Na noite desta quarta-feira (8), dez manifestantes, na maioria jovens estudantes, foram levados para a Delegacia de Crime Organizado (DRCO) pelos policias militares durante ato contra a Proposta de Emenda Constitucional 55 (antiga PEC 241), em Belém (PA). A PEC, que está tramitando no Senado e deve ser votada em segundo turno ainda este ano, tem como proposta congelar os investimentos em setores sociais, como educação e saúde, por 20 anos.
Yan Campo, 21, faz parte do coletivo Rua e contou que a caminhada foi pacífica até a chegada na sede do PMDB, mas sempre acompanhada de muitos carros e motos da Polícia Militar. Em dado momento, alguns policiais prenderam um rapaz que estava filmando a manifestação, e Campo perguntou para qual delegacia iriam levá-lo. Neste momento, acabou sendo intimado a também entrar na viatura.
“Fui atrás para saber o que estava acontecendo, para saber como proceder e em qual delegacia eles [policias] iriam levá-lo. Então, eu fui convidado também para ir com ele, acompanhá-lo até a delegacia. Eu disse que iria ligar para o advogado do lado de fora da viatura, que não iria entrar, e o policial pegou no meu ombro e disse para eu ligar para o advogado de dentro da delegacia. Para não gerar conflito, e como o meu companheiro já estava dentro da viatura. eu acompanhei”, relatou Campo.
Após a chegada na sede do PMDB, um grupo de pessoas que participam da manifestação jogaram objetos no prédio, o que causou tumulto e detenções de manifestantes que participavam do ato de forma pacífica. Foi o caso de Robert Rodrigues, 23, integrante do Levante Popular da Juventude que estava filmando o ato.
“Quando comecei a filmar, veio um [policial] em cima de mim e me pegou também. Não tinha muito o que fazer. Estava acostumado a sempre filmar os policiais prendendo as pessoas, e não esperava isso. Pegaram mais três e levaram para o camburão. No total foram 10 pessoas presas”, descreveu o jovem.
Todos os dez manifestantes assinaram um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e irão responder em liberdade.
Outros grupos
Rodrigues conta que as pessoas que jogaram objetos na sede do PMDB não foram reconhecidas como integrantes dos grupos que normalmente participam das manifestações. Durante a ida para a delegacia, outros grupos jogaram pedras em bancos privados nas proximidades onde ocorria a caminhada.
Ele ainda relata que, quando foram levados para a delegacia do bairro de São Brás, permaneceram no camburão da Ronda Ostensiva Tática Metropolitana (Rotam) por mais de meia hora. Após isso, ainda no carro, os policiais percorrem um quarteirão e trocaram de viatura seguindo para a delegacia do bairro da Sacramenta.
Aos poucos, chegavam mais viaturas com outros manifestantes. Segundo Rodrigues, os policiais provocaram os estudantes a falarem sem a presença dos advogados na delegacia e pegaram mochilas e outras bolsas para revistar.
Estado de exceção
Alguns advogados chegaram à delegacia para prestar assessoria jurídica. Uma delas, Eliana Borgea, conta que a repressão é sinal de um estado de exceção que já está instalado.
“A ação da polícia tem sido sempre truculenta, desproporcional. Não tinha necessidade nenhuma de eles prenderem nenhum manifestante. A gente já está vivendo um estado de exceção pelo apoio jurídico que a gente tem dado. Na sexta-feira passada estivemos na Delegacia de Crimes Funcionais (DECRIF) para denunciar dois delegados que agrediram uma estudante de 18 anos. No sábado, nós a acompanhamos para fazer exame de corpo de delito”, conta Borgea.
A assessoria de comunicação da Policia Civil informou que quatro manifestantes assinaram TCO acusados de desacato e tumulto e que outros seis irão responder por terem atirados objetos contra os bancos privados localizados no bairro de Nazaré.
Edição: Camila Rodrigues da Silva
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