Foi dada a largada para as eleições municipais. Atrás de uma aparente diversidade de candidaturas pode estar uma competição desprovida de propostas que modifiquem profundamente a vida da cidade para melhor. Será a eleição de 2016 mero meio para definir a disputa de 2018? O Brasil de Fato MG conversou com Claudemir Francisco Alves, professor de filosofia e membro da coordenação do Núcleo de Estudos Sociopolíticos (NESP) da PUC Minas.
Brasil de Fato - Como a disputa política que transcorre no âmbito nacional vai interferir nas eleições municipais?
Claudemir Alves - O primeiro reflexo é o fato de que, ao que tudo indica, não teremos uma polarização imediata, no primeiro turno, entre PT e PSDB. É claro que essas forças ainda estão por trás de diversas candidaturas, mas há uma dispersão em 12 diferentes chapas, com diversos interesses particulares. A polarização pode reaparecer em um eventual segundo turno. É provável que, por exemplo, Délio Malheiros (PSD), que tem como vice Josué Valadão (PSB) e o apoio do prefeito Marcio Lacerda, penda para o lado do PSDB no segundo turno. Por outro lado, há outro agrupamento que é uma incógnita, composto por diversas candidaturas, como a de Eros Biondini (PROS) ou Paulo Lamac (Rede). Não sabemos se elas iriam para o lado do PSDB, do Aécio Neves, ou para o lado do governador Pimentel.
O mais relevante nesse contexto é a ausência de um projeto claro para a cidade.
E qual a interferência das eleições de 2018 nesse contexto?
Os candidatos olham para este ano pensando daqui a dois anos. Por exemplo, a movimentação do prefeito Lacerda, se separando do PSDB, defendendo uma candidatura supostamente técnica (como se fosse possível separar a técnica da política) com Paulo Brant, não conseguindo construir alianças para sustentar essa candidatura, e migrando para o Délio Malheiros (com várias indicações anteriores de que não apoiaria o Délio), mostra que o olhar do prefeito não está em 2016. Este ano representa para ele a chance de se legitimar como liderança para 2018, com uma possível candidatura a senador ou governador de Minas, contando com o apoio de Aécio Neves (PSDB).
Quanto ao senador Aécio, vencer em BH em 2016 é importante, após as derrotas que ele sofreu em 2014 no estado com Pimenta da Veiga, e ele próprio para presidente. Ele foi derrotado em Minas, mas não em Belo Horizonte, e pretende resgatar seu lugar de liderança política. Creio que ele não desistiu de voltar a concorrer à Presidência da República, apesar das denúncias de corrupção envolvendo seu nome.
Quanto ao PT, a candidatura de Reginaldo Lopes aparece muito mal colocada nas primeiras pesquisas de intenção de voto e não sabemos ao certo qual é seu projeto, mas há uma sensação de que 2016 não é o fim, mas o meio.
A esquerda sofreu um grande desgaste com a crise econômica e política e o processo de impeachment da presidenta Dilma. Tendem a diminuir de tamanho nestas eleições?
Temos que pensar, de maneira mais ampla, no desgaste da política, no sentido que as pessoas mais simples entendem a política: uma atividade exercida pelos políticos. Isso ficou expresso, por exemplo, nas manifestações de 2013 ou nas vaias ao presidente interino Temer. Há um desgaste da política instituída e tendemos a ver um aumento de votos brancos e nulos.
Agora, olhando o voto da esquerda, estamos ao fim desse momento histórico em que o PT foi um partido votado pelas massas. Mas há um eleitorado que continua a apoiar propostas menos conservadoras. Uma parcela pode ir para brancos e nulos, mas outra vai para outro lugar.
A partir destas eleições estão proibidas as doações empresarias. Ao mesmo tempo, há uma dispersão de candidaturas. O resultado das eleições está mais imprevisível?
Essa é a aposta que os próprios candidatos, inclusive os menores, têm feito. Como não há um candidato natural, abrem-se brechas para várias candidaturas. Por outro lado, a restrição ao financiamento das empresas é muito nova e não necessariamente as eleições ficarão mais transparentes. Será preciso aprimorar os meios para evitar o caixa dois, por exemplo.
Na minha avaliação, o que torna o resultado mais imprevisível é a descrença na política, que não deixa um “candidato natural”. O risco nesse quadro é termos um populista, que faça promessas vazias ou cative o eleitor por ser uma celebridade. Assim, uma pessoa já conhecida tende a se beneficiar.
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