¡Aquí Radio Rebelde, desde el território libre de Cuba!
Com essa chamada radiofônica, amplamente conhecida pelo povo cubano ainda nos dias atuais especialmente na voz da locutora Violeta Casal, a Rádio Rebelde transmitiu clandestinamente a ação guerrilheira[1] comandada por Fidel Castro direto da Sierra Maestra contra a ditadura de Fulgêncio Batista, iniciada em 1952. As emissões clandestinas, realizadas de 24 de fevereiro de 1958 a 1º de janeiro de 1959, eram feitas diariamente em dois horários à noite nas bandas de 20 e 40 metros.
Naquela época e ainda mais hoje, 58 anos após tal feito, fica claro o relevante papel desempenhado pela emissora com vistas ao triunfo da Revolução. Se os meios de comunicação legalizados em Cuba estavam a serviço e/ou sob controle da ditadura de Batista, na Sierra Maestra - desde 1956 - os rebeldes providenciaram sua rede de informações e comunicações voltadas aos próprios guerrilheiros e ao povo cubano. Uma dessas ferramentas (na verdade, praticamente uma arma) foi a Rádio Rebelde.
A ideia da utilização da rádio pelo Exército Rebelde foi de Ernesto Che Guevara, que também comandou o traslado dos equipamentos e a instalação da emissora.
Para saber mais sobre a história da Rádio Rebelde, ouça o radiodocumentário "A Radio Rebelde como arma de guerrilha do Exército Rebelde", produzido pela jornalista Beatriz Pasqualino como material complementar à dissertação defendida no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Unicamp, sob orientação do professor Marcelo Ridenti.
Com a assinatura “Rádio Rebelde, la voz de la Sierra Maestra”, em sua primeira transmissão os locutores anunciaram que diariamente informariam sobre “a verdade sobre os fatos que ocorrem na Sierra Maestra”, servindo como “fiel fonte de informação à imprensa nacional”. Vale destacar que os locutores da Rádio Rebelde eram profissionais cujas vozes eram bem conhecidas pela população cubana e que tinham abandonado as emissoras onde trabalhavam para se somar às atividades de guerrilha.
A emissora centralizava ainda, as comunicações entre as tropas do Exército Rebelde. Isto porque cada coluna providenciou sua própria estação de rádio para estabelecer contato com a emissora central a fim de obter e repassar informações militares.
Ouvir a emissora, contudo, era atividade clandestina em Cuba, o que não impediu sua crescente audiência em todo o país. Não raro são os relatos de que as pessoas ouviam a Rádio Rebelde escondido em casa e com o volume muito baixo para que os soldados e os vizinhos apoiadores de Batista não os ouvissem.
A música esteve presente na Radio Rebelde desde a transmissão inaugural, que foi iniciada com o Himno Invasor. Um trecho instrumental dessa música precedia as emissões e se transformou em marca registrada das emissões clandestinas. Além dos hinos, as transmissões radiofônicas clandestinas contaram com o chamado Quinteto Rebelde. Tratava-se de um grupo composto por camponeses de uma mesma família e que foram convidados por Fidel para tocar música durante as transmissões.
No contexto da guerrilha, contudo, a música não era entendida como entretenimento, mas sim como ferramenta política na luta por libertação. Foi a partir desse entendimento que Fidel pede ao Quinteto Rebelde que as letras das canções tivessem conotação política. Tratava-se, portanto, de usar a música como instrumento de pressão psicológica naquele contexto. Mas a missão desses camponeses músicos não se limitava a tocar durante as transmissões regulares da Rádio Rebelde ao povo cubano. Equipamentos móveis da emissora eram levados pelos rebeldes até a região de combate com os soldados da ditadura e era uma verdadeira arma durante os enfrentamentos.
O alcance da Rádio Rebelde não se limitava, porém, ao território cubano. A emissora ganhou repercussão internacional, levando a outros países a versão dos revolucionários sobre a conjuntura de Cuba naquele período de ditadura e guerrilha. Isto porque, por utilizar ondas curtas, seu sinal era captado e retransmitido por outros países da América Latina. Era a chamada “Cadeia da Liberdade” (ou “Cadena de la Libertad”). Ao fim da guerrilha, eram cerca de 32 emissoras em rede com a Rádio Rebelde.
Para Fidel, a emissora se converteu em um meio de divulgação massivo dos revolucionários ao fazer a transmissão de informações sobre a situação militar da guerrilha. Ele argumenta ainda que ela passou a atuar como centro de informações para as diversas tropas que estavam em operação e que tomavam conhecimento da situação e da movimentação dos soldados pelas ondas sonoras.
A Rádio Rebelde desempenhou papel estratégico na guerrilha até o último dia de combate. Em 1º de janeiro de 1959, quando os rebeldes já haviam tomado diversas partes do país e o ditador Fulgêncio Batista havia fugido, a emissora já estava instalada fora da Sierra, na região de Palma Soriano, na província de Santiago de Cuba, e foi por ela que Fidel anuncia a chega da revolução ao país:
LOCUTOR: ¡Aquí Radio Rebelde, desde las puertas de Santiago de Cuba. ¡Atención, muy importante. Ahora viene a los micrófonos de Radio Rebelde el líder máximo de la Revolución cubana, el doctor Fidel Castro Ruz, quién hará trascendentales declaraciones. Con el pueblo de Cuba el doctor Fidel Castro.
COMANDANTE FIDEL CASTRO: Instrucciones a todos los Comandantes del Ejército Rebelde y al pueblo. Cualesquiera que sean las noticias procedentes de la capital, nuestras tropas no deben hacer alto al fuego por ningún concepto. Nuestras fuerzas deben proseguir sus operaciones contra el enemigo em todos los frentes de batalla. [...] El pueblo y muy especialmente los trabajadores de toda la República deben estar atentos a Radio Rebelde, y prepararse urgentemente en todos los centros de trabajo para la huelga general, para iniciarla apenas si reciba la orden, si fuese necesario, para contrarrestar cualquier intento de golpe contrarrevolucionario.[...].
A Rádio Rebelde, findado o período de guerrilha na Sierra Maestra e iniciados os processos para implantar a Revolução, seguiu em operação e até hoje faz transmissões - agora não mais clandestinas. Atualmente tem sede em Havana e conta com programação 24 horas por dia e alcance de 98% do território cubano. É transmitida nas frequências AM (670 - 710 – 1180 Khz), FM (96.7 Mhz) e OC (bandas de 31m e 49m), além da internet. Os programas têm caráter essencialmente informativo, com destaque à cobertura de eventos esportivos. Pode ser ouvida ao vivo pela internet, por meio do endereço www.radiorebelde.cu.
[1] Entende-se como período de guerrilha na Revolução Cubana o intervalo entre o dia de desembarque (2 de dezembro de 1956) em território cubano da expedição do iate Granma, oriunda do México com os revolucionários, ao o dia 1º de janeiro de 1959, considerado marco do triunfo dos revolucionários sobre o Exército da ditadura de Batista, já que os rebeldes deixam a Sierra Maestra e ocupam as cidades cubanas. Portanto, trata-se de um período de 25 meses.
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