Um estudo da Universidade de Zurique apontou o desemprego como a causa de um em cada cinco suicídios no mundo. O estudo analisou dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a mortalidade em 63 países entre os anos de 2000 e 2001. Descobriu-se que aproximadamente 45 mil suicídios estavam relacionados ao desemprego.
Outros dados da OMS confirmaram que o número de suicídios vem crescendo mundialmente. O suicídio já se encontra entre as dez principais causas de morte no mundo e, entre os jovens, desponta entre as três causas principais. Será então que vivemos todos numa sociedade suicida?
O capitalismo não inventou o suicídio, mas é visível o enorme potencial que possui para lançar os indivíduos à beira do abismo.
Não é difícil entender o porquê. Afinal, todos nós que vivemos do nosso trabalho estamos cotidianamente submetidos à exploração, às opressões de gênero, raça, etnia e sexualidade. Vivendo em condições de enorme desigualdade, "para a glória e bem-aventurança dos nossos patrões", somos presas fáceis da depressão, do desespero e da descrença.
Para piorar esse quadro, o momento que o país atravessa não é dos melhores. O conservadorismo cresce vertiginosamente e produz aberrações como as “viúvas da ditadura”, vestidas de verde e amarelo nas principais avenidas do país. Na mesma onda, os neofascistas saem do armário, junto com monarquistas reivindicando a volta do Império, do fraque e da cartola.
No momento em que assistimos à sangria das políticas públicas, à retirada de direitos trabalhistas e à escalada do conservadorismo, não é de admirar que o suicídio apareça como solução para tanta gente.
No entanto, em momentos difíceis como esse, precisamos resistir. Porque se é verdade que a sociedade capitalista é uma sociedade suicida, é porque ela produz os seus coveiros. Nós, que somos a maioria, precisamos resistir justamente para que estejamos de pé no dia em que essa forma desumana de vida der seu último suspiro, e para lançarmos sobre ela a derradeira pá de cal.
*Filipe Boechat é doutor em Psicologia pela UFRJ
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