O ano de 2016 foi de muita luta para os servidores do Estado do Rio. Em meio a atraso de salários, greve, cortes de ponto e ameaças, a mobilização tomou conta do cotidiano no Estado. Foram diversos atos das categorias e negociações em prol de um direito básico, que é o pagamento integral de salários. O governo alega que está endividado e que, por isso, precisa arrochar o salário dos trabalhadores. No entanto, esconde as isenções fiscais dadas às joalherias e empresas de cerveja, as quais devem milhões aos cofres públicos. A crise financeira, que na verdade é uma crise de prioridade, está servindo de pretexto para o sucateamento da saúde, educação e dos demais órgãos estaduais. Além disso, o governo responde às nossas manifestações com muita repressão e truculência e mostra que, definitivamente, não governa para o povo fluminense. Toda essa conjuntura está afetando diretamento a vida dos cotistas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (RJ).
Para a juventude, o período de mobilizações intensas também foi constante. Nós, estudantes da UERJ, unificamos com as demais categorias durante a greve de quase 7 meses da nossa universidade, e fizemos muita luta. Saímos da greve em setembro com o acréscimo de R$ 50,00 em nossas bolsas de pesquisa e auxílio permanência. Uma vitória parcial, que apontou para a necessidade da unidade entre os estudantes e da organização do Movimento Estudantil. Mas, depois de 3 meses desde o fim da greve, o governo nos ataca mais uma vez.
É importante dizer que a UERJ é pioneira na política de cotas raciais e sociais. Desde 2000, acompanhamos a democratização da Universidade e a inclusão de estudantes das escolas estaduais, negros e indígenas, que historicamente têm o seu acesso negado ao ensino superior. Contrariando os discursos elitistas e racistas, os cotistas possuem rendimento tão bom quanto os que ingressam por ampla concorrência. As cotas são fundamentais e não abrimos mão desse direito.
Por isso, a UERJ é hoje uma das Universidades mais populares do Rio. No curso de História, por exemplo, temos aproximadamente 500 estudantes, sendo 324 cotistas. Esse fato nos orgulha muito porque acreditamos que a juventude periférica e filha da classe trabalhadora precisa ocupar todos os espaços.
Atraso no pagamento das bolsas permanência
No entanto, se hoje temos a inclusão, vemos que a permanência é um problema na vida dos cotistas. O valor da bolsa é pequeno perto das necessidades, o bilhete único intermodal e intermunicipal não é garantido, muitas mulheres precisam trancar a Universidade pois não existe creche para atendê-las e o atraso nos materiais dos cotistas (livros, pen drives) é constante. Hoje, essas pautas são centrais no Movimento Estudantil da UERJ. Agora, enfrentamos mais um problema: o atraso das bolsas dos cotistas, que tornou-se constante.
Com a crise de prioridades do PMDB, as bolsas atrasam e isso compromete a conclusão do período de quase metade da Universidade. Para os ouvidos das elites, pode parecer estranho entender que um estudante precisa da bolsa permanência para estudar, mas para nós, filhos e filhas da classe trabalhadora, isso é uma realidade que mexe com a nossa estabilidade emocional, financeira e acadêmica.
Em 2015, ano em que o governo do Estado já mostrava sinais de que iria massacrar o funcionalismo público, nós ocupamos a UERJ. Seguindo o exemplo dos estudantes secundaristas de São Paulo, saímos da lógica de ocupar reitorias e tivemos a ousadia de ocupar todos os campi da Universidade: do Maracanã aos prédios da Saúde, chegando à São Gonçalo, Caxias, Resende. Alteramos por 18 dias a lógica da Universidade. E tudo isso por duas pautas centrais: pagamento imediato das bolsas dos estudantes e dos salários dos trabalhadores terceirizados. Com o mote “Sem bolsa, sem aula”, passamos a gerir quem entrava e fizemos piquetes todos os dias. Coletivizamos por 18 dias nossos sonhos de uma Universidade mais justa, compartilhamos nossa alimentação, segurança e luta. Realizamos um festival, o “Ocupa UERJ”, que contou com ampla presença da sociedade civil e de artistas renomados. A comunidade da Mangueira, que está ao lado do campus Maracanã e que sempre estranhou o prédio de concreto, participou de rodas de conversa, aulas públicas e muitos momentos de diversão. Foi uma importante atividade de rearticulação do Movimento Estudantil, do nosso fortalecimento e de obtenção da pauta concreta.
Hoje nossas bolsas estão atrasadas há mais de 1 mês e o governo já apontou que não tem dinheiro para pagar. A luta não pode parar. Nossos desafios para o próximo período são a unidade entre os setores, resistência da educação pública de qualidade, do funcionalismo público e a defesa irrestrita da política de cotas, que tem sua validade até o ano que vem (2017). Precisamos lutar com unhas e dentes para que ela continue e pelo pagamento integral das bolsas. Precisamos também lutar contra o Pacote de Maldades do Pezão, que visa cortar ainda mais da educação pública e dos salários. Mesmo com bombas e acionamento da segurança nacional, nossa resposta deve ser pressão e muita mobilização. Calamidade é o PMDB! Os estudantes não vão pagar pela crise!
Maíra Marinho é estudante de História, membro do Centro Acadêmico de História (CAHIS) e militante do Levante Popular da Juventude
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