Estados Unidos

AO VIVO | Tribunal Popular da Guerra do Iraque denuncia custo humano do conflito

Em carta aberta, ativista do grupo de familiares dos soldados convida o presidente Barack Obama para o evento

Brasil de Fato | São Paulo |
Série de depoimentos sobre custos da guerra do Iraque começam a ser colhidas nesta quinta-feira (1°), em Washigton, DC
Série de depoimentos sobre custos da guerra do Iraque começam a ser colhidas nesta quinta-feira (1°), em Washigton, DC - Arte: Bruno Lima

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A partir desta quinta-feira, 1° de dezembro, ocorrerá em Washington, capital dos Estados Unidos, o Tribunal Popular da Guerra do Iraque. Estarão reunidos veteranos da guerra, além de seus familiares, para denunciar o custo humano e material da guerra que durou entre 2003 e 2012, além de reivindicar a criação da Comissão da Verdade e Responsabilidade pela Guerra do Iraque. A iniciativa é encabeçada pela organização Code Pink e reúne uma série de outros coletivos e institutos de direitos humanos estadunidenses.

O Brasil de Fato é parceiro do evento e irá reportar os principais depoimentos e desdobramentos relativos ao Tribunal. A cobertura especial ocorrerá nos dias 1° e 2 de dezembro com informações direto de Washington.

Stacy Bannerman é advogada, ex-companheira de um soldado, ativista do grupo "Military Families Speak Out" (As famílias dos militares falam, em tradução livre), autora do livro "Como famílias de militares são feridas por nossas guerras" e estará presente no Tribunal. Em carta aberta ao presidente Barack Obama, ela o convida para participar do evento e testemunhar de perto a dor dos soldados e de seus familiares.

“Gostaria que você estivesse lá, senhor presidente. Gostaria que ouvisse – e lembrasse – as mentiras que transformaram essa nação naquela guerra abandonada por Deus. Quero que ouça exatamente o que custou a tantos até o momento: as vidas e as paisagens que foram perdidas, envenenadas ou destruídas; os corações e lares rompidos. Quero que veja as fotos das mulheres que foram assassinadas pela violência de seus companheiros que retornaram da guerra; para olhar nos olhos da mãe cujo filho de doze anos se suicidou durante a segunda passagem do pai pelo Iraque”, diz a ativista.

Em outro momento, a ativista relembra como foi pessoalmente atingida pelas consequências da guerra. “Setenta e seis por cento da nação considera a guerra no Iraque um erro. Esse erro criou centenas de milhares de baixas e custou bilhões de dólares. Esse erro forçou o meu, agora, ex-marido a servir por dois longos anos no Iraque. Seu severo transtorno pós-traumático o conduziu a uma dependência de metanfetamina que custou minha casa, meu trabalho e tudo que eu amo. E quase me custou a vida”, lembra.

Bannerman fala também do momento em que conheceu Obama, durante o verão de 2006, quando ele ainda era um senador. Ela pede para que o presidente se lembre de como se posicionava, naquela época, contra àquilo que chamava de “guerra estúpida”.

“Gostaria que testemunhasse o sofrimento infinito das famílias de militares que ficaram irreconhecíveis pelas lesões morais e físicas de uma guerra injusta. Estou te convidando para participar na esperança de que você se lembre do homem que era no dia em que nos conhecemos. Estou pedindo que mostre a coragem e moral que o levaram até a Sala Oval e crie uma Comissão da Verdade e Responsabilidade pela Guerra do Iraque antes de deixá-la”, afirma Bannerman.

Segundo ela, é necessário que a Comissão seja criada agora, pois a nova administração de Donald Trump, teria “uma proposta, no mínimo, imprevisível” , e iniciaria “um momento de manipulação e de segredos potencialmente piores em torno deste conflito”.

Abaixo leia na íntegra a carta de Stacey Bannerman a Barack Obama, em tradução livre:

Sobre a promessa do Iraque, Senhor Presidente:

Uma carta aberta para o atual chefe de Estado  

Caro presidente Obama,

Nossa primeira reunião foi durante o verão de 2006, quando você era um senador novato. Eu era esposa de um militar, casada com um veterano combatente da guerra do Iraque. Ele se inscreveu para servir seu país, que o enviou para lutar no que você chamava de “guerra estúpida”.

Tornei-me voluntária na Military Families Speak Out (MFSO) As famílias dos militares falam , e nós tentamos trazer as tropas do Iraque de volta para casa. Mas, em junho de 2006, o Congresso votou para “manter o curso”. Algumas semanas depois, eu me juntei com outros membros do MFSO para o lançamento da Operação House Call em Capitol Hill.

No restante do verão, ficamos na frente do prédio do Congresso com cartazes e um número crescente de botas vazias e sapatos de bebês mostrando o custo humano de permanecer em guerra. Estava quente naquele verão, eu não sei se você lembra disso, senhor. Estava tão quente que, quando tiramos as botas e os sapatos de bebês da calçada da frente do Russel Senate Office Building, o asfalto estava derretendo.

Foi ainda mais quente no Iraque, porém, uma vez que não estávamos usando todo o equipamento como nossos entes queridos, estávamos lá fora todos os dias. Suando, chorando, às vezes jurando, e esperando mudar corações e mentes. E reuniões, fomos a muitas reuniões. Havia alguns outros membros da MFSO comigo no seu escritório aquele dia. Falamos por quase uma hora, e você era tudo que eles falaram que você era, e mais.  

Implorei para você se candidatar à presidência e acabar com a guerra no Iraque. Sabemos como isso aconteceu. Você e eu tivemos conversas sérias depois disso, mas não desde que você tomou a Sala Oval. Ao deixar o cargo, seu legado talvez possa ser questionado em diversas áreas, mas certamente suas críticas à guerra no Iraque contarão como um ponto positivo.

Menos para mim e para todos nós afetados pela Guerra no Iraque. E eu me preocupo com o que está por vir na nova administração, que tem uma proposta, no mínimo, imprevisível, e que vem instalando o medo no coração de muitos soldados e de seus familiares.

Setenta e seis por cento da nação hoje considera a guerra no Iraque um erro. Esse erro criou centenas de milhares de baixas e custou bilhões de dólares. Esse erro forçou o meu, agora, ex-marido a servir por dois longos anos no Iraque. Seu severo transtorno pós-traumático o conduziu a uma dependência de metanfetamina que custou minha casa, meu trabalho, e tudo que eu amo. E quase me custou a vida.

Vou testemunhar sobre o que a guerra me custou e às centenas de milhares de outras famílias de soldados veteranos no Tribunal Popular da Guerra do Iraque em Washigton, DC.

Gostaria que você estivesse lá, senhor presidente. Gostaria que ouvisse e lembrasse as mentiras que transformaram essa nação naquela guerra abandonada por Deus. Quero que ouça exatamente o que custou a tantos até agora: as vidas e paisagens que foram perdidas, envenenadas ou destruídas; os corações e as casas que foram rompidos. Quero que veja as fotos das mulheres que foram assassinadas pela violência de seus companheiros que retornaram da guerra; para olhar nos olhos da mãe cujo filho de doze anos se suicidou durante a segunda ida do pai para o Iraque.

Gostaria que testemunhasse o sofrimento infinito das famílias de veteranos que ficaram irreconhecíveis pelas lesões morais e físicas de uma guerra injusta.

Estou te convidando para participar na esperança de que você se lembre do homem que era no dia em que nos conhecemos. Estou pedindo que mostre a coragem e moral que o levaram até a Sala Oval e crie uma Comissão da Verdade e Responsabilidade pela Guerra do Iraque antes de deixá-la. Agora, mais do que nunca, precisamos iluminar a verdade à medida que entramos em um momento de manipulação e segredos imprevisíveis e potencialmente ainda piores em torno deste conflito e outros.

 

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