Saúde

Brasil tem 152 casos suspeitos de febre amarela e 47 mortes

Especialistas discutem método de prevenção e possível retorno da doença a áreas urbanas

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A febre amarela pode levar à morte, apresentando uma taxa de cerca de 50% de letalidade entre aqueles que a contraem
A febre amarela pode levar à morte, apresentando uma taxa de cerca de 50% de letalidade entre aqueles que a contraem - Wilson Dias/ABr

O número de casos de febre amarela aumentou de forma expressiva no Brasil em relação ao ano passado. O principal local de possíveis ocorrências da doença é a zona rural da região leste de Minas Gerais. Especialistas em saúde demonstram preocupação sobre o eventual retorno da doença às grandes cidades do país.

Neste ano, com dados levantados até terça-feira (17), havia 152 casos suspeitos de febre amarela e 47 mortes registradas. Em termos comparativos, de julho de 2014 a dezembro de 2016, foram registrados 16 casos em todo o país, segundo dados do Ministério da Saúde.

A febre amarela pode levar à morte, apresentando uma taxa de cerca de 50% de letalidade entre aqueles que a contraem.

Após 15 dias da contaminação, surgem os primeiro sintomas da doença: febre, dor muscular, dor de cabeça, vômito e diarreia. Esse quadro dura cerca de três dias, seguidos de uma breve melhora.

A doença evolui, entretanto, para uma segunda etapa, que dura de sete a 10 dias. Nessa situação, o paciente apresenta insuficiência renal, inflamação hepática, hemorragias, vômito e diarreia com presença de sangue, podendo chegar ao coma e ao óbito.

Não há tratamento específico para a doença. As pessoas contaminadas devem ser levadas a uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para o combate aos sintomas da febre amarela.

Volta

Uma das causas apontadas para o retorno da febre amarela se relaciona com o ciclo da doença em ambientes de floresta. Transmitida nas áreas rurais por mosquitos dos gêneros haemagogus e sabethes, ela contamina não só humanos, mas também outros primatas.

“A febre amarela ressurge de cinco a sete anos. Ela está vinculada ao surgimento de uma nova geração de macacos sensíveis e suscetíveis à doença”, explica Renata Gatti, chefe da divisão da Gerência de Zoonoses de Santa Catarina. O estado não tem casos suspeitos da doença.

Nessa hipótese, o intervalo temporal entre um surto e outro é o tempo levado para que macacos que sobreviveram à doença – tornando-se imunes – procriem gerando animais que podem ser contaminados.

Como são “os primeiros a serem atingidos”, Renata afirma que o monitoramento dessas populações animais é importante no combate à doença: “a morte ou adoecimento de macacos nos alerta para possível presença de circulação viral da febre amarela, evitando a ocorrência de casos humanos”.

Prevenção

Apesar da gravidade da doença, há um método simples e eficiente para a prevenção da doença disponível: a vacina.

“O que há de medida mais eficaz é a vacinação”, aponta Aristóteles Cardona, integrante da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares e professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf).

Pessoas que vivem em áreas de recomendação para vacina ou que vão se deslocar devem se vacinar. No último caso, é necessário lembrar que a vacina passa a surtir efeito de imunização após dez dias, sendo recomendável receber a dose 15 dias antes da viagem.

Nesse sentido, Cardona aponta que o aumento no número de casos suspeitos em 2017, mesmo com o ciclo de sete anos da doença, poderia não ter sido tão grave. “Era possível um modo de evitar ou, ao menos, minimizar esse quadro. Se tivesse havido uma campanha efetiva de vacinação, nas regiões com registro de ocorrência anterior, certamente não estaríamos passando por isso e chegado a esse ponto”.

Preocupação

Ainda que não se registre casos de febre amarela em áreas urbanas há mais de 70 anos, há uma preocupação quanto à possibilidade de retorno da doença a essas regiões, nas quais a transmissão ocorreria através do Aedes aegypti, conhecido por ser o vetor da dengue, zika e chikungunya.

“A doença está historicamente restrita a locais de floresta. O que mais preocupa hoje é que, desde a década de 1940, não há registro de transmissão pelo Aedes aegypti, mas sabemos cientificamente que é possível. É imprevisível. Ou a gente faz o máximo possível com a vacinação ou teremos problemas”, indica Cardona.

“Há uma preocupação com a reurbanização da febre amarela, justamente por conta do aumento do número de focos de aedes”, diz Gatti. “A preocupação é que uma pessoa contraia a doença em área de transmissão e volte para um centro urbano”.

Resposta

A reportagem procurou a Secretaria de Saúde de Minas Gerais e o Ministério da Saúde, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.

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