Há um ano, no dia 10 de dezembro de 2015, Mauricio Macri se mudava para a Casa Rosada e assumia a presidência da Argentina após 12 anos de era Kirchner, em que o país foi governado pelo projeto progressista de Néstor e Cristina. O representante do partido Proposta Republicana ultrapassou o candidato justicialista Daniel Scioli no segundo turno, com uma margem estreita de 51,4% de votos.
Engenheiro e empresário, herdeiro do conglomerado de empresas de seu pai Franco Macri e citado nas denúncias da investigação internacional Panamá Papers por envolvimento em uma empresa de fachada, Macri teve uma de suas maiores projeções políticas, até assumir a presidência da Argentina, no comando do Boca Juniors, maior clube de futebol do país. Ele dirigiu o time entre 1995 e 2008, enquanto também exercia os cargos de deputado e prefeito de Buenos Aires.
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Economia
Desde que Macri assumiu o cargo, sob a principal bandeira de fazer reformas que impedissem a recessão da economia argentina, as disparidades sociais só aumentaram. O presidente eliminou os controles de câmbio e as restrições comerciais do país e deixou que o peso argentino flutuasse livremente, o que gerou aumento na inflação e queda no poder aquisitivo dos trabalhadores.
Ao longo do ano, a população argentina realizou uma série de atos de resistência ao seu plano econômico, apelidando o aumento generalizado nos preços de serviços públicos (como transporte, energia e gás) como "tarifazo". Em agosto, Macri tentou aprovar um aumento de mais de 1.000% nas tarifas de gás, mas a proposta foi barrada pela Suprema Corte.
Uma das medidas prometidas pela campanha de Macri foi baixar a inflação "em um dígito". No entanto, o índice de inflação previsto para fechar 2016 está acima dos 40%. Em 2015, Cristina Kirchner fechou a taxa anual com 27%. Já os índices mais recentes do governo sobre pobreza, divulgados em setembro, indicam que 32,2% da população argentina é considerada pobre e 6,3% indigente. Em julho houve uma queda de 5,9% na atividade econômica e 0,5% no Produto Interno Bruto (PIB), segundo dados do Banco Mundial.
Em relação ao desemprego, o último dado divulgado pelo governo Macri, de agosto deste ano, mostrou uma taxa de 9,3% de desempregados, sendo que no final de 2015 o número oficial estava em 5,9%. Segundo dados do Sistema de Seguridade Social da Argentina, em novembro de 2016 foi registrado um aumento de 127 mil argentinos desempregados, além dos já existentes no início do ano.
Política Exterior
O primeiro ano do governo Macri tem representado uma aproximação com o governo dos Estados Unidos, marcada pela visita de Barack Obama ao país, em março deste ano. O plano do presidente argentino é buscar um apadrinhamento de países que têm como prioridade o capital, o que também ficou claro pela presença de Macri no Foro Econômico Mundial de Davos, realizado na Suíça em janeiro deste ano, onde ele falou dos vínculos que busca estabelecer com os EUA e com a Europa.
Alguns dias antes de assumir o cargo, a ministra das Relações Exteriores da Argentina, Susana Malcorra, chegou a afirmar que pretendia "desideologizar" a política externa do país. Ela também sinalizou ser favorável à suspensão da Venezuela do Mercosul. Durante os 12 anos no poder, os Kirchner priorizaram a política externa na América Latina, incluindo o Mercosul, tendo sido aliados da Venezuela de Hugo Chávez e de Nicolás Maduro e mantendo relação distante com os Estados Unidos.
Em relação ao mercado internacional, Macri reabriu os diálogos com os chamados "fundos abutres" - fundos que não aceitaram a renegociação da dívida externa da Argentina feita durante o governo de Néstor - chegando a sucessivos acordos ao longo do ano, com o objetivo de fazer com que a Argentina voltasse a receber grandes investimentos internacionais.
Macri também derrubou na primeira semana de governo o "cepo cambial", nome dado a série de restrições à compra de dólar feitas por Cristina. Em setembro, o governo também promoveu o Fórum de Investimento e Negócios da Argentina, que reuniu cerca de 2.000 empresários e investidores em Buenos Aires.
Meios de Comunicação
Os meios de comunicação e a censura há tempos são temas discutidos pela sociedade e política argentina. Desde 2009, com a aprovação da Lei 26.522 de Serviços de Comunicação Audiovisual, popularmente conhecida como Ley de Medios, que regulamenta e democratiza os veículos de comunicação do país, o assunto entrou ainda mais nos holofotes da opinião pública.
Logo em dezembro de 2015, Macri já interferiu na Autoridade Federal de Serviços de Comunicação Audiovisual (Afsca) e na Autoridade Federal de Tecnologias da Informação e da Comunicação (Afstic), visando desconstruir a regulação democrática por meio de decretos de urgência, sem qualquer debate com o Parlamento e a sociedade civil. Macri nomeou um interventor para a AFSCA e transferiu para seu Ministro de Comunicação poderes que antes eram do órgão.
A censura de movimentos populares também tem se tornado marca do governo Macri. Em 16 de janeiro, a liderança indígena Milagro Sala foi levada para a delegacia das mulheres após ter sido acusada de "incitar tumultos". A presidenta da organização Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, também está sendo perseguida, tendo sido detida em agosto pela acusação de supostos desvios de fundos pertencentes ao Estado, através do programa de moradia "Sonhos Compartilhados".
Aprovação
A aprovação do governo Macri tem caído gradativamente desde sua eleição. Uma pesquisa recente do instituto Management & Fit indica que, após um ano no poder, 43,1% da população considera a gestão de Macri negativa ou muito negativa, e 25,9% considera positiva ou muito positiva. Já a imagem pessoal de Macri é bem vista por 40% da população. Cristina Kirchner deixou seu governo com aprovação pessoal entre 35% e 40%.
Ao avaliar seu primeiro ano de governo, o próprio Macri se deu "nota 8", afirmando que sua maior conquista foi a inflação. "A inflação foi o maior êxito que tivemos. Estamos com uma média de 1,5% mensal, que ainda está longe da cifra que precisamos chegar", afirmou, completando que pensa em um horizonte de dois mandatos.
Edição: José Eduardo Bernardes
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