CRISE POLÍTICA

Opinião | Democracia ferida: o triste caso das trincheiras na casa do povo

Golpe abriu caminho às arbitrariedades só comparáveis aos anos de chumbo. E é isso que estamos vivenciando no Rio

Rio de Janeiro (RJ), especial para Brasil de Fato |
Policiais do Batalhão de Choque com seus escudos, capacetes, coletes em dia de votação e protesto na Alerj
Policiais do Batalhão de Choque com seus escudos, capacetes, coletes em dia de votação e protesto na Alerj - Fernando Frazão/Agência Brasil

Primeiro foram as grades sitiando a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Depois vieram os policiais do Batalhão de Choque com seus escudos, capacetes, coletes. Por fim, estouraram as bombas, o gás de pimenta impedindo a respiração, as balas de borracha com sua brutalidade atingindo a população. Entre os manifestantes, apareceram os de rosto coberto.

No entorno da Alerj o caos. No plenário, o isolamento dos parlamentares entre galerias vazias, para conforto dos que rejeitam a pressão popular e a tristeza profunda dos que, como eu, fomos eleitos com o objetivo de cumprir papel de representação da população no sistema democrático.

O que se viu na última quinta-feira com a colocação em pauta do projeto do governo que pretende entregar de bandeja à iniciativa privada a empresa pública mais lucrativa do estado, a CEDAE, foi mais um capítulo de um processo de agressão profunda à Democracia. Nós vamos nos acostumando a vivenciar essa violência cotidiana, mas não devíamos.

O parlamento – tão referenciado como ‘Casa do Povo’ - fechado à cidadania não é prática democrática. O distanciamento dos parlamentares da vontade popular muito menos. Vivemos tempos de um país que respira o ar do golpe que tirou o governo legitimamente eleito Dilma Rousseff do poder sem nenhuma prova que justificasse o impeachment. Esse golpe abriu caminho às arbitrariedades só comparáveis aos anos de chumbo da ditadura. E é isso que estamos vivenciando no Rio de Janeiro.

O diálogo suspenso, o desrespeito aos princípios básicos de cidadania não interessam à população. Mas a democracia ferida se presta a um triste papel, sob medida aos que pretendem atender a interesses escusos longe dos olhos do povo. Contra esses planos, não há outra saída. É preciso mais do que palavras: permanecer na luta, no parlamento e na rua, sem perder a esperança e a determinação jamais.

* Gilberto Palmares é deputado estadual (PT-RJ)

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