Os clubes Atlético Paranaense e Coritiba podem ser denunciados na Justiça Desportiva após se recusarem a jogar pelo campeonato estadual no último final de semana. O jogo não aconteceu porque a Federação Paranaense impediu a transmissão digital e gratuita do clássico.
Ambos recusaram os valores oferecidos pela Rede Globo para cobrir a transmissão e pretendiam transmitir o jogo pelos seus perfis de YouTube e Facebook.
A Federação aguarda que o árbitro Paulo Roberto Alves Júnior envie a súmula para decidir uma nova data para a partida da quinta rodada do estadual. O Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná (TJD-PR) também trata com cautela a questão. O juiz tem até 48 horas para submeter o documento, prazo que acaba na terça-feira (21).
“Temos que aguardar a súmula do árbitro e provavelmente os desdobramentos do TJD. Não temos como antecipar porque temos que estudar a situação, algo inédito, de os times não aceitarem disputar uma partida e não seguirem o regulamento”, afirmou Emerson Fukushima, advogado da Federação, ao Globo Esporte.
Gilson Goulart Júnior, procurador do TJD, disse que as medidas a serem tomadas pela entidade serão definidas após o recebimento da súmula, mas não descartou uma possível denúncia: “É muito difícil prever o que pode ser feito. O mais importante é aguardar o relato da súmula. De acordo com o que ele colocar na súmula a gente vai avaliar e se tiver que denunciar, a Procuradoria vai tomar as providências”.
Resistência
A Federação impediu a transmissão da partida no YouTube e Facebook de Atlético e Coritiba porque pessoas não credenciadas – responsáveis pela filmagem - estavam em campo. Dirigentes de ambos os times classificaram a postura da entidade como “absurda”.
Em nota, os clubes criticaram o ocorrido: “O Coritiba Foot Ball Club e o Clube Atlético Paranaense informam que o clássico deste domingo (19), no Estádio Atlético Paranaense, não foi realizado devido à decisão da Federação Paranaense de Futebol de não autorizar o início da partida com a transmissão dos clubes em seus canais oficiais, no Facebook e YouTube, contrariando os interesses de seus afiliados CAP e CFC”.
“Os clubes lembram que a ação pioneira foi realizada, pois as duas equipes não venderam os direitos de transmissão de seus jogos no Campeonato Paranaense, por não concordarem com os valores oferecidos”, continua o texto.
Transmissão
Para Thiago Cassis, jornalista e coordenador do Coletivo Futebol, Mídia e Democracia do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, a iniciativa da Federação atendeu aos interesses da Rede Globo. Segundo ele, “embora não exista nenhuma prova concreta que a Globo tenha interferido”, o modelo alternativo seria uma ameaça à emissora. "A iniciativa de transmitir o principal jogo do Campeonato Paranaense [via internet] abriria um precedente, uma janela para que outros clubes fizessem o mesmo".
“Qual seria o interesse da Federação [em impedir o jogo]? Estádio lotado, com transmissão pela internet - uma experiência inovadora. Se houvesse autonomia, ela poderia explorar de forma positiva a transmissão por YouTube”, continua.
Ele aponta que a influência da mídia – especialmente a Globo - sobre o futebol, dita a própria dinâmica do esporte.
“Os clubes foram ficando dependentes demais das cotas de TV. Cada vez mais, passaram a planejar o próximo ano conforme o dinheiro da cota. E a Globo começou a adiantar a cota inclusive. Mesmo clubes grandes dependem”, aponta.
Além disso, há outros fatores, como a não transmissão de regionais em diversas localidades, “obrigadas a assistir o Paulista ou o Carioca”. Para Cassis, o elemento que mais afeta torcedores é o próprio horário do jogo, foco de uma campanha do Centro Barão de Itararé.
“O jogo às dez da noite é o mais gritante. O sujeito não pode voltar para casa porque a Globo precisa preencher a grade dela. Qualquer torcedor detecta essa situação".
Resposta
O grupo Globo, em nota pública, negou que tenha relação com a interrupção do jogo. “O Grupo Globo reafirma que, em nenhuma hipótese, teve qualquer ligação com o episódio e espera que dirigentes de clubes e federações se entendam para que o torcedor, razão maior do espetáculo, não seja punido pela falta de organização e de bom senso”, afirma o texto.
Edição: José Eduardo Bernardes