O estado do Rio de Janeiro está passando por uma crise que perpassa não só sobre o funcionalismo público, mas também pelos trabalhadores em geral. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, nos anos de 2015 e 2016, foram fechadas mais de 420 mil vagas formais de emprego em todo estado. Esses foram os primeiros resultados negativos da série histórica do Caged desde 2004.
Ainda de acordo com as informações registradas pelo Ministério do Trabalho, o total de vagas equivale a quase um quarto dos dois milhões de empregos criados entre 2000 a 2014. Os dados apontam que os principais setores afetados, nos anos de 2015 e 2016, foram Serviços, com 169.502 vagas fechadas, construção civil, com menos 111.477, seguido pela indústria de transformação, que teve menos 82.925 vagas no período.
Na avaliação do economista do Departamento Intersindical Estatística e Estudos Socioeconômico (Dieese) do Rio de Janeiro, Rodrigo Leão, existem várias hipóteses sobre os resultados apresentados nos últimos anos.
“A primeira delas é que houve uma grande demanda da construção civil com mega eventos, mas com a finalização deste ciclo expansivo, os trabalhadores não foram realocados. Outra questão é que a economia carioca é muito dependente do setor de óleo e gás, portanto, a redução de investimentos da Petrobras levou junto uma imensa cadeia produtiva da indústria de transformação. E a Lava Jato teve grande participação nesse processo”, explica.
Além disso, a redução do preço do petróleo no mercado internacional também é apontada pelo economista como um dos motivos da retração da economia estadual.
Para o diretor do Sindicato de Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ), Victor Marchesini, não há dúvidas que os setores que apresentaram os piores resultados de emprego nos últimos anos, foram diretamente prejudicados pelas investigações da Operação Lava Jato.
“A construção civil e as grandes empreiteiras foram um dos principais alvos das investigações, portanto, diminuíram suas atividades e demitiram muito. O setor naval, a exemplo do Comperj e dos estaleiros do norte fluminense, também foi impactado porque a Petrobras começou a diminuir e a cancelar projetos locais. Com certeza as forças políticas que capitanearam todo esse processo que levou ao golpe de estado não se importam com o desenvolvimento da indústria nacional, pelo contrário”, afirma.
O economista Rodrigo Leão complementa que, somado a todo esse cenário de recessão, o setor de serviços é impactado diretamente.
“Os serviços dependem da demanda, portanto, com a retração econômica e desemprego, as pessoas deixam de comprar e o setor de serviço sente rigorosamente. É um efeito em cadeia”, acrescenta.
Carteira assinada diminuiu enquanto emprego informal cresceu
O economista não arrisca uma previsão para 2017, mas a expectativa apontada pelos dados é de que o desemprego continue aumentando ao longo do ano. De acordo com o levantamento mais recente da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de desempregados atingiu quase 1 milhão de pessoas somente no terceiro trimestre de 2016 no estado do Rio de Janeiro.
A taxa de desemprego atingiu 12,1% da força de trabalho do estado no mesmo período — maior que a média nacional de 11,8%. Esse resultado representa o maior número desde 2013, quando a pesquisa começou a ser produzida.
Ainda de acordo com a série histórica da Pnad, o grupo de ocupados também nunca foi tão pequeno. Só 7,2 milhões de pessoas estavam empregadas no Rio no terceiro trimestre do ano passado.
Outra questão importante apontada pelos dados é que o número de pessoas com carteira assinada diminuiu 8,7% no trimestre, em relação ao mesmo período do ano anterior. Enquanto a quantidade de pessoas sem carteira assinada aumentou. Houve variação positiva de 9,4% em relação ao trimestre anterior.
Edição: Vivian Virissimo