Os EUA iniciaram uma nova campanha militar contra o Estado Islâmico (EI) na última segunda-feira (01), quando aviões americanos bombardearam alvos na Líbia atendendo a solicitações do governo líbio, que conta com o apoio das Nações Unidas. Os ataques ocorreram na cidade litorânea de Sirte, tomada pelo EI em junho do ano passado.
Os bombardeios representam uma intensificação considerável da guerra dos EUA contra o EI, resultando na expansão do conflito em milhares de quilômetros das zonas de guerra na Síria e no Iraque.
Todos esses ataques ocorreram sem autorização ou mesmo debate no Congresso americano.
“Pretendemos atacar o EI onde quer que surjam”, disse Peter Cook, assessor de imprensa do Pentágono. “A Líbia é um desses lugares”. O assessor de imprensa acrescentou que os ataques “continuarão enquanto forem solicitados pelo governo líbio” e que, “no momento, não têm data para acabar”.
Os EUA planejam há muito tempo expandir a campanha militar à Líbia. Em janeiro, o general Joseph Dunford, presidente do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, disse a repórteres que os EUA vêm se preparando para tomar “medidas militares definitivas contra o EI” na Líbia.
O editor e fundador do Intercept, Glenn Greenwald, ironizou a postura americana em sua manchete: “A intervenção americana na Líbia teve tanto sucesso que a continuação será lançada em breve”.
O conselho editorial do New York Times considerou o plano “profundamente preocupante” e disse que representa o “agravamento de uma guerra que pode se espalhar facilmente por outros países do continente”.
O jornal apoiou a intervenção americana inicial na Líbia em 2011, quando os EUA lideraram os ataques aéreos da OTAN visando a derrubada do ditador líbio, Muammar Gaddafi. Mas após Gaddafi ser violentado e assassinado por uma multidão, o país foi dominado por milícias e anarquistas por anos.
O presidente Barack Obama considerou a falha de planejamento na derrubada de Gaddafi seu “mais grave erro”, já que milhares de soldados do EI fizeram avanços significativos no país.
Na coletiva do Pentágono de segunda-feira (01), quando Nancy Youssef, repórter do Daily Beast, perguntou se a guerra era legal, Cook respondeu citando uma controversa resolução parlamentar para Autorização do Uso de Força Militar (AUMF) aprovada há 15 anos, logo após o ataque de 11 de setembro.
A resolução AUMF autoriza o uso de força militar contra organizações que “planejaram, autorizaram, cometeram ou auxiliaram os ataques terroristas realizados em 11 de setembro de 2001”. Mas a resolução foi utilizada, tanto por George W. Bush quanto por Barack Obama, para justificar as invasões militares no Iraque, Iêmen, Somália, Síria e em diversos outros países.
O governo americano defendeu que a AUMF de 2001 é também aplicável à guerra contra o EI, embora o EI e a Al Qaeda sejam inimigos entre si. Diversos membros do Congresso, incluindo o candidato a vice de Hillary Clinton, Senador Tim Kaine, defenderam que o governo deve buscar autorização do Congresso para continuar a guerra contra o EI. Tal autorização não obteve apoio do Congresso, que se encontra extremamente polarizado.
Mesmo sem a autorização, é provável que a Casa Branca não houvesse reconhecido qualquer barreira legal ao bombardeio da Líbia. Em 2011, os EUA continuaram a campanha militar no país africano, mesmo após o Congresso rejeitar uma resolução de autorização do uso de força. A Casa Branca chegou a enviar um relatório para o Congresso alegando que os bombardeios liderados pelos EUA não contavam como uma “hostilidade” de acordo com a Resolução de Poderes de Guerra. A Resolução de Poderes de Guerra limita os conflitos não autorizados a um período de 180 dias.
Cook enfatizou que os EUA estão “preparados para realizar mais ataques aéreos”, mas não confirmou detalhes sobre a operação de segunda-feira. Ao ser perguntado se tinha um “número aproximado” de vítimas, o assessor respondeu que “não”.
No ano passado, os EUA também realizaram diversos ataques militares individuais contra alvos do EI na Líbia. Em fevereiro, conduziram um ataque próximo à cidade litorânea de Sabratha, com o objetivo de eliminar o agente secreto do EI, Noureddine Chouchane. Cook descreveu o ataque como “muito bem-sucedido”, mas um dia depois, o governo sérvio anunciou que dois membros de sua equipe diplomática que haviam sido sequestrados morreram no bombardeio.
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