Enquanto os discursos na Câmara Federal, em Brasília, sinalizavam a inevitável cassação de Eduardo Cunha (PMDB), as ruas de Curitiba recebiam cerca de mil manifestantes em ato pela saída do deputado peemedebista. Nas palavras de ordem, nas falas no megafone, nos cartazes e nos jograis (quando uma pessoa fala e os manifestantes repetem), o “Fora, Cunha” veio acompanhado da denúncia do papel do deputado como articulador do golpe e da necessidade de eleições diretas para a presidência.
A manifestação começou às 18h desta segunda-feira (12), na Praça 19 de Dezembro, seguiu pela Rua Inácio Lustosa, atravessou o Largo da Ordem e terminou na Boca Maldita, por volta das 20h30.
Para Larissa Rahmeier, do movimento Rua Juventude Anticapitalista e da União Nacional dos Estudantes (UNE), a cassação do mandato de Cunha significa uma grande vitória, sobretudo para os movimentos feministas, protagonistas de grandes manifestações contra o deputado em 2015. “Ele é também o principal orquestrador do golpe que a gente vive no país. A cassação dele vai fortalecer a luta contra o governo Temer. Nós vamos comemorar com muita alegria a queda do Cunha”.
Assim como nos atos anteriores, a juventude era maioria entre os manifestantes. Mas estavam ali também professores, sindicalistas e militantes de longa data, como o argentino Carlos Segundo Lobo, integrante do grupo Tortura Nunca Mais, que se exilou em Curitiba durante a violenta ditadura militar argentina.
Prevendo a cassação do deputado, Lobo ponderou a convicção dos votos favoráveis: "Cunha vai ser cassado, mas não por convencimento dos outros deputados, pois ele deve ter muitos adeptos escondidos. Nem será pela pressão popular, ou já era pra ter acontecido no ano passado”. Na sua avaliação, Cunha perdeu a importância e está sendo descartado: “Ele precisava cumprir um papel e cumpriu, fez o dever de casa direitinho, então pode sair. Mas ele pode levar muita gente com ele. Estou rogando por uma delação premiada para ver quem sobra”, ironiza.
Próximos atos
"Esse número de hoje não quer dizer nada. Para uma segunda-feira, em Curitiba, é uma vitória. Achamos que é bastante gente", garante Thiago Régis, integrante da articulação CWB Contra Temer, organizadora dos atos, referindo-se a menor participação no ato, em comparação com os anteriores.
Para uma das participantes da manifestação, Berenice Daher, os curitibanos “são mais engajados no facebook do que na realidade". Já no final do ato, na Boca Maldita, ela aponta para o horizonte da Rua XV e recorda: "No movimento das Diretas tinha gente daqui até aquele prédio lá”.
Apesar de desanimada com a gravidade do cenário atual e com a pouca adesão da população aos atos, ela reforça a necessidade de estar na rua. "Eu participo quando posso e quando sinto que é bom participar, porque acredito na mudança. Estar junto é muito bom, a gente sente a força. Eu vi a filha de um amigo meu e adorei, ela me abraçou. E passa essa força da resistência", diz Berenice Daher, que trabalha como coordenadora de eventos.
A expectativa do CWB Contra Temer é de que a manifestação de domingo (18) seja maior, por tratar-se de uma mobilização nacional, divulgada com maior antecedência. A organização planeja a realização de debates e apresentações culturais antes da manifestação. Neste dia também será debatido o novo calendário de mobilizações. O ato está marcado para 14h, na Praça 19 de Dezembro.
As centrais sindicais e movimentos populares ligados às Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo preparam uma paralisação nacional no dia 22 de setembro, quinta-feira. "Será um dia preparatório e de construção de uma greve geral. Para além de atos nos centros das cidades, vão acontecer ações e intervenções nos locais de trabalho", explica Pedro Carrano, jornalista e integrante da Frente Brasil Popular do Paraná.
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