Cuidar, educar e formar politicamente as crianças são preocupações que o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) também possui. Em todas suas atividades – inclusive no Encontro dos Atingidos da Bacia do Rio Doce, que acontece em Mariana até sábado (5) – o movimento busca construir um espaço específico para os pequenos. Com o nome de Ciranda, esse espaço permite que mães e pais fiquem liberados para participar da programação do evento.
“A Ciranda do MAB começou a acontecer a partir da necessidade das mulheres, que começaram a se organizar no movimento. Para elas poderem participar das atividades, é necessário existir um lugar para deixar seus filhos”, explica Jéssica Portugal, do Coletivo Nacional da Ciranda do MAB.
Aos 11 anos, Dandara Andrioli participa da Ciranda desde que nasceu. Ela é atingida de Minas Gerais e afirma que a Ciranda é muito importante para ela e para sua família. “A gente aprende sobre o que está acontecendo no mundo, sobre o que nossos pais estão discutindo na plenária. Se não tivesse a Ciranda, os pais teriam que deixar as crianças em casa ou levar para a reunião, mas aí eles iam ficar desconcentrados”, relata.
A Ciranda no Encontro tem mais de 30 crianças atingidas, de 0 a 12 anos.
Mais que uma creche
A perspectiva do MAB é que as crianças também são sujeitos da luta dos atingidos por barragens e, por isso, a Ciranda também é um espaço de educação ampla e conscientização sobre a necessidade de transformação da sociedade. Jéssica conta que os temas abordados em cada Ciranda variam conforme o evento.
“Aqui em Mariana, por exemplo, nós trabalhamos temas que estão sendo discutidos nas plenárias, ou seja, o rompimento da barragem de Fundão, a contaminação do Rio Doce e a situação das comunidades atingidas”, conta.
O rio que era doce
A avaliação positiva da Ciranda é unânime entre os pequenos participantes. Lorena de Souza, de 9 anos, é atingida no Rio de Janeiro e só tem a dizer coisas boas. “O que eu mais gosto são as brincadeiras, as músicas. A gente cantou, fez trabalho e brincou na quadra”, afirma.
Atingido pela lama da Samarco (Vale-BHP Billiton), Tiago Vieira, do Espírito Santo, tem 7 anos e conta que desenhar é sua atividade preferida. “Eu gostei de pintar a barragem no papel. Nós fizemos o Rio antes e depois da lama. Antes era limpo, bonito. Depois ficou cheia de barro, tinha peixe morto e ninguém tomando banho”, conta, fazendo referência a uma atividade que abordou o tema da tragédia.
Dandara também adorou essa dinâmica, mas lamenta o quanto a lama deixou o Rio Doce feio e poluído. “Foi muito triste o que aconteceu, com lama não pode mais pescar e nadar”, comenta.
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