Música Independente

Destaque na cena independente do país, Jaloo conquista o público curitibano

Em entrevista ao Brasil de Fato, o artista fala sobre sua carreira na internet, questões de gênero e "Fora, Temer"

Curitiba (PR |
Jaloo se apresentou neste domingo (18) em Curitiba, na festa Misture-C, que comemorou os dez anos do Sláinte Irish Pub
Jaloo se apresentou neste domingo (18) em Curitiba, na festa Misture-C, que comemorou os dez anos do Sláinte Irish Pub - André Seiti/Divulgação

Cabelo cumprido, carimbó, roupas coloridas, tecnobrega, funk, maquiagem e eletrônico. Estes são alguns elementos que fizeram Jaime Melo de Souza Jr. quebrar e questionar padrões musicais e comportamentais em cima dos mais diversos palcos do Brasil, ganhando destaque como artista. Mais conhecido como Jaloo, seus traços indígenas denunciam sua origem: nasceu em Castanhal, região norte do Pará, e há quatro anos vem conquistando o cenário da música independente como cantor, DJ e produtor, em São Paulo.   

No último domingo (18), Jaloo esteve em Curitiba e encantou o público durante show realizado na festa Misturi-C, que comemorou os dez anos do Sláinte Irish Pub. Em entrevista ao Brasil de Fato, o artista falou sobre como a internet ajudou a impulsionar seu trabalho, sobre manifestações políticas durante algumas de suas apresentações recentes e sobre questões de gênero.

Apesar de saber da importância e querer contribuir no debate sobre esses temas, ele questiona: “Acho ruim seu estilo e sua maneira de vida estar a frente de seu trabalho, da sua música e da emoção que você quer passar para as pessoas”. 

Foto: Neto Rickli

Internet 

Num cenário nacional em que a indústria fonográfica privilegia a música sertaneja no mercado, Jaloo provou que a internet ainda pode ser um instrumento que permite democratizar o acesso e a participação de músicos independentes. A intimidade com o uso de softwares alavancou o trabalho do artista, que começou a fazer música por conta própria há seis anos. No início, eram covers, remixes e mashups de diferentes hits de cantores nacionais e internacionais. A lista de celebridades é ampla e inclui Gal Costa e Caetano Veloso até Amy Winehouse, Britney Spears, Rihanna e Miley Cyrus. 

“A internet está aí e nos traz muitas chances de ser visto, ouvido, apreciado e chamado para tocar em outros lugares. Foi assim também que comecei a ir para a capital do Pará. Depois pintou o convite para eu ir para São Paulo ser produtor musical”, conta Jaloo.

No final de 2015, lançou seu primeiro álbum autoral, #1, com doze músicas que misturam ritmos regionais inspirados nas batidas do carimbó e do tecnobrega, tipicamente paraenses, misturados com pop, música eletrônica, indie, entre outros sons. Nesse sentido, ele é categórico: “Devo tudo à internet”. 

“Fora, Temer”

“Sou virginiano, sou muito sincero”, confessa. “Se as coisas estão boas deixo claro e se não estão deixo também”. Isso vale para sua performance, para o público e também para questões mais polêmicas. Jaloo, que chegou a revelar sua insatisfação com o atual governo de Michel Temer (PMDB) nos palcos, prefere não se manifestar de forma mais contundente em relação à política para a imprensa.

“Respeito muito os artistas que fazem isso, mas eu prefiro me manifestar, falar sobre meus anseios, as minhas insatisfações, na minha arte, nas minhas músicas. E quem ouve o meu disco, sabe que as coisas estão lá impressas”, defende. 

Apesar disso, ele preza pela liberdade de expressão e conta que gosta de brincar com a plateia durante os shows, principalmente em “lugares em que não se pode falar certas coisas”. “Pego o microfone e digo: ‘Primeiramente…’, e então a público fala ‘Fora,Temer’. Isso já deixa muito claro a minha insatisfação, sem colocar ela a frente do meu trabalho”, afirma. 

"Queer"

Até que ponto a mídia se utiliza da questão de gênero para promover um debate contra preconceitos na sociedade ou apenas para ganhar repercussão, transformando o tema em pauta sensacionalista? Essa tem sido uma das críticas levantadas por artistas enquadrados dentro da música “queer”, aquela feita por pessoas LGBT, como Jaloo, Rico Dalasam, a banda As Bahias e a Cozinha Mineira, entre outras. 

Enquanto gays e mulheres transexuais tem estado no ranking dos “top queers”, homens transexuais e lésbicas tem ficado em segundo plano. “Colocaram certos artistas nesse nicho de quem quebra padrões de gênero e esqueceram outros”, questiona Jaloo. Ele, que tem dado sua contribuição no debate, agora defende que é preciso abrir espaço para que outras e outros artistas falem sobre o tema e sobre seus respectivos trabalho. 

Foto: Neto Rickli

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