Na quinta-feira (22 de setembro) trabalhadoras e trabalhadores de todo o País cruzaram os braços. Foi um dia nacional de paralisação da classe trabalhadora em protesto contra a ameaça do governo Temer de reduzir os direitos trabalhistas. Durante as últimas semanas, diversos sindicatos vinculados às centrais sindicais do País - Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), Força Sindical, União Geral de Trabalhadores (UGT), Intersindical, NCST e CSP-Conlutas – estiveram mobilizando suas bases para a paralisação da quinta-feira. Movimentos populares, partidos e organizações não-governamentais organizados na Frente Brasil Popular e na Frente Povo Sem Medo se somaram às mobilizações.
Em Pernambuco, o dia de luta começou com trancamentos de vias e piquetes em frente às fábricas. Algumas categorias também cruzaram os braços nos postos de trabalho e realizaram assembleias como os servidores públicos federais, professores e bancários de todo o estado. Durante a tarde, as centrais realizaram ato em frente a Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe).
Segundo o presidente estadual da Central Única de Trabalhadores (CUT-PE), Carlos Veras, a paralisação do dia 22 é uma forma de responder às seguidas ameaças que o governo de Michel Temer tem feito aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. "Desde que chegou ao poder, ainda interinamente, Michel Temer colocou em pauta retrocessos para nós trabalhadores, como a proposta de reforma da Previdência, querendo aumentar para 65 anos a idade de aposentadoria. Está em tramitação também o Projeto de Lei 241, que congela os salários de servidores por 20 anos!", queixa-se o líder sindical.
Outra proposta em trâmite que visa flexibilizar as leis trabalhistas é a de "Negociar o Legislado", que permitiria que os direitos já garantidos por lei possam ser objeto de negociação entre patrões e trabalhadores. "Isso só favorece o patrão. Esse tipo de negociação só vai atingir o elo mais fraco, que é o lado do trabalhador. Se essa lei for aprovada, possibilitará o aumento da jornada de trabalho e acabaria com os planos de cargos e carreira, por exemplo. Não aceitamos esse retrocesso. Direito não se reduz, se amplia", afirma Veras.
A primeira categoria a entrar em greve nacionalmente na gestão de Michel Temer foi a dos bancários. Os trabalhadores e trabalhadoras cruzaram os braços no dia 6 de setembro e permanecem parados em todo o Brasil, no que já é a maior greve da história da categoria. Entre as reivindicações dos bancários estão a reposição da inflação (9,62%) acrescida de aumento real de 5%, fim das demissões injustificadas e condições de trabalho que previnam doenças. Mas os banqueiros, que só nos seis primeiros meses de 2016 lucraram R$ 26 bilhões e 630 milhões, não aceitaram a proposta dos trabalhadores e só oferecem 7% de reajuste salarial.
"A greve permanece forte. Queremos mais concursos, mais emprego nos bancos públicos. E queremos mais contratações e mais estabilidade nos bancos privados, onde os trabalhadores sofrem muitas demissões sem justificativa. A Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) precisa assumir o compromisso de acabar com essas demissões", afirma a presidenta do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Suzineide Medeiros. Ela denuncia também que boa parte da categoria sofre com doenças físicas e psicológicas que são fruto das más condições de trabalho nos bancos. "É muito comum nossos colegas sofrerem com síndrome do pânico e outros problemas de saúde mental relacionados ao stress", afirma. Segundo Medeiros, os bancos com maiores índices de funcionários nessas condições são, na ordem: Santander, Bradesco e Itaú. Em todo o Brasil, 56% das agências bancárias estão com as portas fechadas. Em Pernambuco, o índice de adesão é bem superior: 90%. No interior, a adesão é absoluta.
GREVE GERAL – Este é o terceiro dia de paralisação nacional da classe trabalhadora em 2016. Segundo as lideranças sindicais, estes momentos são importantes etapas da construção da Greve Geral. "As paralisações e a greve são as ferramentas mais fortes para enfrentar esses ataques aos nossos direitos. E não são mobilizações por pautas de uma categoria específica, mas em defesa de todos os trabalhadores. É luta em defesa da educação, contra a privatização das universidades públicas, contra a redução nas cotas, contra o corte das bolsas, contra os cortes no PROUNI, contra o fim do Ciência Sem Fronteiras. É contra o desmonte do Sistema Único de Saúde (SUS) ", pontua Carlos Veras.
A bancária Suzineide endossa. "Precisamos nos reconhecer enquanto classe trabalhadora, como conjunto de categorias. Não podemos lutar só pelas nossas próprias pautas". Segundo ela, tanto as categorias precisam ser solidárias às lutas umas das ouras quanto precisam mostrar a importância coletiva das pautas de cada categoria.
"Por isso", diz o presidente da CUT Pernambuco, "seguiremos mobilizados. Historicamente sempre foi assim: só com luta e com paralisação conseguimos avançar nas nossas conquistas. Se não lutarmos teremos retrocessos dos direitos conquistados nas últimas décadas. Precisamos ir para as ruas. Essa quinta-feira foi mais um dia de 'esquenta', de preparação rumo à Greve Geral".
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