As principais praças da Argentina foram cenário de um protesto massivo, no último domingo (24), pelo direito das mulheres de alimentar seus filhos em qualquer lugar e momento que seja necessário. Milhares de mulheres com seus bebês protagonizaram um “mamaço” (em espanhol, “pique-tetazo” ou “teteada masiva”) para defender a lactação, ou amamentação, como um direito fundamental.
O Obelisco em Buenos Aires, o município de San Isidro, o monumento à Bandeira na cidade de Rosário e mais de trinta pontos em nove províncias do país ecoaram a convocatória que foi gerada e compartilhada principalmente nas redes sociais. A manifestação também foi apoiada e promovida por organizações feministas, organizações contra a violência institucional e diferentes instituições que atuam na promoção da saúde da mulher.
“Basta de intimidações em espaços públicos”, “Teta sim, teta não, isso sou eu quem decido” e “A amamentação é um direito” foram algumas das palavras de ordem entoadas. Mulheres, homens, famílias, bebês e crianças participaram das ações que de um chamado se converteu em protesto nacional pelo respeito à maternidade.
Proibição
A convocatória foi feita logo após de que o jornal El Argentino Zona Norte denunciou, no dia 15 de julho, que uma mulher, Constanza Santos, de 22 anos, esteve a ponto de ser detida pela polícia por estar amamentando seu filho em uma praça do município de San Isidro, na Grande Buenos Aires. Dois agentes alegaram que a mulher teria que se retirar porque “está proibido amamentar em lugares públicos” e ameaçaram levá-la presa por desacato à autoridade.
A notícia ultrapassou a cidade e viralizou o repúdio de tal fato. Primeiro, em apoio à Constanza, um grupo de mulheres organizou um ato em que elas amamentavam seus filhos na mesmo praça onde ocorreu a proibição; e, logo, a ideia se expandiu pelo país.
Junto à reivindicação pelo direito de amamentar se questionou também a “dupla moral” do corpo feminino, em referência à hiper-sexualização do mesmo nos meios de comunicação empresariais; mas que é censurado e castigado quando não se trata de um ato erótico. Frases como “seio que alimenta não é pornô” se fez notar nos protestos.
Ruas e redes
Ao mesmo tempo em que ocorriam os atos de rua, os protestos se fizeram fortes nas redes sociais, onde centenas de mulheres publicaram fotos amamentando a seus filhos com a hashtag #teteadamasiva. Inclusive houve censuras nas redes, como no Instagram tirou do ar a foto publicada pela atriz Griselda Siciliani.
Em apoio às mobilizações, a Unicef compartilhou nas redes sociais um cartaz em apoio à amamentação como um direito fundamental e exigiram que “Estado, equipes de saúde, família e comunidade devem promover ações para defender a lactação”.
Além disso, a Fundação Lactação e Maternidade (Fundalam) respondeu aos fatos emitindo um comunicado no qual desmente a proibição citada pelos policiais quando da tentativa de detenção de Constanza. “Não existe legislação alguma nem nacional, estadual ou municipal que proíba amamentar em via pública. Pelo contrário, nos últimos anos todas as legislações têm como objetivo promover, proteger e apoiar a lactação materna”.
Reação municipal
O prefeito de San Isidro, Gustavo Posse, publicou um comunicado no qual se solidariza com Constanza Santos e qualifica o fato como um incidente, e reivindicou que a Província de Buenos Aires reforce o trabalho de formação da polícia local quanto ao tema. Também, esclareceu que “desde agora, o município de San Isidro considere amamentação em via pública como um ato que, de nenhuma maneira, constitua algum tipo de contravenção ou falta, e se solidariza com a mãe que sofreu o ultraje denunciado”.
O Ministério de Segurança de Buenos Aires, por seu lado, divulgou que “através da Auditoria Geral de Assuntos Internos abriu um processo administrativo dos integrantes da polícia local de San Isidro que impediram a uma jovem de amamentar seu bebê em uma praça”.
*Confira a matéria em espanho no Notas Periodismo Popular.
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Tradução: Vivian Fernandes
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