Acusada de manipular a presidente da Coreia do Sul e ter tido acesso a informações confidenciais, Choi Soon-sil, amiga e conselheira da chefe de Estado Park Geun-hye, foi detida de forma preventiva nesta terça-feira (01/11), em meio ao escândalo de corrupção no país.
Segundo a agência de notícias local Yonhap, Choi negou todas as acusações, mas um agente da promotoria declarou que há a preocupação de que ela possa destruir provas ou fugir, já que Choi não possui residência permanente na Coreia do Sul, segundo o jornal americano Washington Post.
Park veio a público admitir ter recebido aconselhamento de Choi Soon-sil na terça-feira passada (25/10), o que levou milhares de manifestantes às ruas durante o fim de semana, exigindo a renúncia da presidente. A chefe de Estado já demitiu vários de seus conselheiros em uma tentativa de diminuir a pressão sob o cargo. Choi, por sua vez, prestou depoimento nesta segunda (31/10) em Seul, onde pediu desculpas pelo ocorrido e disse “merecer a morte [como punição]”.
Reações ao escândalo
A agência de notícias estatal norte-coreana não tardou em criticar a presidente Park Geun-hye, qualificando seu governo de "anormal" e "estúpido" pelo grande escândalo suscitado no país após a revelação de que sua amiga e confidente pode ter interferido em assuntos de Estado.
O governo de Kim Jong-un definiu o escândalo como um "horrível caso de corrupção sem precedentes na história da Coreia do Sul, que comoveu os cidadãos em seu conjunto e causou um grande furor", segundo um editorial do jornal Rodong, do Partido dos Trabalhadores.
Além das manifestações de repúdio à presidente, nesta terça-feira um homem de 45 anos destruiu com uma escavadora a porta do edifício onde Choi está detida. De acordo com a agência Yonhap, o homem declarou que queria “ajudar Choi Soon-sil a morrer, já que ela disse que havia cometido um pecado punível com a morte”.
Para o analista político Shin Yool, da Universidade Myongji, há apenas duas formas para Park sair da situação em que se encontra: “propor uma grande coalizão de governo [para retirar de sua pessoa o poder de tomada de decisões] ou prometer renunciar”.
“Sempre houve corrupção cercando o poder durante toda a história política sul coreana, mas sempre envolveram membros da família ou pessoas próximas ao presidente, mas nunca o próprio presidente”, disse Shin ao jornal norte-americano Washington Post, apesar de ainda não ter sido confirmado o envolvimento de Park com os esquemas de corrupção de Choi.
Relação entre Park e Choi remonta a mais de quatro décadas
Choi, que é filha do mentor de Park e líder religioso Choi Tae-min, apesar de não exercer nenhum cargo público, opinava em decisões que variavam da cor das roupas que a presidente usava até discursos e grandes decisões políticas, tendo, segundo denúncias, até acesso a informações confidenciais. Ela teria, inclusive, criado uma espécie de “clã” para auxiliar a presidente, o grupo das “Oito Fadas”.
No entanto, de acordo com Park, Choi a teria aconselhado, editando seus discursos, apenas em 2012, durante sua campanha presidencial, e em 2013, pouco após a hoje presidente assumir o cargo.
Corrupção e nepotismo
Choi também estaria envolvida em esquemas de corrupção e nepotismo: ela teria se aproveitado de sua proximidade com a presidente para conseguir cerca de US$ 70 milhões (aproximadamente R$ 222 milhões) em doações da Federação de Indústrias Coreanas para duas ONGs e teria desviado parte desse dinheiro, ainda que não se saiba quanto e tampouco esteja claro o envolvimento da presidente Park nestes casos.
Além disso, existem alegações de que Choi teria novamente se aproveitado de sua condição para fazer com que a Universidade para Mulheres Ewha, uma das melhores do país, mudasse suas regras para que a filha de Choi, que não possuía as notas necessárias para entrar na instituição, fosse admitida. No último dia 19, dois dias após a mídia coreana descobrir esta primeira etapa dos escândalos envolvendo Choi Soon-sil, a diretora da Ewha, Choi Kyung-hee, renunciou ao cargo.
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