Movimentos populares articulados na Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba) se reuniram com o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, na tarde desta segunda-feira (17), em Caracas, e lançaram uma declaração em que ratificam seus compromissos com as revoluções e os processos de transformação das lutas populares e dos governos progressistas que, durante as últimas décadas, manifestaram a sua convicção de resistir à ofensiva neoliberal em curso na América Latina.
Confira a versão em áudio da nota (para baixar o arquivo, clique na seta à esquerda do botão compartilhar):
“[Devemos] manter a construção do socialismo como horizonte em condições de independência, soberania e autodeterminação implica que nós reforcemos nossa solidariedade e apoio aos processos revolucionários e de transformação que se mantêm na vanguarda do anti-imperialismo, como os de Cuba, da Venezuela, do Equador, da Bolívia, de Nicarágua e de El Salvador. Os povos são os principais garantidores de sua continuidade porque neles encontramos a inspiração, o ânimo e a força que precisamos para continuar lutando por um projeto de emancipação vivo e cheio de esperança para o nosso continente”, afirma a nota, publicada em um contexto de tentativas consecutivas da direita de derrubar o governo venezuelano.
Além de denunciar o aumento da repressão e a cumplicidade do poder judiciário, legislativo e midiático no avanço da direita, os movimentos reafirmam seu lugar na ruas, que se tornam cenário de resistência, construção da unidade e acúmulo de forças, para reverter o projeto de restauração neoliberal que a direita tenta nos impor”.
A conclusão da carta remete a uma maior integração dos povos da região. "Na unidade, está a nossa força e na luta, nossa esperança", finaliza a nota.
Confira a declaração completa:
Declaração dos movimentos populares ante a conjuntura da América Latina, 17 de outubro de 2016, Caracas, Venezuela
Os povos do mundo e do continente estamos vivendo um momento marcado por uma profunda crise da ordem mundial capitalista, que não é só econômica, mas também energética, alimentar e dos valores com os quais se organizam as sociedades contemporâneas.
Neste contexto, enfrentamos uma ofensiva neoliberal, em que setores vinculados ao poder econômico, transnacional e financeiro pretendem aumentar suas taxas de lucro às custas do bem estar da maioria e impedir que ela tenha a possibilidade de construir uma vida digna desde e para os povos da América.
Para isso, o poder econômico concentrado precisa diversificar suas estratégias de dominação avançando na militarização dos nossos territórios e desestabilizando os processos democráticos, como aconteceu no Brasil, com o recente golpe de estado, e a guerra permanente que sofre o povo venezuelano e o governo democraticamente eleito de Nicolás Maduro.
Em sua ofensiva na política internacional, nota-se a sabotagem dos mecanismos de integração regional como a Unasur; a Celac e a tentativa de expulsão de Venezuela do Mercosul; e a consolidação da Aliança do Pacífico, ao tempo que avança com os acordos e tratados de livre comércio, tanto multilaterais como bilaterais.
A recente vitória do "Não" no plebiscito dos acordos de paz entre o governo colombiano e as FARC EP nos coloca diante do desafio de blindar a nossa região como território de paz, tal como foi consensual na II Cúpula da CELAC, realizada em La Habana, Cuba.
Esta ofensiva neoliberal se traduz na perda de direitos para os trabalhadores, manipulando as maiorias populares através dos grandes meios de comunicação, que trabalham para construir uma opinião pública e um senso comum conservador.
Neste mesmo caminho, destaca-se o crescimento dos setores conservadores como as igrejas, que atuam como ator político e consolidam olhares conservadores e valores vinculados à salvação individual.
Por outro lado, o movimento popular está sendo cada vez mais criminalizado por meio de repressões à mobilização popular e de ameaças, perseguições e, inclusive, assassinato de lideranças e dirigentes.
É característica comum em cada um dos nossos países a maneira de operar articuladamente contra interesses populares onde os setores da direita têm alcançado maioria parlamentar, como é o caso da Venezuela. Contudo, longe de nos sentir derrotados, os movimentos populares da América olhamos para o nosso passado e nosso presente de luta.
Recordamos como pudemos derrotar a ALCA. Somos conscientes do que temos acumulado durante todos estes anos e, a partir disso, olhamos o futuro com esperança, porque, apesar desta ofensiva feroz que estamos vivendo, somos conscientes de que o capitalismo não oferece alternativas sustentáveis, alegria e felicidade para os nossos povos, mas gera fome, desocupação, pobreza e o saqueio dos nossos bens naturais.
Neste contexto em que as oligarquias articuladas pretendem reviver o neoliberalismo como modelo continental, reafirmamos o nosso compromisso com as numerosas conquistas alcançadas nos processos de resistência e de luta dos nossos povos e das suas lideranças, que estiveram à frente dos governos progressista durante quase vinte anos.
A partir da reflexão sobre nossos acertos e erros no último período, e para superar os processos nos quais ainda não pudemos transcender a lógica do capital, chamamos à ação e redobramos nossos esforços para fortalecer a mobilização e o protagonismo popular, elevando a consciência dos nossos povos.
Assumimos o desafio de defender esses avanços nos diversos cenários e contribuir criticamente na renovação de um projeto de emancipação e de alternativa anticapitalista para o nosso continente, construído desde as bases populares.
Manter a construção do socialismo como horizonte em condições de independência, soberania e autodeterminação implica que nós reforcemos nossa solidariedade e apoio aos processos revolucionários e de transformação que se mantêm na vanguarda do anti-imperialismo, como os de Cuba, da Venezuela, do Equador, da Bolívia, da Nicarágua e de El Salvador.
Os povos são os principais garantidores das sua continuidade, porque neles encontramos a inspiração, o ânimo e a força que precisamos para continuar lutando por um projeto emancipador vivo e de esperança para o nosso continente.
Por esse motivo, rechaçamos qualquer ato dirigido a desmoralizar e desmobilizar as diversas expressões organizadas no campo popular de esquerda, e reafirmamos que vamos nos manter nas ruas resistindo, mas também construindo a unidade e acumulando forças para reverter o projeto de restauração neoliberal que a direita tenta nos impor.
Expressamos nossa lealdade e compromisso de defender incondicionalmente a Revolução Bolivariana, assim como a soberania e autodeterminação do povo da Venezuela. A obra iniciada por Hugo Chávez e continuada por Nicolás Maduro representa um símbolo de resistência, e seus avanços demostram que é possível construir um socialismo democrático e participativo a partir da transformação do modelo capitalista de produção e de reprodução da vida.
Do mesmo jeito, sentimos-nos comprometidos com a defesa de América Latina e do Caribe como zonas de paz, onde os povos possam conviver em condições de bem-estar, equidade, justiça social e ambiental.
Continuaremos na luta, defendendo uma integração desde os de baixo e à esquerda, com um profundo espírito anticapitalista, antipatriarcal, antirracista e anticolonial.
Na unidade, está a nossa maior força e na luta, nossa maior esperança.
Assinam:
Movimiento Popular Patria Grande. Argentina
Confederación Sindical Única de Trabajadores Campesinos de Bolivia
Coordinación Nacional de Entidades Negras. CONEN. Brasil
Marcha Mundial de Mujeres. Brasil
Movimiento de los Trabajadores Rurales Sin Tierra. Vía Campesina. Brasil
Movimiento Político y Social Congreso de los Pueblos. Colombia
Movimiento Político y Social Marcha Patriótica. Colombia
Centro Memorial Dr. Martin Luther king
Organización de Solidaridad de los Pueblos de Asia, África y América Latina. OSPAAAL. Cuba
Fundación de Estudios, Acción y Participación Social. Ecuador
Comité de Unidad Campesina. Guatemala
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Tradução: María Julia Giménez
Edição: Camila Rodrigues da Silva
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