular a agressão perpetrada por agentes policiais contra os estudantes normalistas de Ayotzinapa. Caso o resultado das investigações seja positivo, recuperar o material em vídeo”.

Desaparecimento dos 43 estudantes de Ayotzinapa

Na noite do dia 26 de setembro de 2014, cerca de 100 estudantes da Escola Normal Rural Isidro Burgos, no município de Ayotzinapa, no Estado de Guerrero, no México, foram atacados quando viajavam a bordo de cinco ônibus para a Cidade do México, para participar de uma marcha anual em memória do massacre ocorrido em 1968 em Tlateloco, que também vitimou estudantes.

Logo no início da viagem de três dos cinco veículos — onde estavam cerca de 60 estudantes —, policiais estaduais, municipais e civis armados passaram a atirar, aparentemente sem explicação, contra os ônibus. Um quarto ônibus, que viajava separado, também foi atacado por agentes da polícia federal e municipal. Nele estavam 20 jovens — todos desapareceram.

Alguns dos estudantes que estavam nos três primeiros ônibus e sobreviveram organizaram uma coletiva de imprensa de última hora para denunciar o ocorrido. Esta também foi atacada, porém por um grupo de homens “trajando roupas escuras”.

O saldo foi de seis mortos, três dos quais estudantes, e 20 feridos. Na ocasião, 57 normalistas desapareceram. Mais de um ano e meio depois, 43 ainda estão desaparecidos.

Ainda não se sabe o motivo do ataque, quem o realizou e para onde foram levados os 43. Além disso, apesar das provas, o governo do presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, segue negando o envolvimento do Exército, da Polícia Federal e do Cisen (Centro de Investigação e Segurança Nacional) no massacre.

“Estou comprometida com a causa. Estamos seguros de que a equipe de trabalho que me acompanha poderá dar resultados. Não duvidem, cada dia avançaremos mais”, disse a procuradora-geral mexicana, Arely Gómez González, após encontro com as famílias dos estudantes desaparecidos nesta terça-feira (12).

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