Em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, das 34 escolas estaduais de Ensino Médio, 22 estão ocupadas nesta semana contra a PEC 241, a MP 746 e ao PL Escola Sem Partido. Além das 22 escolas de Ensino Médio, há outras duas escolas de Ensino Fundamental ocupadas.
A série de protestos no formato de ocupações se iniciou no dia 18 deste mês, na Escola Estadual José Ignácio de Sousa e na Escola Estadual Prof. Américo Renê Giannetti, na região central da cidade. Nos dias seguintes, as ocupações se estenderam a diversas escolas, de diversas regiões da cidade.
Os estudantes se mobilizam em torno de pautas que consideram como graves retrocessos para a educação pública e direitos sociais no país. “A PEC 241 é um erro gravíssimo, porque ela limita investimentos em direitos sociais como educação e saúde, pelos próximos 20 anos”, afirma Luiz Felipe, estudante que participa da ocupação na E. E. José Ignácio de Sousa. “Nós somos a massa do presente, e vamos formular o nosso futuro hoje, então não podemos deixar isso acontecer”, reforça.
Os estudantes protestam ainda contra a MP 746/16 e ao PL Escola sem Partido conhecido também como “Lei da Mordaça”: “A gente considera essa medida (MP 746) injusta, porque ela acaba diminuindo o direito de escolha de nós estudantes, porque acaba tirando matérias que são importantes para a nossa formação enquanto cidadãos. Como eu digo: a matemática constrói as coisas, as artes constroem você”, diz Gustavo, outro estudante que participa da ocupação na mesma escola.
O estudante ainda afirma: “Essa lei (Escola sem Partido) acaba eliminando o livre debate de questões importantes para nós jovens, como gênero, política, sexualidade e religião. Eles falam que querem tornar a escola um espaço de discurso neutro e a gente sabe que isso é uma grande mentira. O povo lutou muito contra a censura e a ditadura e agora eles querem acabar com a liberdade de expressão no lugar mais apropriado para o debate que é a escola”.
“Ocupar e resistir”
“Fizemos uma primeira manifestação, mas vimos que não ia render muito, então como já tem um movimento chamado Primavera Secundarista, a gente pensou que ocupar era melhor forma divulgar o movimento a e assim conseguimos quebrar esse bloqueio. Antes da gente não tinha quase nada na mídia nacional sobre o Triângulo Mineiro, a gente foi, deu a cara, falou pra todas, deu entrevistas”, relatou Luiz Felipe.
Maria Karoline, aluna da E. E. Neuza Rezende do bairro Tocantins, na região Oeste da cidade, considera que a ocupação foi a única forma de protesto que encontraram. “Nós, estudantes, não temos poder dentro do ambiente político, não temos (ou não tínhamos até um dia atrás) poder dentro da diretoria das escolas, nem na superintendência. Ocupar foi a única forma legal que encontramos para causar impacto e ao mesmo tempo mostrar àqueles que têm mais poder judiciário que nós, o incomodo que as decisões antidemocráticas causam”.
Autogestão da escola e mulheres em cena
O que pode ser observado nas ocupações visitadas é que primeiro acontece o processo de decisão de ocupar a escola, que se dá em reuniões e assembleias estudantis. Depois de a ocupação se concretizar, começa o processo de organização, que vai desde a criação de comissões - como de limpeza, segurança, alimentação e comunicação - até reuniões com os pais para debater a situação das escolas.
Todo esse processo, chamado de autogestão, é organizado pelos próprios estudantes, com destaque para o grande número de meninas que estão protagonizando as coordenações das ocupações.
Assim as escolas vão ganhando outra rotina e diversas atividades vão acontecendo durante o período de ocupação: “aulões” de revisão para o ENEM; debates com temas diversos como as próprias reivindicações, democratização da mídia, gênero; oficinas de dança, xadrez, violão; apresentações culturais, atividades esportivas, entre outras.
Tanto as oficinas, aulas e as doações são parte de uma rede de solidariedade que vem se formando desde a primeira escola ocupada. Essa rede junta professores e funcionários das próprias escolas, pessoas do bairro onde cada escola se encontra, e organizações da cidade, para contribuir para a permanência das ocupações. Doações de comidas, produtos de limpeza, materiais para confecção de cartazes chegam a todo o momento nas escolas.
Além das ocupações, acontecem manifestações de rua e greve dos três segmentos, docentes, discentes e técnicos-administrativos da Universidade Federal de Uberlândia.
As 24 escolas ocupadas até fechamento da matéria em Uberlândia:
1. E.E. Prof. José Ignácio de Sousa
2. E.E. Messias Pedreiro
3. E.E René Gianetti
4. E.E Teotônio Vilela
5. E.E Juvenília Ferreira
6. E.E Bueno Brandão
7. E.E Ederlindo Lannes
8. E.E Inácio Castilho
9. E.E Uberlândia (Museu)
10. E.E Parque São Jorge
11. E.E Leônidas Castro Serra
12. E.E Jerônimo Arantes
13. E.E Antônio Luiz Bastos
14. E.E. Ângela Teixeira
15. E.E. Mario Porto
16. E.E. João Rezende
17. E.E. Segismundo Pereira
18. E.E. Sérgio Pacheco
19. E.E. Cidade Industrial
20. E.E. Guiomar Polivante
21. E.M. Hilda Leão Carneiro
22. E.E. Antônio Thomaz Ferreira de Rezende
23. E.E. Neusa Rezende
24. E.E. Frei Egídio
Páginas de apoio às ocupações de escolas em Uberlândia
Ocupa Tudo Uberlândia
https://www.facebook.com/ocupatudoudia/Rede de Apoio às Escolas Ocupadas
https://www.facebook.com/redeocupaudi/
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