Nesta sábado (19) será realizado o evento "Herança Brecht", uma jornada de discussões e intervenções artísticas organizada pela Companhia Kiwi de Teatro. A programação tem o objetivo de discutir a atualização da obra e dos pensamentos do dramaturgo e poeta alemão Eugen Berthold Friedrich Brecht, após 60 anos de sua morte, e os 80 anos do nascimento do dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, uma das figuras mais importantes do teatro brasileiro, morto em 1974.
O evento terá início com um debate com os convidados Idibal Pivetta/César Vieira, autor, diretor de teatro e fundador do Teatro Popular União e Olho Vivo (TUOV), Alexandre Mate, professor de teatro da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), Paulo Bio, doutorando em teatro pela Universidade de São Paulo (USP), e um represente da área de cultura do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O debate será intercalado com apresentações de trechos da peça "A exceção e a regra", de Brecht.
Em seguida, será exibido o filme Kuhle Wampe, dirigido por Slatan Dudow com roteiro do dramaturgo alemão, acompanhado de um debate com o professor de Letras da USP, Marcos Soares. Por fim, será realizado um show de bolso com canções de Brecht e de Kur Weill, com a cantora Cida Moreira.
Segundo Fernanda Azevedo, atriz e integrante da Cia. Kiwi, a ideia do evento é reivindicar Brecht "como se ele estivesse vivo hoje".
"Eu acho que Brecht é uma referência para muitos grupos de teatro da cidade de São Paulo e, com certeza, a herança de seus trabalhos artísticos passam por quem não o utiliza diretamente. A ideia do evento é reformular seu pensamento, trabalhando de forma dialética o que foi construído por ele e por outros", afirmou. "A gente reivindica essa herança não apenas pelo dramaturgo que ele foi e pelos métodos do Teatro do Distanciamento, mas pelo pensamento crítico que ele trouxe em seus trabalhos. Isso está presente no movimento de teatro de grupo de SP, que cresceu muito nos últimos 15, 20 anos", continuou Fernanda.
A atriz destaca ainda o contexto político atual brasileiro como um dos motivos da necessidade de reviver a obra de Brecht. "Temos que pensar a conexão da arte com a realidade, com o momento histórico. Vivemos em tempos sombrios, como diz um dos poemas de Brecht. Ele também viveu tempos terríveis, passou pela Segunda Guerra Mundial, foi exilado, só conseguiu aplicar o que pensava no final de sua vida, com uma estrutura e espaço físico de teatro para montar sua própria companhia. Foi muito prejudicado como artista. Agora temos uma outra história, mas percebemos o momento de retrocesso no Brasil e mundialmente. Por isso, nossa ideia é resgatar Brecht, dizendo que as grandes ideologias e a luta de classes estão aí, presentes, e isso aparece no que a gente faz. Queremos que nossos trabalhos reflitam criticamente sobre o mundo que vivemos, em parceria com movimentos sociais, para transformar a vida. A arte é um espaço com possibilidade de ação crítica e não apenas passiva", apontou.
O evento, que tem o apoio do Programa e Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo, terá entrada gratuita, e será realizado na sede da Cia. Kiwi, na rua Frederico Abranches, 189, a partir das 14h30. "A ideia é que seja bastante livre, com clima de conversa. Queremos trazer conteúdo, mas também criar um dia festivo, para festejar a necessidade mundial de momentos de alegria revolucionária", apontou Fernanda.
Edição: Camila Rodrigues da Silva
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