19 dias. Esse foi o tempo que cerca de 7 mil guerrilheiros das Farc demoraram para percorrer a pé, em veículos e embarcações, quase 9 mil quilômetros que os separavam das 26 zonas de paz, delimitadas pelo governo colombiano, ao longo do território nacional.
Aqui nesses espaços, também chamados de Zonas Veredales (comunidades rurais) é que os guerrilheiros vão entregar as armas à uma comitiva da Organização das Nações Unidas (ONU), seguindo várias etapas acordas entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo da Colômbia. Esse processo passa pela anistia de presos políticos e pela criação de um partido que permita às FARC participar legalmente na vida política desse país.
O município de Fonseca, no departamento de La Guajira (no norte da Colômbia), uma das mais pobres do país, recebeu os 300 primeiros combatentes guerrilheiros que se encontram agora no acampamento de Los Pondores onde se mantêm armados e com a mesma rotina diária.
Entre o último posto do exército colombiano e o acampamento guerrilheiro, está a sede do Mecanismo de Acompanhamento e Verificação dos Acordos de Paz que inclui membros da ONU, do governo e das FARC. Já dentro da zona de paz, os dormitórios, o posto médico, as casas-de-banho, a sala de estudo e a água canalizada prometidos estão longe de estarem construídos. No entanto, essa era uma promessa do governo e deveria ter sido concluída antes da chegada dos guerrilheiros. Ainda assim, as FARC decidiram ajudar na construção contribuindo com mão-de-obra e mostrando que estão comprometidas com o cumprimento do Acordo de Paz.
Todas as madrugadas, às 4h50, um guerrilheiro do turno de guarda percorre as tendas e as camas improvisadas dos seus camaradas imitando um pássaro, com o objetivo de despertar. Depois do asseio, os combatentes fazem a formação e um comandante faz revista à tropa.
Às 5h30, chega a hora do café da manhã, em seguida o momento dedicado ao estudo e às notícias do dia. Uma pausa para um lanche e depois a distribuição de tarefas a ser realizadas pelos guerrilheiros ao longo do dia. Apanhar lenha, limpar e cozinhar podem ser algumas delas.
Entre os combatentes, o número de mulheres e indígenas é bastante elevado e não há qualquer distinção na distribuição de tarefas. Tampouco na zona dos banhos. Na entrada do acampamento há uma comissão de recepção para que a população e as organizações sociais e políticas possam contactar os guerrilheiros.
Durante o dia, vários combatentes viajam pelas diferentes povoações da região com o objetivo de informar sobre o que foi acordado com o governo.
Mesmo estando em curso um processo de paz, em algumas regiões do país a violência não acabou. É cada vez maior o número de assassinatos de dirigentes sindicais, políticos e indígenas cometidos por grupos paramilitares.
Por isso as Farc entendem que a participação da população é essencial nesse período de consolidação do Acordo de Paz. Consideram que a luta social é determinante para que a paz não seja, uma vez mais, afogada em sangue.
* Bruno Carvalho é jornalista, colabora, desde Portugal, para veículos como Telesur, Sermos Galiza, Diagonal, rádio Info7, Voz do Operário, entre outros.
Edição: Fania Rodrigues