Eram cinco jovens, desses que vemos todos dias por ali. Que levavam suas vidas, como é possível se levar por ali. Estavam na rua com seus sonhos e seus medos, como todos os dias ficavam por ali.
Mas, de repente, um carro macabro virou a esquina. Dele desceram homens macabros, vestindo fardas macabras e tinham armas macabras nas mãos. Gritavam e perguntavam por coisas que não foi possível prestar atenção. Os jovens, já conheciam aquela visão, porém, sentiram medo.
Todos ouviram um tiro. Um dos jovens acolheu a bala no peito e se recolheu ali, no chão, embaixo da luz do poste. Um outro sentiu uma carícia, feito coronhada na nuca, depois não sentiu mais nada. Os outros três sentiram pânico ao se arrastarem para dentro do carro macabro.
Eram cinco jovens, que ninguém mais os viu por ali.
As cores igualam aqueles corpos, seja a do sangue, seja a da pele. As dores marcaram aqueles corpos, seja pelo sangue, seja pela pele. As mortes são quase sempre nas bordas. As vítimas são quase sempre jovens. Os jovens são quase sempre todos pretos.
Ninguém fala, mas todos sabem, foi retaliação! Pois quando um militar cai, vários civis se vão.
A violência é sem metáfora e sem cortes. É tipo um trauma que só de pensar o corpo treme. Até a criança chora na presença da PM. Mas a madame diz que não, que isso é implicância nossa, que de tudo fala. Só que mais alguns irmãos pretos foram levados pra vala.
Me diga Brasil, onde mora seu racismo? Não é fingindo que não existe, que vamos acabar com o extermínio.
Por hora, seja com chicote ou cassetete, meu povo é violentado. Morre preto, morre preta, na bala, ou na caneta, e a moça ainda insiste em pedir que eu esqueça.
Mas não, não estou pedindo paz, se é isso que está pensando. Exijo aqui é justiça, pois são mais de quinhentos anos.
*Vagner Souza é escritor e co-fundador do Sarau da Brasa. É autor do livro De Lágrimas, Revides e Futuros, que será lançado no próximo dia 19 de novembro.
**Jonathan Moreira Ferreira, 18 anos, César Augusto Gomes Silva, 20, Caique Henrique Machado Silva, 18, Jonas Ferreira Januário, 30, e Robson de Paula, 17 – que ficou paraplégico ao ser baleado pela polícia -, foram assassinados após saírem de carro da zona leste da capital paulista para uma festa em Ribeirão Pires. Em protesto às suas mortes, movimentos populares convocaram um ato nesta quinta-feira (10), a partir das 18h, no Largo São Francisco, na região central da capital.
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