O Brasil de Fato MG entrevistou militantes do Levante Popular da Juventude. Julia Louzada é estudante de psicologia em Belo Horizonte e atua na frente estudantil da organização. Em outra frente de atuação, Mara Farias, organiza os jovens de Felipe Camarão, uma comunidade periférica de Natal, no Rio Grande do Norte. As duas compõem o movimento desde seu surgimento, em 2012.
Na conversa, Julia e Mara apontam aspectos do perfil da juventude brasileira à partir das experiências com o trabalho de base desenvolvido pelo Levante. Também citam os principais temas políticos que impactam as e os jovens e apontam elementos para a construção de um Programa Popular para a Juventude
Brasil de Fato: Na sua opinião, quais são as peculiaridades do jovem brasileiro?
Mara Farias: A juventude brasileira foi protagonista de muitas transformações populares. Os jovens são criativos, alegres, dispostos a lutar e se indignar com os problemas locais e estruturais. Mas são também marcados pelo desrespeito à sua diversidade, pela dificuldade de acessar as universidades e pela violência direcionada da polícia. Essa realidade gera no jovem brasileiro, um incrível capacidade de enxergar as contradições geradoras de tanta desigualdade.
Qual a importância e a necessidade de um movimento que se dedica especificamente a pautas da juventude?
Júlia Louzada: Hoje no Brasil vivem 51 milhões de jovens, o maior número da história do nosso país, e temos demandas muito específicas e concretas. A juventude negra está sendo exterminada, estamos vivendo vários retrocessos no campo da educação, não temos um projeto de vida pra juventude no campo e o avanço do conservadorismo tem matado as pessoas LGBTs. Entendemos o Levante Popular da Juventude como a ferramenta que quer organizar todas essas e esses jovens que se convenceram que só a luta muda a vida!
O que, na sua opinião, difere o Levante de outros movimentos de juventude?
MF: O Levante carrega em seu nascimento e amadurecimento o exemplo de quem nos criou, os movimentos populares do campo. Conseguimos traduzir o método de trabalho dessas experiências para o trabalho de base com a juventude que não tem perspectivas de vida. Nosso movimento, tem dado conta da tarefa que não é fácil, construir uma identidade nacional e unitária, mas que evidencia toda a nossa diversidade
Quais pautas que se referem a juventude estão em debate hoje?
JL: Redução da maioridade e escola sem partido são duas pautas que tem atacado os direitos da juventude, mas além dessas estão em debate temas como o extermínio da juventude negra, acesso à educação, trabalho digno para a juventude, entre outros.
O 3º Acampamento Nacional do Levante pretende formular um Programa Popular pra Juventude. Por que optaram por construí-lo neste momento?
MF: A juventude organizada está indo muito bem às ruas, se posicionando contra os retrocessos e garantia de direitos concretos, mas não é só isso que contribui na organização das ideias políticas, temos que mostrar ao jovem um programa, uma proposta que solucione os problemas que estamos enfrentando, é com esse propósito que construímos nosso 3º Acampa.
Quais os objetivos desse Programa? E sobre o que ele versa?
JL: A experiência apontou saídas e propostas de superação dos problemas da juventude, mesmo que as vezes não tenhamos nos dado conta de que estávamos gestando um programa popular para a vida da juventude brasileira. Chegamos a algumas sínteses, que vamos debater com profundidade nos dias do acampamento.
Quais as perdas para a juventude diante dessa conjuntura de golpe no Brasil?
MF: A juventude tem muito a temer com o golpe. Crescemos sob um país que conseguiu garantir programas sociais voltados para juventude, mas com esse cenário já conseguimos sentir os retrocessos e eles estão atacando diretamente os jovens.
JL: Sabemos que daqui pra frente as coisas estarão mais difíceis, que a juventude vai sentir na pele, toda essa retirada de direitos, e o ascensão do conservadorismo. No próximo período, as lutas vão ser mais intensas, precisaremos de força e coragem.
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