Não é novidade que a crise econômica do estado do Rio de Janeiro agravou a falta de investimentos em educação. O Colégio Estadual Compositor Luiz Carlos da Vila, em Manguinhos, é um exemplo prático do descaso do governo estadual. Inaugurado em 2009 como escola modelo, hoje está deteriorado por falta de manutenção em sua infraestrutura. Entre alunos e professores há relatos de falta de energia, água, alimentação e, principalmente, segurança. Desde o início do ano, o colégio vêm sofrendo sucessivos roubos e ataques de depredação ao prédio.
O Colégio Estadual Compositor Luiz Carlos da Vila foi inaugurado no local em que funcionava um quartel do exército, após reivindicação de moradores de Manguinhos, Jacarezinho e Mandela. Construído como unidade modelo, a escola tinha salas de informática equipadas, laboratório de química e física, biblioteca, auditório, ginásio poliesportivo e piscina olímpica.
Com o corte de investimentos e manutenção, a falta de segurança, que gerou roubos e ataques ao colégio, além do apoio a greve dos professores da rede estadual, os estudantes ocuparam a escola por dois meses, entre abril e junho deste ano. Mesmo após o protesto ter se estendido por mais de 80 escolas no Rio de Janeiro e região metropolitana, a situação do colégio não apresentou melhoras.
Hoje, a escola funciona de forma muito precária. Os aparelhos de ar condicionados não funcionam, os poucos ventiladores que sobraram, depois dos roubos, estão quebrados, falta água, após encanamento ter sido quebrado, a quadra está sem iluminação, já que a fiação foi roubada, teto e paredes estão rachados, há também cabines no banheiro sem vaso sanitário. Até panelas as janelas foram quebradas e levadas durante os assaltos.
“Não dá para prestar muita atenção no que o professor está falando porque tem muito barulho sem as janelas. Também faz muito calor ou vento frio. Dá medo do teto cair na nossa cabeça porque tem muitas rachaduras. A única resposta que o governo e a direção do colégio nos deu foi colocar mais grades”, explica a estudante do segundo ano do ensino médio, Ana Beatriz Salustino, de 17 anos.
Outra medida tomada pela direção da escola foi autorizar novamente a entrada de policiais militares no colégio durante horário das aulas. Até o final de 2015, policiais trabalhavam na segurança do colégio e de seu entorno em jornadas extras pagas pelo governo estadual. Com a crise, acabaram sendo dispensados no início deste ano.
“Agora eles vêm no dia que querem. Ficam armados dentro da escola estigmatizando ainda mais os estudantes, que já sofrem com esse modelo de repressão perto das suas casas. A solução não é responder com mais violência”, argumenta a professora de sociologia Lucília Aguiar.
Como primeira obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na cidade, a escola foi criada não só para atender 1400 estudantes, mas também para oferecer atividades às famílias. Segundo relato de professores, até 2011, atividades como natação, futebol e cursos estavam abertos à comunidades do entorno. Mas, após mudança de gestão, a escola passou a ser espaço restrito aos alunos e professores.
“Isso causou um estranhamento das comunidades com o ambiente escolar. Em seguida veio toda a crise do estado. Com a falta de investimento, a escola foi se deteriorando sem manutenção. Começamos a sentir de forma mais agressiva esse ano. Deixamos de ter porteiro, faxineiros e seguranças”, explica a professora Lucília Aguiar.
Pais, alunos, professores e moradores locais estão se organizando desde o início do ano para cobrar uma posição do governo do estado. Além do movimento de ocupação do colégio, o grupo já enviou uma denúncia ao Ministério Público (MP) estadual, além de cartas e abaixo assinados a Secretaria estadual de Educação e Assembleia Legislativa. Agora se organizam para recompor o conselho escolar para as novas eleições da direção e escrevem uma nova carta que será encaminhada diretamente ao governador para tentar uma reunião.
Procurada pelo Brasil de Fato, a assessoria de imprensa do governo do estado informou que equipes da Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) e da Empresa de Obras Públicas do Estado (Emop) estiveram no colégio visando dar início ao projeto de construção de um muro da unidade. “A proposta é substituir a atual grade baixa, que favorece o ingresso de usuários de drogas, já que existe um ponto de consumo nas proximidades. Em eventuais problemas de segurança, as direções são orientadas a registrar o caso nas delegacias de polícia ou nos batalhões locais para as devidas providências”, explicou assessoria em nota.
“A nossa situação é grave mas não é muito diferente do resto do estado. Todas as escolas estão sofrendo. No nosso caso, passamos por um processo complexo de disputa desse espaço. A comunidade está resistindo para manter essa escola, enquanto outros grupos estão tentando fazer com que ela feche. Nós vamos continuar lutando”, conclui Lucília Aguiar.
Edição: Vivian Virissimo
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