Começou neste sábado (3), a segunda edição da Virada Feminista, sediada no Centro Cultural da Juventude, na Vila Nova Cachoeirinha, zona norte de São Paulo (SP). Serão 24 horas de debates, oficinas, shows e intervenções, sob o tema “A Resistência que Transforma”, baseados em três eixos centrais: corpo, cidade e luta. O evento é organizado pela Sempreviva Organização Feminista (SOF) e pela Marcha Mundial das Mulheres.
A Virada Feminista tem o objetivo de gerar uma rede de colaboração entre mulheres, colocando em prática o conceito da auto organização e incentivando o envolvimento de mulheres de realidades distintas na produção cultural e artística. O evento, que teve sua primeira edição realizada em junho de 2015, se propõe a ser um espaço de resistência para as mulheres viverem e transformarem a cidade de São Paulo.
"No mundo em que vivemos, estar no espaço público pode significar, para as mulheres, possibilidades de serem deslegitimadas, desrespeitadas, assediadas e violentadas. Ao mesmo tempo, ocupar este espaço é uma das mais fortes demonstrações de resistência", destaca a descrição da Virada.
Nesta edição do evento, viabilizada através de uma campanha de financiamento coletivo, palavras de ordem anti golpe dividem a cena com a temática feminista. A importância da democracia para os direitos das mulheres está sendo reiterada pela organização do evento e pelas próprias artistas.
Segundo a ativista da Marcha Mundial das Mulheres e organizadora da Virada, Carla Vitória, o tema desta edição é uma resposta a isso. "A auto organização das mulheres pode ser uma resposta a esse período político muito duro que a gente tem vivido com o golpe. Somente atuando coletivamente e resistindo que nós vamos conseguir fazer algo diferente, e a Virada vem bem nesse momento", destacou.
Uma das novidades da segunda edição da Virada Feminista é a Feira de Economia Feminista Solidária, que, neste domingo, conta com a presença de agroecologistas do Vale do Ribeira para debates e exposição de produtos.
De acordo com Carla, a partir da primeira Virada muitas artistas se conheceram e começaram a produzir especificamente para a segunda edição do evento. "Há muito mais mulheres envolvidas na organização como um todo. Artistas que não se conheciam estão aqui fazendo um trabalho juntas. Mais importante do que a Virada é esse processo que ela causa", opinou. A primeira edição do evento contou com mais de 100 mulheres na sua organização e 55 atividades totalmente colaborativas em 24 horas.
Atividades
Entre as atividades realizadas na noite desse sábado (3), tiveram destaque o show do Grupo de Coco Semente Crioula, que trouxe elementos da música popular brasileira somados às letras feministas e politizadas; a peça-jogo Vulvar, uma performance interativa sobre a violência contra a mulher, em que o público se divide em grupos para ouvir fragmentos de narrativas e opinar sobre a continuação das cenas; e o Slam das Minas, batalha de poesia e Rap organizado por e para mulheres.
Para Mel Duarte, poeta e organizadora do Slam das Minas, os Slams têm aberto muitas portas para as mulheres poetas e rappers, que estão começando a ter um espaço para se colocarem. "É uma cena difícil para as mulheres, eu sinto que os saraus são mais abertos para o feminino do que a cena do Rap. Então é bom que a gente ande junta, tem que fazer esse movimento para as minas participarem mais", afirma.
O Slam das Minas foi criado em março deste ano, e segundo suas fundadoras, tem o objetivo de "dar voz para as minas, as monas e as manas. Mostrando como somos flores e também monstras". Para Luz Ribeiro, uma das poetas que organizam os saraus itinerantes, as mulheres estão tendo mais proximidade com a cena dos Slams por conta do projeto. "Nós fomos até as quebradas das minas e percebemos que a nossa mensagem chega mais diretamente para as mulheres, e elas têm participado mais, ganhando força", conta.
Paralelamente às atividades artísticas, acontecia no espaço Arena o debate "Autonomia e Liberdade - O Corpo das mulheres na resistência feminista", que reuniu mulheres de diferentes contextos sociais, idades e experiências no movimento feminista em uma roda de conversa sobre o tema.
Crítica
Outra atividade, organizada de forma independente, foi uma intervenção crítica à falta de programação lésbica no evento. Uma carta pública divulgada no Facebook pelas organizadoras da atividade reiterou a importância da luta por visibilidade e representatividade do movimento lésbico, além de espaços de discussão e facilitação para mães que levarem suas crianças para a Virada.
"Poucos dias após ser divulgada a programação da Virada Feminista, no final de agosto, muitas lésbicas iniciaram um processo de questionamento sobre a falta completa de atividades com temática lésbica no encontro. Surgiram então questionamentos na página do evento no Facebook da Virada, vinda de mães e de lésbicas. Conhecemos lésbicas artistas, cantoras, poetas, escritoras, musicistas, jornalistas, dançarinas, programadoras e, principalmente, mulheres que lutam, resistem todos os dias, e ativistas que sempre estão dispostas para oferecer e compartilhar atividades", declara um trecho da carta.
O movimento autônomo de mulheres lésbicas denunciou também o fato de suas intervenções, em formato de "Lambe-lambes" nos muros do Centro Cultural da Juventude, terem sido arrancadas durante a madrugada do evento. Segundo Carla Vitória, a Virada Feminista foi construída de maneira diversa e as pautas reclamadas estão incluídas na temática do evento como um todo. "A organização tem mulheres lésbicas e mães, e também mulheres de todas as idades. Basta andar pelo evento e você verá que tem sim arte lésbica", respondeu.
A programação da Virada Feminista continua até as 18h deste domingo, com uma mostra de cinema, oficinas de zines, internet livre, graffiti e dança. O encerramento do evento contará com o show da rapper MC Soffia, que já participou inclusive da abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016, a partir das 17h30.
Edição: José Eduardo Bernardes
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