Se o picadeiro do circo é lugar de expressão da cultura popular brasileira, neste sábado (6), a reflexão sobre os rumos das políticas culturais em tempos de golpe é que foi atração principal. O debate ocorreu no Circo da Democracia e contou com a participação de Juca Ferreira, ex-ministro da Cultura do governo Dilma Rousseff.
Ferreira se questionou durante o debate sobre como chegamos a essa ameaça à democracia na qual nos encontramos hoje. “Como podemos desenvolver processos democráticos se não tivermos outra visão de mundo, outra visão de cultura?”, perguntou. Segundo ele, é preciso que a sociedade se politize e participe de processos culturais libertadores. “Devemos ter consciência de que os direitos conquistados não podem recuar um centímetro”.
O ex-ministro ainda criticou o papel do Judiciário no golpe, que tem atuado com “parcialidade absoluta”. Ele reforçou o fato de que pessoas acusadas dos partidos de oposição têm as investigações proteladas. Como exemplo, citou Aécio Neves, um dos políticos mais mencionados nos processos de corrupção. Apesar disso, o ex-ministro fez uma autocrítica à esquerda: “Nós não recuperaremos a credibilidade na sociedade brasileira enquanto quisermos encobrir as coisas defendendo que nossos corruptos são melhores que os deles”, afirmou.
Para Juca Ferreira, a cultura é fundamental na construção de qualquer processo democrático. E, nessa construção, o movimento social tem um papel central. Por isso ele se preocupa com o cenário pós votação do Senado, caso a presidenta Dilma Rousseff seja afastada definitivamente. “A elite vai atacar os movimentos sociais com repressão”, disse, baseado nos casos de perseguição que já acontecem hoje.
Valorização do diverso
“Se dizem que o trabalho dignifica o homem, a cultura significa o homem, a mulher, as gays, as trans e o mundo inteiro. O trabalho de significar o outro é o essencial que nos faz humanos”, defende Jessica Candal, integrante do Movimento Cultura Resiste, primeiro grupo a ocupar uma representação do Ministério da Cultura após o golpe e entidade que participa da construção do Circo da Democracia.
“Os sentidos que nossa cultura branca, ocidental e capitalista dá às coisas é muito pobre. Para todos os lados para que se olha as pessoas vêem dinheiro”, diz. Para a militante, é preciso ampliar o sentido sobre o mundo e sobre a cultura, o que, segundo ela, foi possível nas administrações de Gilberto Gil e Juca Ferreira, no ministério da Cultura. E reforça: "A luta pela cultura deve ser a luta da população para garantir dialogo e a valorização do diverso".
Por arte, terra e pão
“Nós fazemos cultura, porque nossa vida é feita de luta. Com o mesmo zelo que plantamos o alimento nós fazemos a rima, o repente, o vanerão, o teatro e a agitação e propaganda, porque acreditamos que a arte e a cultura é de todos nós”, afirma Juliana Barbosa. Na visão da militante do Setor de Cultura do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, a classe trabalhadora tem sido historicamente excluída do processo cultural. Ela explica que o MST quer fazer debate e superar limites que existem hoje entre campo e cidade, o que reflete também no campo da cultura.
“Queremos fazer arte com qualidade técnica e fundamentação política”, defende. Segundo ela, é preciso ousadia. A luta do movimento sem-terra e as anteriores a nós que nos ajudam a construir o caminho da rebeldia”. Após sua fala, Juliana Barbosa chamou a plateia para um grito de ordem: “MST, por arte, terra e pão”.
Para ver a programação completa, acesse o site do Circo da Democracia.
*Edição Ednubia Ghisi
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