No aniversário de dez anos do desabamento das obras da estação Pinheiros da linha 4-amarela, nessa quinta-feira (12), o Sindicato dos Metroviários de São Paulo e afetados pelas obras realizaram um ato simbólico na estação Pinheiros em homenagem às vítimas, denunciando a impunidade em relação ao caso. Os representantes dos trabalhadores relacionam o caso à privatização.
“O buraco de Pinheiros é a imagem da privatização do metrô”, escreveram em nota. “Documentos apreendidos pela Polícia Federal apontam a suspeita de pagamento de propina a promotor de Justiça para favorecer as empresas nas investigações”, continua o documento. O Sindicato critica o modelo adotado para a linha 4-amarela. Segundo seus diretores, o mesmo consórcio responsável pelas obras também elaborou o projeto executivo e dirigia a fiscalização das atividades. Ele era formado pelas empreiteiras Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez.
Considerado o maior acidente da história do metrô paulista, sete pessoas morreram na ocasião. Em novembro de 2016, o Tribunal Justiça de São Paulo manteve a sentença de primeiro grau que inocentou 12 pessoas acusadas pelo Ministério Público (MP) – engenheiros e funcionários do Metrô e da empreiteira responsável. A promotoria recorreu ao Superior Tribunal de Justiça.
Os fatores que levaram à "cratera de Pinheiros", entretanto, eram conhecidos antes da tragédia. Moradores dos arredores das obras acionaram as autoridades públicas relatando a existência de rachaduras em suas casas. Segundo relatos, uma casa do bairro chegou a cair durante as obras. De outro lado, o Sindicato à época denunciou problemas de fiscalização e de descumprimento de normas de segurança na construção da estação. Habitantes que tiveram suas casas danificadas esperam até hoje por indenizações.
“Foram ceifadas sete vidas. O buraco foi fruto do descaso do governo do estado. Havia denúncias de irregularidades, falta de funcionários técnicos. O Estado mínimo mata o trabalhador, a trabalhadora e a população”, diz Elaine Damásio, secretária de Comunicação do Sindicato dos Metroviários.
Wagner Farjado, coordenador-geral da entidade, complementa: "Foi um acidente anunciado. Fizemos uma série de denúncias ao longo de 2006 sobre uma série de falhas, principalmente sobre os riscos de acidentes. Nada disso impediu que o consórcio, com conivência do governo, pudesse fazer o que quisesse. Transgrediu normas de segurança, alterou métodos construtivos, para baratear a obra. Custou muito caro: a vida de sete pessoas e famílias desalojadas".
Antecedentes
Os impactos da obra da linha amarela podiam ser sentidos por moradores da região muito antes do desabamento.“Em 2006, verificamos que nossas casas tinham fissuras, que estavam se tornando rachaduras. Era possível colocar a mão dentro delas. As construtoras não assumiram a responsabilidade”, diz Zelma Fernandes Marinho. Ela conta que o processo judicial ainda está em aberto. "Só pleiteamos o conserto da casa. As rachaduras estão cada vez piores", lamenta.
“Eu moro nessa casa desde que nasci. No dia do acidente, eu passei pelo local. Nós avisamos o Metrô das rachaduras em 2005. Naquele ano, houve um acidente com cinco casas: uma caiu completamente e outras quatro tiveram que ser demolidas. O que aconteceu aqui foi um assassinato em massa”, agrega Sueli Brandina, também moradora do bairro.
Resposta
A CCR (responsável pela linha 4-amarela), o Metrô e o Governo do Estado de São Paulo não responderam aos contatos da reportagem até o fechamento desta edição.
Edição: Camila Rodrigues da Silva
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