No dia 11 de janeiro de 2013, a ativista australiana radicada nos EUA Taren Stinebrickner-Kauffman entrou em seu apartamento no bairro do Brooklyn e descobriu que seu companheiro havia cometido suicídio. Nenhuma carta foi encontrada e, em seguida, veio a público que ele havia se enforcado. Seu companheiro, mais do que um garoto-prodígio, era Aaron Swartz, programador, empresário, escritor, ativista e um dos principais responsáveis pelo despertar generalizado de consciências em favor de uma internet aberta e a serviço do bem comum.
Não é necessário pensar muito para listar projetos inovadores de alto impacto com os quais Swartz se envolveu. Na start-up Infogami, trabalhou no desenvolvimento de sistemas de gerenciamento de conteúdo que permitissem a criação de sites visualmente atraentes, além de wikis semânticos. Insatisfeito com os sistemas disponíveis na linguagem Python à época, desenvolveu o web.py, um novo framework para aplicações web. Softwares desenvolvidos pela Infogami foramusados por um dos projetos mais ambiciosos de toda a rede, a Open Library do Internet Archive. Da fusão entre Infogami e Reddit, nasceu a Not a Bug, logo em seguida adquirida pela Condé Nast, a proprietária da mais importante revista de tecnologia dos EUA, a Wired, na qual Swartz também trabalhou.
Além de colaborador do grupo que desenvolveu o RSS 1.0 e da Creative Commons, o ativista ajudou em projetos como o site de monitoramento de políticos Watchdog.net, o Comitê de Campanha por Mudanças Progressistas e a organização Demand Progress, todos com o objetivo de fazer frente a políticas e políticos conservadores e tornar os Estados Unidos um país mais justo e solidário. Ao fim da batalha bem-sucedida contra o SOPA (Stop Online Piracy Act ou Lei pelo Fim da Pirataria On-line), que permitiria ao governo dos EUA derrubar sites acusados de violação de copyright e criaria deveres intoleráveis aos provedores de internet, Swartz disse: “Vencemos esta lusta porque todos nos tornamos heróis de nossas próprias histórias.”
Em 2008, o ativista baixou e publicou 2,7 milhões de arquivos da justiça federal norte-americana, que mesmo sendo de domínio público, tinham seu acesso tarifado. Um processo foi iniciado contra Swartz por este ato, mas logo as acusações foram retiradas. Em 2011, o ativista voltou a ter problemas com a justiça dos EUA. Depois de usar a rede do Instituto de Tecnologia de Massachussetts, o MIT, para fazer download sem pagamento de artigos da revista científica JSTOR, Swartz foi acusado de invasão de computadores pelo governo norte-americano e poderia ter que cumprir até 35 anos de prisão, além de pagar uma multa de mais de um milhão de dólares. O ativista e seu advogado recusaram o acordo em que Swartz admitiria culpa por mais de 13 crimes e se submeteria a seis meses de reclusão em uma prisão comum.
No funeral de seu filho, o também programador Robert Swartz disse: “Aaron foi morto pelo governo e o MIT traiu todos os seus princípios básicos.” Antes do velório do ativista, Lawrence Lessig, fundador da Creative Commons, criticou a desproporcionalidade do processo. O jornalista e ativista canadense Cory Doctorow, em esforço para descrever a importância de Swartz, afirmou: “Aaron tinha uma combinação imbatível de inspiração política, habilidade técnica e inteligência quanto a pessoas e problemas. Creio que ele poderia ter revolucionado a política norte-americana (e mundial). Seu legado ainda pode fazer isto.”
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