Na última semana, rumores de conselheiros secretos, corrupção e nepotismo envolvendo a presidente da Coreia do Sul, Park Geun-hye, mergulharam o país em uma crise política. A chefe de Estado, primeira mulher a ocupar o cargo e filha de um ex-ditador, agora enfrenta pedidos de renúncia por parte da população.
O escândalo foi revelado nas últimas semanas, quando surgiram rumores de que Park seria aconselhada por Choi Soon-sil, sua amiga há quase quatro décadas. Choi, mesmo não exercendo nenhum cargo público, opinava em decisões que variavam da cor das roupas que a presidente usava até discursos e grandes decisões políticas, tendo, segundo denúncias, até acesso a informações confidenciais. Ela teria, inclusive, criado uma espécie de “clã” para auxiliar a presidente, o grupo das “Oito Fadas”.
Os rumores foram confirmados na terça-feira (24/10), quando Park veio a público admitir ter recebido aconselhamento de Choi Soon-sil. A mandatária se desculpou durante uma entrevista coletiva de imprensa, afirmando ter agido sempre “com um coração puro”.
No entanto, de acordo com Park, Choi a teria aconselhado, editando seus discursos, apenas em 2012, durante sua campanha presidencial, e em 2013, pouco após a hoje presidente assumir o cargo.
Choi, por sua vez, negou ter criado as “Oito Fadas”, mas confirmou ter auxiliado Park. Disse, porém, não saber que havia tratado de assuntos confidenciais por não possuir nenhum cargo no governo.
A população passou a questionar, então, se a presidente seria capaz de tomar qualquer decisão por si própria. Para analistas políticos, a imagem que se passa é que, na verdade, Choi teria manipulado Park por tempo indeterminado.
Na sexta-feira (24/10) e durante o fim de semana foram organizadas algumas manifestações que pediam que a presidente renunciasse, por conta da maneira com que tratou informações oficiais, e que Choi fosse presa.
Corrupção e nepotismo
Choi, que é filha do mentor de Park e líder religioso Choi Tae-min, também estaria envolvida em esquemas de corrupção e nepotismo. Ela teria se aproveitado de sua proximidade com a presidente para conseguir cerca de US$ 70 milhões (aproximadamente R$ 222 milhões) em doações da Federação de Indústrias Coreanas para duas ONGs e teria desviado parte desse dinheiro, ainda que não se saiba quanto e tampouco esteja claro o envolvimento da presidente Park nestes casos.
Além disso, existem alegações de que Choi teria novamente se aproveitado de sua condição para fazer com que a Universidade para Mulheres Ewha, uma das melhores do país, mudasse suas regras para que a filha de Choi, que não possuía as notas necessárias para entrar na instituição, fosse admitida. No último dia 19, dois dias após a mídia coreana descobrir esta primeira etapa dos escândalos envolvendo Choi Soon-sil, a diretora da Ewha, Choi Kyung-hee, renunciou ao cargo.
Nesta segunda-feira (31/10), Choi foi a Seul, capital sul coreana, para dar seu depoimento à promotoria do país, que investiga o escândalo e tenta determinar a abrangência da influência de Choi nas decisões de Park. Na ocasião, ela pediu desculpas pelo que fez. “Eu cometi um pecado que merece a morte [como punição]”, disse, segundo a agência de notícias local Yonhap. Entretanto, o advogado dela, Lee Kyung-jae, afirmou que o pedido de desculpas não pode ser interpretado como uma confissão.
Até o momento, os investigadores já realizaram algumas buscas no palácio presidencial e na casa de Choi.
Mídia, oposição e analistas políticos reagem a escândalo
Diante do escândalo confirmado pela própria presidente na terça passada, a oposição, a mídia e analistas políticos da Coreia do Sul comentaram a situação no país. Em uma tentativa de diminuir a pressão sob o cargo, Park já demitiu vários de seus conselheiros.
Lee Jae-myung, líder da oposição a Park, afirmou que ela “perdeu autoridade como presidente”.
Já o jornal conservador Chosun Ilbo disse, por meio de um editorial, estar ocorrendo um “completo colapso da habilidade de um presidente de governar”. “As únicas vias abertas para ela [Park] são sair do governo e colocar o interesse público em primeiro lugar (...) Muitas pessoas sentem vergonha dela. Está na hora de que ela também sinta”, escreveu o jornal.
Para o analista político Shin Yool, da Universidade Myongji, há apenas duas formas para Park sair da situação em que se encontra: “propor uma grande coalizão de governo [para retirar de sua pessoa o poder de tomada de decisões] ou prometer renunciar”.
“Sempre houve corrupção cercando o poder durante toda a história política sul coreana, mas sempre envolveram membros da família ou pessoas próximas ao presidente, mas nunca o próprio presidente”, disse Shin ao jornal norte-americano Washington Post, apesar de ainda não ter sido confirmado o envolvimento de Park com os esquemas de corrupção de Choi.
Edição: ---