Começa nesta quinta (3), em Mariana (MG), o Encontro de Atingidos da Bacia do Rio Doce, que reúne 800 pessoas de diversas comunidades afetadas pela lama da Samarco (Vale-BHP Billiton). O encontro faz parte da jornada que marca um ano do rompimento da barragem de Fundão, ocorrido no dia 5 de novembro de 2015 no distrito marianense de Bento Rodrigues.
O evento, organizado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), também conta com a presença de lideranças políticas, representantes de movimentos populares da América Latina, artistas e religiosos. A programação segue até sexta (4) e, no sábado (5), uma caminhada em Bento Rodrigues encerrará as atividades.
“Diante desse quadro de desolação e de perda de direitos irreparáveis, é extremamente importante vivenciar a solidariedade desse encontro. Isso nos encoraja a prosseguir nessa grande luta para salvar a Bacia do Rio Doce”, afirmou Don Geraldo Lyrio na mesa de abertura.
Realidade
O principal objetivo do encontro é discutir coletivamente a situação dos atingidos um ano após o rompimento e denunciar a negação de seus direitos pela mineradora. Dentre os relatos apresentados, a negação de direitos e o descaso da Samarco são as reclamações mais recorrentes.
O morador de Bento Rodrigues, Marquinhos Muniz, conta que ainda aguarda ver seus direitos reconhecidos. Ele perdeu tudo e, agora, a Samarco planeja construir um dique na área, o S4, que vai cobrir mais um pedaço da sua propriedade. “Sou contra esse dique porque a Samarco está resolvendo o problema dela e não dos atingidos, porque é para continuar jogando rejeito lá. Soterrar Bento é uma maneira deles apagarem a cena do crime”, comenta o atingido.
Já o problema exposto por Regiane Soares, moradora de Mascarenhas, distrito de Baixo Guandu (ES), é que a economia de todo o povoado girava em torno da pesca. Apesar de grande parte da população ter recebido o cartão com uma indenização mensal, ela questiona o machismo da empresa ao ignorar a situação das mulheres. “Nós, mulheres, não fomos reconhecidas como atingidas. O Rio não era só a nossa fonte de renda ou a nossa área de lazer, era tudo para nós”, conta emocionada.
Jornada
Antes do encontro, entre os dias 31 de outubro e 2 de novembro, o MAB organizou a marcha “1 Ano de Lama e Luta”, que saiu de Regência, litoral do Espírito Santo, e chegou até Mariana. Por mais de 700 km, a caravana passou por nove lugares. “A marcha nos mostrou que existe em toda a Bacia um esquecimento e uma necessidade de reorganizar a vida de todos os atingidos”, ressalta Soniamara Maranho, integrante da coordenação MAB de Minas Gerais.
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