A Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgou, nesta semana, uma carta em repúdio às declarações do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, durante a Conferência Mundial do Clima (COP22), em Marrakesh, no Marrocos. “As falas do ministro expressam muito bem o pensamento do atual governo usurpador sobre a realidade do campo”, expõe o documento.
Na ocasião o ministro declarou se sentir “feliz em saber que de ontem para hoje morreram menos 150 ambientalistas, porque ontem ouvi que eram 200 por ano e agora diz aqui que foram 50”. Segundo a ONG Global Witness, foram registrados 150 mortes de ambientalistas no ano passado, 50 delas somente no Brasil. Segundo a CPT, a declaração “se somou ao conjunto de autoridades policiais e do Judiciário que tentam jogar na vala comum dos desentendimentos pessoais os assassinatos em conflitos no campo”.
A CPT questiona outra declaração do ministro, que disse que "a agricultura brasileira é a mais sustentável do mundo, todos os rios são protegidos por uma legislação". A entidade lembra que há no país um "cenário crescente de degradação ambiental, decorrente do aumento do desmatamento tanto da Floresta Amazônica, quanto do Cerrado, e do descontrolado uso de agrotóxicos pelo agronegócio brasileiro".
Números do conflito
A carta também destaca que a Amazônia continua sendo o “palco maior dos conflitos e da violência”. Segundo a entidade, de janeiro a outubro de 2016, 75% dos conflitos por terra ocorreram no território e o número de famílias expulsas aumentou 110%, com ações de pistolagem, passando de 438 em 2015 para 920 famílias expulsas em 2016.
A região ainda teve 39 assassinatos contabilizados até o final de outubro deste ano e as tentativas de assassinato deram um salto de 142%, passando de 19, em 2015, para 49, em 2016.
Outro número lembrado pela CPT é de vítimas detidas e criminalizadas em ações de despejo. Essas "famílias são levadas à delegacia e fichadas, enquadradas nos crimes de formação de quadrilha e esbulho possessório, ou outras formas de violência “legal”, afirma a carta. “Isso deixa mais que claro que não se trata simplesmente de “problemas de relacionamento”, como disse o ministro, mas faz parte de um quadro muito grave propiciado pelo ambiente político golpista, marcado por perseguição, criminalização e eliminação de quem tente se opor aos que se consideram donos e senhores das terras, dos territórios”, afirma o documento.
Edição: Simone Freire.
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