O mundo perde 12 milhões de hectares de terra fértil por ano, equivalente a 33 mil hectares diários, de 30 a 35 vezes mais do que a proporção histórica. Estudos científicos calculam que a superfície terrestre em condições de seca passou de 10% para 15% no começo dos anos 1970, para mais de 30% no início de 2000, e que esses números continuarão aumentando.
Embora as secas ocorram em todas as partes, a África parece ser o continente mais prejudicado. Segundo a Convenção das Nações Unidas para a Luta Contra a Desertificação (UNCCD), dois terços das terras africanas são desertas ou áridas.O desafio é enorme para o segundo maior continente do planeta, com 1,2 bilhão de habitantes distribuídos em 54 países, que foi a região mais afetada em 2015-2016 pelo fenômeno climatológico El Niño.
“Em nível mundial, as secas são cada vez mais graves, mais frequentes, têm maiores duração e extensão espacial. Seu impacto é cada vez maior, e inclui o deslocamento humano em massa e a migração. A seca atual é evidência”, afirmou Daniel Tsegai, funcionário da UNCCD, na Conferência sobre a Seca na África, organizada por esse organismo e pelo governo da Namíbia, que termina hoje, em Windhoek, capital desse país.
A Conferência insiste na “resiliência diante da seca”. Tsegai destacou à IPS que “a resiliência diante da seca se define simplesmente como a capacidade de um país para sobreviver secas consecutivas e recuperar as condições prévias. Para começar, há quatro aspectos na seca, o meteorológico (clima), o hidrológico (águas superficiais), o agrícola (cultivo) e o socioeconômico (as consequências para os seres humanos)”.
Para Tsegai, os principais obstáculos para se conseguir a resiliência diante da seca na África são: a falta de uma adequada base de dados que inclua clima, recursos hídricos – superficiais e subterrâneos –, umidade do solo e incidências de secas passadas e seus impactos; a má coordenação entre os diversos setores e atores relevantes em um país e entre países de uma região; o baixo nível de capacidade para aplicar medidas de redução do risco de seca, especialmente em nível local; a falta de vontade política para implantar políticas nacionais contra a seca e o fato de que o elemento econômico da preparação para a seca não é bem investigado.
Quanto aos objetivos da UNCCD, Tsegai apontou que essa Convenção procura melhorar a produtividade da terra, restaurá-la ou preservá-la para estabelecer um uso mais eficiente da água e melhorar as condições de vida das populações afetadas pela seca e a desertificação, destacando algumas das estratégias que podem ser adotadas para aumentar a resiliência diante da seca.
Primeiro, uma mudança na maneira de lidar com o problema. Devemos mudar a forma de pensar sobre a seca, explicou. “A seca já não é mais um evento isolado e nem mesmo uma crise. Será mais frequente, grave e de maior duração. É um risco constante”, ressaltou.“Portanto, temos que deixar de ser reativos e ser proativos, passar do enfoque da gestão da crise para a gestão de riscos, do enfoque fragmentado para um mais coordenado e integrado. Tratar a seca como uma crise implica tratar os sintomas e não as causas”, alertou Tsegai, acrescentando que, “em resumo, o caminho a seguir é o desenvolvimento de uma política nacional contra a seca baseada nos princípios da redução do risco”.
Em segundo lugar é necessário fortalecer os sistemas de controle e de alerta das secas. Também é importante avaliar a vulnerabilidade do país diante do fenômeno e realizar perfis de risco: quem será afetado, em que áreas e quais serão os impactos.As medidas de redução do risco incluem o desenvolvimento de sistemas de irrigação sustentável para os cultivos e o gado, acompanhamento e medição do abastecimento de água e seus usos, reciclagem e reutilização das águas, possibilidade de cultivos mais tolerantes à seca e ampliação de seguros das colheitas.
Tsgai espera cinco resultados da Conferência de Windhoek:
1. Um documento de estratégia comum em nível de África para fortalecer a preparação do continente diante da seca, que possa ser aplicado e compartilhado entre os países;
2. Que leve ao desenvolvimento de políticas nacionais integradas destinadas à construção de sociedades mais resilientes à seca, baseadas no uso sustentável e na gestão dos recursos naturais (terra, floresta, biodiversidade, água, energia, etc.);
3. Espera-se que os países acordem um protocolo que seja vinculante e que será apresentado na Conferência Ministerial Africana sobre o ambiente, em 2017, para sua aprovação na Cúpula da União Africana (UA);
4. Os resultados da Conferência serão apresentados aos governantes da UA para obter seu apoio;
5. E também que a fortaleça as alianças e a cooperação Sul-Sul para apoiar o desenvolvimento de políticas nacionais e a melhora das já existentes sobre gestão da seca.
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