No dia 8 de novembro, os cidadãos dos Estados Unidos vão decidir quem será seu próximo presidente. Como essa decisão não afeta apenas o país, o mundo inteiro está de olho na campanha eleitoral.
A candidata do partido Democrata, Hillary Clinton, que seria a possível sucessora de Barack Obama, lidera as pesquisas de intenção de votos. Entretanto, o candidato do partido Republicano, Donald Trump, já mostrou sua influência nas urnas e chegou a empatar com Hillary, um mês atrás. Porém, os sucessivos escândalos envolvendo o nome de Trump e suas declarações machistas divulgadas pela imprensa o fizeram despencar nas pesquisas nas últimas semanas.
No início da campanha prévia dos partidos, a candidatura do milionário era encarada como uma piada pelos analistas de política, dentro e fora dos Estados Unidos. Dois anos depois, a brincadeira foi se transformando em algo sério. Conhecido por seu radicalismo e conservadorismo, Donald Trump defendeu, por exemplo, a construção de um muro entre os Estados Unidos e México, para impedir a migração. Também já afirmou que as mulheres deveriam receber menos que os homens, já que, segundo ele, elas têm direito a licença-maternidade. Além disso é autor de comentários racistas. Em um de seus discursos de campanha disse que não queria pessoas negras com a mão no seu dinheiro.
Já Hillary Clinton tem perfil considerado liberal. Ela defende o controle de armas, a igualdade salarial entre homens e mulheres e leis que garantam acesso gratuito à universidade. Mas, por outro lado, também apoia as guerras no Oriente Médio e a postura imperialista e intervencionista dos Estados Unidos.
No entanto, segundo o sociólogo Felippe Ramos, nenhum dos dois candidatos têm políticas pontuais em relação à América Latina. “Mas é possível subentender que Hillary representa muito mais uma continuidade das políticas de Barak Obama, que não foram muito ativas na região, mas que teve pontos importantes como reaproximação com Cuba”, destaca o pesquisador que também é doutorando da New School University, de Nova Iorque.
Sobre a América Latina três temas foram debatidos durante a campanha. A questão da migração dos mexicanos, que apareceu a partir da proposta de Trump; a reaproximação de Cuba e as contribuições para a paz na Colômbia.
Para Ramos, Hillary transita entre duas contradições. “A candidata democrata está mais próxima da indústria bélica militar, portanto mais propensa a soluções militaristas. Por outro lado, ela tem o apoio do Sanders, um político mais progressista e que teve grande quantidade de votos nas eleições prévias. Isso deve impactar nas políticas de governo, sobretudo em educação e saúde”, pondera.
Em relação ao candidato republicano, Ramos caracteriza como “imprevisível” a linha da sua política externa. “As propostas de Trump são muito diferentes inclusive daquilo que o Partido Republicano vem realizando tradicionalmente. De qualquer maneira uma presidência com Trump deve aumentar o risco de instabilidade internacional”, defende o sociólogo.
Segundo o sociólogo e professor da Universidade de São Paulo (USP), Wagner Iglecias, embora Trump seja mais agressivo no discurso, as questões relacionadas à política externa dos EUA para a América Latina não teria tanto impacto em um possível governo republicano. “Trump está mais preocupado com as questões internas dos EUA. No campo internacional ele atuaria mais no Oriente Médio e menos da América Latina” afirma o professor de sociologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
No entanto, o tema mais preocupante, nesse caso, é a relação entre EUA e México. “Esse seria o tema mais forte de um possível governo Trump. Ele prometeu construir um muro na fronteira e isso apareceu muito na sua campanha”, ressalta o professor.
Já Hillary, de acordo com Iglecias, tenderia a repetir as políticas de Obama e Bill Clinton. “Ela impulsionaria o livre comércio e teria um papel mais intervencionista”, diz Wagner Iglecias.
Durante a campanha presidencial os temas mais recorrentes da política externa norte-americana foi o Oriente Médio, Rússia e Ucrânia, mar da China, crise de refugiados da Síria e a saída do Reino Unido da União Europeia.
Participação eleitoral
O voto nos Estados Unidos não é obrigatório e a participação do eleitorado é baixa. Na última eleição, em 2012, a participação do eleitorado foi de 57%. “Historicamente, a participação eleitoral nos EUA é bem baixa, mas nessa eleição de novembro ainda tem um agravante, que é a baixíssima popularidade dos dois candidatos. Hillary Clinton, que lidera as pesquisas, também um índice de rejeição sem precedentes”, observa o sociólogo Felippe Ramos.
Além disso, o conservadorismo moral vem crescendo, principalmente na classe trabalhadora residente do centro e do sul do país, segundo o sociólogo, o que deve ter influência nas eleições.
Edição: Juliana Gonçalves
Edição: ---