Com a revogação da proibição de protestos políticos nos Jogos Olímpicos do Rio, os espectadores continuaram inventando manifestações criativas neste final de semana. Em praticamente todo o percurso da maratona feminina no último domingo (14), manifestantes seguraram cartazes contra o presidente interino Michel Temer (PMDB).
Foram 42 quilômetros percorridos com faixas e mensagens contra políticas de seu governo, principalmente das privatizações da Petrobras e precarização do Sistema Único de Saúde (SUS).
A maratona teve ao menos 14 pontos de manifestações contra Temer. Por ocorrer em vias públicas, a prova é uma das únicas modalidades em que qualquer pessoa consegue assistir de praticamente qualquer ponto da cidade.
No centro, entre a Avenida Rio Branco e a Praça Mauá, a Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) estendeu uma faixa de 20 metros dizendo: “Fora Temer! Fora Golpistas!” (sic). O cartaz apareceu em todas as transmissões dos jogos.
A queniana Jemima Sumgong venceu a maratona com o tempo de 2h24min04. Foi a primeira vitória do país na prova feminina, que começou a ser disputada em 1984.
Globo
Os links da Rede Globo de Televisão ainda são um dos alvos preferidos dos manifestantes. Neste final de semana, dois homens seguraram cartazes contra o presidente interino quando uma repórter mostrava o movimento da Vila Olímpica ao vivo.
No sábado (13) no Mineirão, em Belo Horizonte (MG), um segurança abordou um grupo de pessoas que segurava um cartaz contra a emissora durante a partida de futebol feminino entre a seleção brasileira e a Austrália. “Temer vocês podem erguer a vontade. Nada que tiver Globo. Não pode!”, disse.
Internacional
No sábado (13), a torcedora iraniana Darya Safai foi proibida de fazer um protesto no Maracanãzinho, durante a partida de vôlei entre Egito e Irã.
“Deixem as mulheres iranianas entrar nos estádios”, estava escrito na faixa que a torcedora segurava. No Irã, as mulheres são proibidas de entrar em eventos esportivos desde de 1979, ano da Revolução Islâmica.
Militares pediram para que Safai se retirasse do ginásio, mas ela se recusou e permaneceu na arquibancada. “Eles disseram que não queriam que a minha faixa aparecesse para as câmeras. Tentaram inclusive me pressionar com a presença de militares”, disse à rede britânica BBC.
Proibição
A argumentação do Comitê Olímpico Internacional (COI) é que os protestos são proibidos pela lei olímpica, aprovada para tratar de assuntos referentes à organização da Rio 2016.
Em seu artigo 28º, o texto diz que é proibido “portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens ofensivas, de caráter racista ou xenófobo ou que estimulem outras formas de discriminação”, além de “entoar xingamentos ou cânticos discriminatórios, racistas ou xenófobos”.
No entanto, outro parágrafo afirma que “é ressalvado o direito constitucional ao livre exercício de manifestação e à plena liberdade de expressão em defesa da dignidade da pessoa humana”. A lei não faz menção a protestos políticos.
Em 8 de agosto, dia seguinte em que um grupo de 12 torcedores que protestavam foram retirados pela Polícia Militar do estádio Mineirão, o juiz federal João Augusto Carneiro Araújo concedeu liminar liberando manifestações pacíficas durante o evento.
A decisão foi em resposta a um pedido do Ministério Público Federal contra a União, o Estado do Rio e o Comitê Organizador da Rio 2016, que recorreu da decisão e perdeu o primeiro recurso. Os protestos políticos continuam liberados.
Bombou
Nas redes sociais, o protesto de maior sucesso aconteceu no dia da partida de futebol entre Brasil e Dinamarca, em que um casal levou dois cartazes à Arena Fonte Nova, em Salvador.
Um dizia "FOrça Brasil, TE amo!". O outro, "RAça! o povo MERece". Quando dobrados, eles formavam a frase "Fora Temer" (sic). A ação alcançou mais de 580 mil visualizações no Facebook.
Edição: Camila Rodrigues da Silva
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