O Brasil Imperial foi marcado por uma série de revoltas nos diferentes cantos do país. Entre elas, a Revolta dos Farrapos, ou Revolução Farroupilha, que é tida como uma das mais extensas rebeliões já deflagradas no Brasil. No entanto, muito se omite sobre essa história. E é sobre isso que fala o rap “Manifesto dos Porongos”, do grupo Rafuagi, lançado em novembro deste ano.
Como o próprio nome diz, o rap fala sobre um episódio específico da Revolução Farroupilha, o Massacre dos Porongos, além de ser uma resposta à parte do hino do Rio Grande do Sul, que diz “povo que não tem virtude acaba por ser escravo”.
O Massacre, do qual pouco se fala, ocorreu em 14 de novembro de 1844, quando centenas de homens negros escravizados foram dizimados pelo exército imperial e pelo governo do Rio Grande do Sul.
Isso, no contexto da Revolta dos Farrapos, que durou dez anos e eclodiu no sul do país quando os grandes proprietários de terra, que estavam descontentes com as políticas do governo imperial em relação ao charque gaúcho, organizaram seus exércitos para lutar pela independência da região, sob a liderança de Bento Gonçalves.
Os homens dizimados no Massacre dos Porongos eram os Lanceiros Negros, uma tropa formada por centenas de homens escravizados que lutavam ao lado dos farrapos. Mas, ao contrário do que se pensa, os Lanceiros não tinham o objetivo de conquistar a independência do Rio Grande do Sul. Antes de entrar nessa batalha, os farrapos prometiam que eles ganhariam sua liberdade no final da Revolução. Porém, não foi isso o que aconteceu, como explica o historiador e jornalista Juremir Machado.
“Quando precisou de mão de obra militar e, principalmente, de bucha de canhão, infantaria, aqueles que iam na frente e a pé para morrer, ela usou os negros. Quando não tinha utilidade para eles, ela aceitou traí-los sob um massacre ignominioso”.
Foi justamente um livro escrito por Juremir, o “História Regional da Infâmia“, que incentivou o grupo Rafuagi a produzir a música “Manifesto dos Porongos”. Tanto o livro quanto o rap são algumas das poucas obras que tentam reescrever esse acontecimento e contar a real participação da população negra durante a Revolta dos Farrapos. O vocalista do grupo Rafuagi, Rafa, conversou com a Radioagência Brasil de Fato sobre o assunto.
“Eu fui descobrir isso há três anos atrás. Eu tenho 28 anos hoje, então eu tinha 25. Você vê que eu passei 25 anos da minha vida numa série de ignorâncias, sendo manipulado pelo sistema que, até hoje omite, sonega e mente sobre a história do negro no Rio Grande do Sul. Então, pra nós foi de extrema importância porque você imagina, a gente já está na luta a cada dia descobrindo uma série de coisas, lutando para que as pessoas tenham acesso à informação e demorou para descobrir. Então imagina a galera que não tem acesso, que segue manipulada pelo sistema. Essa revolta é, de certa forma, por todos esses motivos: pela história, pelo sistema que mente, omite e sonega até hoje, mas, principalmente, pra gente começar a reescrever essa história porque a gente sabe que o Rio Grande do Sul é o estado mais racista do Brasil”.
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Mosaico Cultural é uma produção da Radioagência Brasil de Fato
Locução e reportagem: Mayara Paixão
Sonoplastia: Jorge Mayer
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