Nas periferias de Belém, a Prefeitura tem alugado residências comuns e tentado adaptá-las como um espaço de educação infantil, segundo denúncia do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública (Sintepp). "A gente tem chamado [as casas] de depósitos de crianças, infelizmente", afirmou Josyanne Kuennel, integrante da executiva da entidade.
Salas quentes, ventiladores quebrados, água da torneira e quartos feitos de sala de aula. Essas são algumas das condições em que se encontram as escolas da capital paraense. Entre elas, estão a Unidade Pedagógica (UP) Parque Bolonha, situada no bairro de Águas Lindas, e a Unidade Educacional Infantil (UEI) Aurá, localizadas no Aurá.
UP Parque Bolonha
“A turma da educação infantil está numa sala de três metros quadrados, onde ficam entre 15 a 20 crianças. Nessa sala, funcionava o quarto de dormir, então tem uma pia e um vaso nesse espaço. Eles [alunos] não têm quadro, só um ventilador de teto. O vento é fraco, a cobertura é de telha de Brasilit, então a temperatura fica muito quente mesmo”, descreve Humberto Pereira, 30, professor da UP Parque Bolonha, sobre o espaço onde leciona.
A escola entrou em reforma em abril deste ano, e parte das turmas foram remanejas, criando assim um anexo da UP. Segundo Pereira, a solução proposta pela Prefeitura Municipal de Belém foi alugar um imóvel cuja estrutura conta com vários apartamentos do tipo kitnet, onde não se tem um ambiente educacional favorável aos alunos.
O professor ainda relata que, como o teto é baixo e as telhas são de fibrocimento, as salas de aula viram uma estufa de tão quente, causando dores de cabeça e de garganta em estudantes e professores. Ele diz ainda que as crianças reclamam que a água tem gosto de sabão --ele acredita que isso se deve ao fato de a água do bebedouro vir da torneira.
Telhas de fibrocimento/Lilian Campelo
“A gente não tem as mínimas condições de desenvolver um trabalho de qualidade. À tarde, a escola está extremamente quente, a sala só tem um ventilador, e as crianças têm que sentar em baixo do ventilador. Como são muitas crianças, elas ficam amontoadas e a gente não tem como caminhar, fazer um acompanhamento pedagógico”, desabafa.
Uma das moradoras da região, Eliane Barbosa, tem uma filha de seis anos que estuda no anexo e se queixa para a mãe de dores de cabeça. “Eles não se desenvolvem dentro da sala de aula por causa do calor, e, às vezes, o professor fica irritado", lamenta.
No imóvel alugado, ficam dez turmas de educação infantil e dez do ensino fundamental (1ª e 2 ª ano), sendo cinco turmas no turno da manhã e cinco no da tarde.
Sala de aula UP Bolonha/ Lilian Campelo
Pereira afirmou que várias medidas já foram tomadas para que a situação mudasse, desde reuniões com os pais e a direção da escola até abaixo-assinados e relatórios apresentados junto à Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Semec), mas a resposta dada pela secretaria é de que não podem fazer reformas em prédios que são alugados.
UEI Aurá
Na Unidade Educacional Infantil (UEI) Aurá, a situação não difere muito. A escola funciona em uma casa construída para um ambiente familiar. Os vasos do banheiro são inadequados para as 25 crianças do maternal I e 24 do maternal II.
“Temos outros espaços na mesma área bem piores. Se você andar em algumas unidades de educação infantil no centro, você até encontra espaços mais adequados. Agora, nos espaços mais periféricos, não", compara Kuennel.
Por meio da assessoria jurídica do Sintepp, uma audiência com o Ministério Público do Pará foi agendada para 6 de outubro para verificar a situação da UP Parque Bolonha.
O Brasil de Fato entrou em contato com a Semec, mas até a publicação da matéria não recebemos resposta sobre caso da UPI Aurá e da UP Parque Bolonha.
Edição: Camila Rodrigues da Silva
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