Mais de 1.000 professores universitários dos EUA e do Canadá assinaram um manifesto, lançado nesta terça-feira (27), em repúdio a um “banco de dados” que reúne informações de membros da comunidade acadêmica da América do Norte que se manifestam a favor da causa palestina.
No texto, os docentes afirmam rejeitar “as táticas macartistas usadas pelo Canary Mission”, nome dado ao site que contém os dados dos ativistas. “Instamos nossos colegas companheiros de admissão, também administradores de universidades, potenciais empregadores e todos os outros, a se unirem a nós... se manifestando contra esse bullying e tentativas de parar o engajamento cívico e a liberdade de expressão”, dizem os professores.
‘Bando de dados’
O Canary Mission funciona como um banco de dados que traz informações sobre professores, estudantes e organizações que criticam, de alguma forma, o governo israelense, e apoiam a luta do povo palestino.
Criada de forma anônima, a plataforma afirma, em sua apresentação, que “foi criada para documentar pessoas e grupos que estão promovendo ódio dos EUA, Israel e de judeus em campos universitários na América do Norte”.
São divulgados nomes, fotos, as “conexões” de cada indivíduo com outros ativistas e entidades e “afirmações infames” feitas contra o governo israelense. São também monitoradas as redes sociais dos militantes, expondo, por exemplo, quais tuítes e retuítes foram feitos por cada pessoa no Twitter.
“Cada indivíduo e organização tem sido cuidadosamente pesquisado e documentado”, acrescenta o site, que pede doações ou ajuda para expor “atividades antissemitas” em campi universitários.
Riscos aos ativistas
No manifesto, os professores alertam para as possíveis consequências de divulgar informações pessoais de ativistas.
“Ao publicizar nomes, contas de mídia social, histórico de emprego e outras informações pessoais sobre ativistas estudantes, Canary Mission mobiliza uma pequena comunidade de defensores para agredir e ameaçar esses ativistas”.
Dentre os signatários estão Peter Beinart, jornalista e professor da Universidade da Cidade de Nova York; a historiadora Hasia Diner, professora da Universidade de Nova York; e John Mearsheimer, professor de ciência política da Universidade de Chicago.
A professora da Universidade do Havaí Cynthia Franklin, que ajudou a elaborar o manifesto, defendeu, em entrevista ao site Eletronic Intifada, que os professores se manifestem “fortemente” contra iniciativas como o Canary MIssion. “Eu realmente acho que é necessário na faculdade se manifestar fortemente em apoio aos estudantes e fazer isso de um jeito visível, especialmente aqueles de nós com estabilidade”, disse.
Ao mesmo portal, Sumaya Awad, recém-graduada da Williams College, afirmou que “sem uma luta coletiva contra esse site, e outras listas que existem que continuam a atingir pessoas, essa agressão e essa intimidação vão apenas continuar”.
Awad, que não possui cidadania norte-americana, diz que a presença de seu nome na lista pode trazer impactos negativos, tanto na busca por um visto como nem sua trajetória estudantil. Uma busca pelo nome dela na internet leva, em primeiro lugar, ao Canary Mission.
O professor David Lloyd, da Universidade da California em Riverside, afirmou ao Eletronic Intifada que estudantes listados pelo site já foram alvos de ameaças por parte de usuários anônimos. Segundo ele, a situação que mais preocupa é a das mulheres. “Para estudantes mulheres em particular, esse é um lugar ameaçador para se estar”, declarou.
O advogado Rahul Saksena, que atua a favor do grupo Palestina Legal, disse ao site norte-americano Forward que responsáveis pelo Canary Mission já contataram os empregadores de algumas pessoas cujo perfil está no site. O efeito, de acordo com ele, tem sido o de assustar os jovens, especialmente estudantes que vêm de famílias mais pobres e encontram dificuldade para ingressar no mercado de trabalho. “É uma tática de supressão assustadora”, declarou.
Forward afirma ter tentado entrar em contato com o Canary Mission, mas não obteve resposta.
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