Na favela, somos muito mais combativos do que os tratores que levam nossas casas
Essa imagem, do fotógrafo Tércio Teixeira, morador do Morro da Mangueira, nos mostra de maneira bem simbólica o momento principal da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos. Falo isso por reconhecer o preço que as favelas estão pagando (e ainda vão pagar e muito) para os jogos acontecerem.
Sei que todos os brasileiros estão pagando essa conta cara que vem com os megaeventos, mas as favelas cariocas estão levando o peso maior.
Foram ocupadas militarmente e removidas de maneira covarde.
E, na abertura, a favela foi lembrada com a mesma hipocrisia que a questão ambiental. A cultura que está impedida de ser produzida pelos militares que a ocupam fez todo mundo cantar o Rap da Felicidade e dançar o funk com a galera do passinho.
Quem espera de mim uma opinião contrária à participação dos favelados nessa tal Rio 2016, está enganado. Os Jogos Olímpicos não eram a prioridade para a os moradores da cidade do Rio de Janeiro e muito menos para os moradores de favelas. Mas, a realidade é que os Jogos estão aí. Quem quiser fazer um intercâmbio cultural sem sair da cidade, essa é a hora.
Só os moradores das favelas são capazes de mostrar para o mundo o que estão passando para os Jogos acontecerem. Somos muito mais combativos do que os tratores que levam nossas casas ao chão ou os tanques de guerras que entraram em nossas ruas. Podemos falar isso para o mundo. Tanto que uma negra favelada da Cidade de Deus nos trouxe o esperado ouro. A favela sempre está presente, ainda que tentem impedir.
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