Dez anos sem perder. A Seleção Brasileira de Futebol de 5, modalidade para deficientes visuais, é soberana no mundo. Mas dentro do País os atletas e equipes enfrentam dificuldades para se manter. Em conversa com o Brasil de Fato, o pernambucano Raimundo Nonato, ala-pivô titular da Canarinho, espera que o quarto ouro consecutivo, conquistado no Rio-2016, sensibilize o poder público e o empresariado para incentivar o esporte no Brasil.
Deficiente visual desde o nascimento, Nonato sempre teve bola de futebol em casa e não teve problemas em dividir os campos de barro com os amigos de plena visão. Nos campinhos de Orocó, Sertão do São Francisco, se destacou pela habilidade e faro artilheiro. Chamou a atenção de Josenildo, que em 2010 levou Nonato para Petrolina e apresentou-lhe o Futebol de 5. “Foi aí que conheci a bola (com guizos), as regras e comecei a treinar. Montamos uma equipe para disputar as competições – foi quando fui visto pela Seleção Brasileira e em 2011 fui convocado”, recorda Nonato.
Sua primeira convocação foi para um período de treinos. Sua estreia com a camisa amarela em competições oficiais só aconteceria em 2012, já nos Jogos Paralímpicos Londres-2012. Na ocasião, o Brasil conquistou seu terceiro ouro consecutivo – desde a estreia do Fut5 Paralímpico, em Atenas-2004, a Canarinho sempre trouxe o ouro na bagagem. O pernambucano já esteve no topo do pódio do Mundial, da Copa América, do Sul-americano e conquistou seu espaço na equipe. Aos 29 anos, Raimundo Nonato foi titular no Rio-2016, trouxe mais um ouro e marcou seu primeiro gol em paralimpíadas – na vitória por 3x1 contra o Marrocos. O sertanejo já anotou 29 gols pela Seleção.
Raimundo Nonato é atleta da Associação dos Deficientes Visuais de Petrolina (ADVP) e reside na cidade. Pela ADVP foi artilheiro do Regional Nordeste 2016, com 19 gols. O time ficou em 3º lugar e é o único representante de Pernambuco na modalidade. “Existe uma grande dificuldade de estrutura. Não é fácil encontrar tantos atletas numa cidade, então precisamos trazer de cidades vizinhas, mas não temos recurso para transporte e acomodação. Precisamos de patrocínio, receber investimento”, reclama. “Fui descoberto por acaso. E tenho certeza que há outros deficientes visuais com talento, mas não temos estrutura para alcança-los”. Nonato tem contrato de patrocínio com a Caixa Econômica Federal e consegue viver com a ajuda de custo que recebe. Mas a maioria dos atletas não tem esse auxílio.
No ano passado a ADPV foi vice-campeã da Série B e Nonato foi o artilheiro da competição, com 12 gols. A equipe treina no Senai e no IFPE em Petrolina. Do dia 1º a 6 de novembro a ADPV disputa, em São Paulo, a Série A de Futebol de 5. Doze equipes estão divididas em quatro grupos. Os oito times que melhor pontuarem disputam o mata-mata pelo título. Os quatro piores pontuadores lutam contra o rebaixamento. A Série B 2016 foi disputada por 8 equipes. As competições de Fut5 no Brasil são organizadas pela Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV).
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