Ô, gente branca. Para de escrever coisa de preto com tua língua de branco. Onde é que tu tá com a cabeça!? Se achando o opinudo. Os preto já sabe das coisa de preto. Então se tu fala dos preto com tua língua de branco, tu tá falano é cos branco. E aí se tu fala de coisa de preto pros branco, quando é que preto vai falar coisa de preto? Assim também que piora seno tu branco e teno tu pinto, meter teu pinto de branco nos assunto de mulher. Pior ainda se for nos assunto de mulher preta com tua fala de branco que nem sabe dançar nas festa e fica paradinho olhando tudo com teu cabedal (essa palavra de branco, preto diz que tu tá é botando banca) de intelectual. Se tu que é macho e se acha no direito de falar das mulher, inda mais das mulher preta pros teus contemporâneo branco, me diz quando é que a mulher, inda mais se ela for preta, vai chegar na tua turma e mandar tu calar a boca e ouvir, só ouvir o que a mulher, inda mais dessa da preta tem pra dizer. Quando? Se a gente quer a gente faz a gente sabe e a gente mostra. Olha aí o Milton Santos abrindo caminho e passando a real: “Não há, pois cidadania neste país Nunca houve.”. Você lê e não vê, você fala muita vez sem nem saber. Então quando abrir o Machado e der com ele na tua cabeça, fica tu sabendo que tá aprendendo com preto a ver as coisa dos branco pela mira de um preto. Quando Lima te der a nota, escuta o que ele tá gritando, abraça o que une. E se aparta do que separa. Mas não vem se achar sabedor da espécie e dá o teu pitaco sobre religião, sem nunca ter recebido um passe. Dá o teu carão na festa do funk sem nunca ter se arriscado nesse passo, esse passado. Então tu vê se procura nas tuas coisa aquele livro que fala de um doidinho perdido numa ilha e que tem um amigo de nome sexta-feira; pronto, fala daquilo lá, do que tu viu na tua ilha de lá. Fala lá e vê se não tumultua. Fica na tua. A menos que tu queira se aventurar nessa mistura.
E tudo isso pra dizer que essa onda de inclusão está toda errada, invertida. Vamos considerar que o lugar em que se pretende que o negro seja inserido vem marcado com o estigma responsável por deflagrar a contradição, o equívoco e a exclusão. Os processos de inclusão convidam o excluído a participar de um universo cultural que não lhe diz respeito. Quem deve antes se incluir é o branco. Quem deve antes escutar o que o negro tem a dizer e buscar se mesclar da riqueza dessa cultura ainda tão desconhecida e rechaçada é o branco. Mergulhar nos ritmos e ir fundo na experiência, como fez Vinícius de Moraes sem dizer que ia fazer, pois "O homem que diz vou não vai", parceiro do Baden Powell no gigante aprendizado de mesclar a cultura trazendo aos ouvidos os Afro Sambas (este pleonasmo!). Então, vamos ouvir esse canto. Dessa deusa misteriosa, a negra que tudo sabe “sobre as ervas / Sobre a alquimia do amor”. Vai!Vai!Vai! Vamos! Chega de chapinha, quero ver branco de dread. Chega de bossinha, quero ouvir mais Rap. Chega de boyzinho, vamos de moleque. Inclusão pra valer é o lado de lá se descobrir preto e se saber preto brasileiro, norte, nordeste, sul e sudeste em sua magnífica potência se ser. Afinal, quem deve: é o branco!
*Assionara Souza, Caico (RN), é escritora radicada em Curitiba. Publicou os livros "Cecília não é um cachimbo" (2005); "Amanhã"; "Com sorvete!" (2010); "Os hábitos e os monges" (2011) e "Na rua: a caminho do circo" (2014).
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