Seis unidades produtivas de pequenos agricultores do estado do Rio Grande do Sul conquistaram a certificação de produção agroecológica, que regulariza a venda de produtos orgânicos. O Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) comemora a conquista, que simboliza um avanço no combate ao modelo de produção do agronegócio.
“Esse é um momento de celebração para todos nós, um momento de alegria, que renova nossa força para seguirmos sempre em frente nessa luta pela produção agroecológica”, destacou a engenheira agrônoma do MPA, Evelise Martins, que acompanhou o grupo. “Foram momentos muito intensos neste período de aprendizado, de superação de dificuldades, de debates e reuniões, de fortalecimento e de sonhos que fomos compartilhando ao longo da jornada”, completou.
Localizadas nas municípios de Seberi, Erval Seco, Cristal do Sul, Vicente Dutra e Ametista do Sul, as seis unidades certificadas foram reunidas em um grupo denominado “Promotores da Vida”. O ato de entrega da certificação foi realizada no Centro de Formação da Cooperbio (Cooperativa Mista De Produção Industrialização e Comercialização de Biocombustíveis do Brasil Ltda), cuja área de produção também faz parte do grupo certificado.
Processo
Para obter a certificação, as famílias foram avaliadas pelo Organismo da Avaliação da Conformidade Orgânica (OAC), credenciado junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Após isso, o agricultor está autorizado a vender seus produtos nas feiras, para as compras do governo (merenda e CONAB), supermercados e restaurantes, indústrias, por exemplo, utilizando o selo do Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica (SisOrg). A renovação da certificação é realizada anualmente.
“Todas as famílias que passaram pelo processo burocrático de regulamentação há muito tempo produziam sem a utilização de venenos, adubo químico ou transgênicos, produzindo alimentos agroecológicos que seguem linhas mais sustentáveis de produção. Com isso, pensamos nos consumidores e na necessidade de comer melhor, de forma mais saudável. Isso nos fez perceber que esses consumidores precisam de garantias de que os produtos realmente não tinham agrotóxicos e não eram transgênicos. Por isso, surgiu a necessidade real da certificação”, afirma Débora Varoli, da coordenação nacional do MPA.
Segundo ela, esses certificados representam a resistência dos pequenos agricultores ao modelo convencional de produção. “Se no Brasil se consome, em média, oito litros de agrotóxicos por habitante por ano, nossa região consome em torno de 22 a 25 litros. É muito! Além disso, em nosso país, quem realmente produz alimento é quem menos tem terra e financiamento. Estamos lutando mesmo contra a maré, contra essa coisa maluca que é o agronegócio, que atinge muito os pequenos agricultores”, diz a militante.
Nesse sentido, Martins lembra que um dos gargalos da ampliação da agroecologia é o acesso à tecnologia. "A gente não vem só incentivando a produção agroecológica e orgânica, mas pensamos também em tecnologia para isso. Queremos que cada vez mais agricultores sejam certificados, mas, para isso, temos que dar uma assistência técnica. E essa certificação também é um processo de empoderamento dos agricultores nas suas discussões técnicas, na hora de fazer o planejamento. É um processo bem enriquecedor", diz a engenheira agrônoma.
“São seis famílias certificadas esse ano e mais umas 10 famílias que aguardam a certificação. Agora é ampliar. Ao mesmo tempo, trazer novos agricultores para a proposta e para a certificação. E, além disso, conseguir colocar esses produtos no mercado, produtos com o selo de orgânico, produzidos de forma sustentável, com respeito ao meio ambiente. Nossa proposta é estender a mesa das famílias camponesas para as da cidade”, completa Varoli.
Edição: Camila Rodrigues da Silva
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