O Tribunal Popular da Guerra do Iraque se reúne pelo segundo dia nesta sexta-feira (2). O foco dos relatos e debates deste segundo momento é apresentar um panorama geral das consequências que a invasão estadunidense causou.
O evento ocorre em Washington D.C., capital dos Estados Unidos, desde quinta-feira (1º), e reúne veteranos e seus familiares para denunciar o custo humano e material da guerra que durou entre 2003 e 2012, tanto no país invadido como nos próprios Estados Unidos, além de reivindicar a criação de uma Comissão da Verdade e Responsabilidade pela Guerra do Iraque.
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“Nós usamos nosso poder econômico para impôr uma suposta solução sobre os Iraquianos”, diz Peter Van Buren, para quem a guerra foi uma “fraude”. “Nós falhamos completamente. Falhamos com o povo americano. Falhamos com os iraquianos, deixando seu país pior. Nós trabalhamos em aliança com os piores setores do Iraque simplesmente porque era conveniente”, avalia ele.
Buren também criticou a atitude das autoridades públicas dos EUA em relação àqueles que criticam a presença militar do país no Iraque, incluindo perseguição e pressões.
“Olhem o que acontece com quem denuncia crimes de guerra: suicídio, prisão perpétua”, criticou, fazendo menção ao caso de Chelsea Manning, integrantes das Forças Armadas que denunciou crimes de guerra.
A iniciativa é encabeçada pela Code Pink, organização norte-americana de mulheres pela paz, e reúne uma série de outros coletivos e institutos de direitos humanos estadunidenses. O julgamento continua nesta sexta-feira (2).
Violações
Além de ex-militares veteranos, pesquisadores, jornalistas e ativistas deram seus relatos sobre a invasão do Iraque.
Nicolas Davies, jornalista britânico, afirma que o contexto caótico no qual o Iraque submergiu é fruto direto da atuação dos EUA e do Reino Unido. Segundo ele, a invasão, agravada pela ausência de justificativas, significou um ato grave de desrespeito à soberania dos povos: “o problema central da invasão do Iraque é que ela é um crime em si. Os EUA são os principais responsáveis pela atual violência naquele país”.
O britânico afirma que este primeiro crime deu ensejo a outras violações. “Há uma documentação extensa apontando que oficiais dos EUA deram ordens que violavam leis internacionais e são crimes de guerra”. Ele cita diversos exemplos de desrespeito à Convenção de Genebra, como “tortura” e a “execução de inimigos capturados bombardeio de prédios com civis”.
A escritora Phyllin Bennis, diretora do Instituto para o Estudo de Políticas, indica que os supostos objetivos que fundamentaram a invasão do Iraque se mostraram equivocados e tiveram efeitos graves sobre a população iraquiana.
“O Iraque não teve qualquer relação com o 11 de setembro, faz sua invasão foi parte central da chamada Guerra ao Terror”, constata Bennis. “A visão de que a guerra é a resposta ao terrorismo talvez seja a pior consequência do Iraque. Esse método falhou. E nós, enquanto país, nos recusamos a aceitar isso. Após 15 anos, o terrorismo ainda está aí. É possível bombardear cidades e pessoas. ‘Com sorte’, algum terrorista, mas isso não vai vencer o terrorismo, pelo contrário”.
Neste contexto, segundo ela, o insucesso das ações militares fomenta e estimula o terrorismo: “As consequências da guerra estão na casa dos trilhões. A economia iraquiana foi completamente destruída. O tecido social foi desfeito. O radicalismo emergiu nesse contexto. O Estado Islâmico nasceu por conta da invasão dos EUA”, aponta.
Amplitude
As consequências da Guerra do Iraque, e da escalada militar no geral, vão além das consequência imagináveis. O esforço bélico dos EUA é tão intenso, que há reflexos para todo o mundo, incluindo impactos sobre o ambiente.
“Se a Guerra do Iraque fosse considerada um país de forma isolada, o volume de gases estufa emitido a colocaria como mais poluidora do que outras 139 nações”, indica o ambientalista Bill McKibben.
“Em 2006, os EUA sozinho gastaram mais dinheiro na guerra do que o mundo todo em energia renovável”, continua.
Edição: Camila Rodrigues da Silva
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