As eleições municipais deste ano ocorrem em meio a um avanço das forças conservadoras e reacionárias não visto desde a ditadura militar. Nossa recente e frágil democracia foi golpeada em nome de um projeto econômico e político profundamente antipopular. Do ponto de vista econômico, tem por objetivo acabar com as redes de proteção social do Estado para estimular a reprodução predatória do capital. Politicamente, pretende-se sufocar o campo democrático e de esquerda deste país e, assim, permitir às elites caminho livre para fazer do Brasil território da concentração da riqueza e da democratização do sofrimento.
Diante de situação tão difícil e complexa, a esquerda teve que se preparar também para disputar o pleito eleitoral. Então, o desafio posto era como conciliar esse momento de eleição com a resistência ao golpe e, mais importante, a preparação das lutas futuras.
Nesse sentido, o PSOL, que defendeu a democracia e enfrentou com coragem e determinação os golpistas, passou a se organizar. A vinda da companheira Luiza Erundina abriu uma possibilidade e tanto. Erundina tem um histórico comprometido com as lutas sociais, desde a luta pela reforma agrária no interior da Paraíba, o enfrentamento à ditadura militar, na construção do PT. Sua gestão à frente da prefeitura de São Paulo é lembrada pela atuação lado a lado dos movimentos sociais e por um secretariado que contou com Paulo Freire, Paul Singer, Lúcio Gregori, Marilena Chauí e tantos outros nomes da nossa esquerda.
Enfrentando toda sorte de adversidades e preconceitos, a gestão foi um sucesso. O ensino público municipal foi valorizado como nunca. Casas populares foram construídas com o povo através dos mutirões. A tarifa zero apareceu como uma proposta que veio do Executivo e ainda hoje anima as lutas da juventude. Não à toa, quando a Câmara dos Vereadores tentou cassar o seu mandato, isso foi impedido com o povo nas ruas. E isso só aconteceu por que havia um governo efetivamente popular com participação popular. É fundamental enfatizar esse aspecto, pois ele é único caminho para evitar a sedução do fisiologismo e as alianças que nos distanciam das necessidades do povo.
Pois bem. Essa trajetória e a vinda de Erundina para o PSOL criou a oportunidade de estabelecer o casamento do aprendizado e da memória de grandes experiências ao lado de uma postura atual coerente com a defesa da democracia e dos direitos sociais. Esse caldo empolgou o PSOL, o movimento Raíz Cidadanista, a PartidA Feminista e dezenas e dezenas de ativistas a lançar o nome da Luiza Erundina à prefeitura de São Paulo.
Nossa campanha tem a orientação de estimular a consciência crítica nos vários bairros da cidade, a necessidade da participação popular, a criação de um programa de governo que seja o tempo todo feito e refeito a partir do que dizem as pessoas. O que estamos fazendo é uma verdadeira campanha-movimento para disputar as ideias e a cidade de São Paulo, fazendo da nossa cidade uma grande fronteira da resistência democrática e da luta por direitos.
O caldo desse movimento está grosso e bem temperado. Nossa campanha, com Luiza Erundina e Ivan Valente, vem cumprindo o papel de somar forças para a esquerda. Mesmo enfrentando as consequências perversas da reforma política de Eduardo Cunha, que quase nos tirou dos debates de televisão e nos deixou dez segundos do tempo de TV, a campanha segue com vigor e a chapa pode eleger dois ou mesmo três vereadores. O que seria muito importante para as lutas que certamente virão. A esquerda tem o dever de somar forças nessas eleições. Abrir mão disso seria uma irresponsabilidade que ajudaria tão somente aos golpistas.
Nesse sentido, somos obrigados a fazer uma crítica pública ao jornal Brasil de Fato. Nessa semana, o jornal apresentou em São Paulo um especial das eleições que simplesmente ignora a existência da campanha da Erundina. Do ponto de vista jornalístico, isso é um completo absurdo, pois não é possível fingir que não existe uma candidatura com 5% das intenções de voto. Politicamente, algo inaceitável, visto que o Brasil de Fato, por ser um jornal de esquerda, não pode sabotar uma candidatura de esquerda. A situação é ainda mais grave e constrangedora quando vemos que Luiza Erundina é a principal defensora na Câmara dos Deputados da democratização dos meios de comunicação e uma incansável lutadora da reforma agrária. Entendemos ser legítimo que o jornal opte por outra candidatura do campo democrático que não a nossa. Daí reduzir a campanha de Erundina ao anonimato é algo que somente esperamos de quem não está do mesmo lado da trincheira. Esses equívocos, que só servem para dividir a esquerda, não podem acontecer e temos certeza de que o erro não se repetirá, afinal os desafios que nos aguardam só podem ser enfrentados com a nossa unidade.
A nossa luta não começa e nem termina no próximo dia 2 de outubro. Esperamos e batalhamos todos esses dias para o fortalecimento da esquerda. O que nos move nessa empreitada é a disposição militante e a certeza de que não podemos abrir mão dos nossos sonhos de justiça e igualdade. Já enfrentamos tempos mais sombrios que este. Não arrefecemos. Nosso povo, vibrante e lutador, saberá assumir as rédeas das lutas e da história. Independente de quem vença as eleições no próximo domingo, temos uma certeza: a rua será o palco da transformação que sonhamos!
Marcelo Aguirre, pela Coordenação da Campanha Luiza Erundina e Ivan Valente
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