Começou na Argentina, com a revolta pelo estupro e assassinato de Lucía, uma adolescente de 16 anos. As mulheres se levantaram, realizaram protestos massivos e greve de trabalhadoras. E a luta se espalhou pelo mundo. No Rio de Janeiro, um ato foi marcado em frente à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), para às 18h desta terça-feira (25).
Milhares de mulheres confirmaram participação na convocação espontânea feita pelo Facebook. “No Rio têm estupro e assassinatos de mulheres todos os dias. Queremos um basta dessa violência, mas não é só isso. Não queremos apenas permanecer vivas, mas viver bem, ter qualidade de vida”, afirma a advogada Liliana Maique, integrante do Fórum Estadual de Combate à Violência contra a Mulher. Por isso, segundo Liliana, as mulheres também vão combater a PEC 241. "Cada vez que tem corte de investimento nos serviços básicos, como saúde e educação, a mulher piora suas condições de vida e sofre ainda mais violência", diz a advogada.
Na Argentina, depois da morte de Lucía, surgiu a campanha #NiUnaMenos (Nem uma a menos) e #LasQueremosVivas (Às queremos vivas). A presidenta do Chile, Michelle Bachelet, veio a público comentar o tema. "Nosso país expressa a frustração de nossos compatriotas nos casos de violência contra mulheres e garotas. Dia a dia a violência de gênero afeta mulheres sem importar a idade, condição econômica, social ou religiosa", afirmou Bachelet em um vídeo.
Uma cantora boliviana, conhecida como Miss Bolívia chegou a compor uma música para denunciar a violência contra a mulher. “Parem de nos matar”, diz o refrão. Também no Uruguai e no México houve protestos e ações de combate a violência contra mulher.
No Brasil, atrizes como Camila Pitanga, Cleo Pires, Glória Pires e Débora Bloch também se engajaram na luta contra a violência e divulgaram em suas redes sociais informações sobre o feminicídio (assassinato de mulheres).
“Morta aos 16 anos. Dopada, abusada e assassinada. Lucia Perez. Uma a menos. Na Argentina. Onde a cada 26 horas uma mulher é vítima de feminicídio. No Brasil o dado é mais assustador. A cada 1h30. Basta! Hoje o Brasil está de mãos dadas contra essa violência”, disse Camila Pitanga nas redes sociais.
Cleo Pirez também falou sobre tema e divulgou o texto da campanha na internet. “Segundo a ONU, 14 dos 25 países com maior taxa de feminicídio do mundo estão na América Latina. A dor de Lucía é a dor da mulher argentina. É a dor da mulher latino-americana. É a nossa dor”, publicou a atriz
O Brasil é o quinto país no mundo que mais mata mulheres, segundo o Mapa da Violência 2015, divulgado pela Faculdade Latino-Americana de Estudos Sociais. Ele foi feito a partir de dados oficiais dos governos estaduais e federal. O estudo mostra ainda que número de mulheres negras mortas cresceu 54% em 10 anos (de 2003 a 2013), enquanto que o número de mulheres brancas assassinadas caiu 10% no mesmo período.
“O que marca a diferença na violência contra a mulher negra é a pobreza. Elas estão em situação de fragilidade social e não têm acesso aos serviços que poderiam da suporte para elas poderem sair do ciclo de violência’, aponta a Liliana Maique.
Cultura do estupro
Na semana passada, uma mulher de 34 anos foi vítima de um estupro coletivo no município de São Gonçalo (RJ), região metropolitana do Rio de Janeiro. No próprio carro da PM ela voltou a ser molestada por dois dos agressores, que foram levados juntos com ela para a delegacia. A conduta dos policiais, ao colocar a vítima e os agressores sentados no mesmo ambiente, também está sendo investigada.
Nesta mesma semana uma pesquisa, uma pesquisa do Datafolha mostrou que 42% dos homens concordam com a frase: “A mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada”. E 32% das mulheres também concordam com isso. Pelo menos um terço da população afirmou, segundo o instituto de pesquisa, que a culpa do estupro é da mulher. A pesquisa também mostrou que 85% das mulheres sentem medo de serem estupradas e esse temor chega a 90% em estados do nordeste.
Para a advogada Liliana Maique, boa parte dos casos de estupro poderia ser evitada com políticas públicas básicas. “Não por acaso, a zona oeste do Rio é a região onde mais acontecem os estupros. É a região onde os serviços públicos são mais precários. Em alguns casos uma simples iluminação de rua inibiriam os casos”, destaca Liliana.
As mulheres pobres, além de todo o sofrimento de uma vida difícil, são as maiores vítimas de estupros e violência doméstica, segundo dados do Mapa da Violência.
Protestos
Em São Paulo, na segunda-feira (24) foi realizada uma manifestação na Avenida Paulista com a participação de milhares de mulheres, também em solidariedade à luta das argentinas e pelo combate a violência contra a mulher no Brasil.
Edição: Vivian Virissimo
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