Cerca de 500 pessoas se reuniram no bairro de Sapopemba nesta sexta-feira (2), na zona leste de São Paulo (SP), para protestar contra o genocídio de jovens nas periferias e pedir justiça para o caso de Lucas Rodrigues Araújo, que morreu na madrugada de quarta-feira (1º), vítima de dois homens não identificados em um carro.
"Queremos chamar a atenção da população, dizer que não tem mais condições de a gente tolerar esse tipo de coisa. Não dá pra gente se acostumar com essas mortes que estão acontecendo. Precisamos unir forças e acabar com esse extermínio", diz Michele Custódio, educadora do Centro de Defesa de Crianças e Adolescentes (Cedeca) de Sapopemba, presente no ato.
A concentração de manifestantes na altura do número 10000 da Avenida Sapopemba teve início por volta das 14h. O ato fechou a via e foi acompanhado pela Polícia Militar (PM).
Segundo testemunhas, dois homens desconhecidos que ocupavam um carro Siena prata, com placa de Santo André, passaram por um grupo de jovens na favela Santa Madalena e executaram Lucas, de 20 anos, que era pai de duas crianças.
"A gente suspeita de que se trata de um grupo de extermínio da polícia. Em questão de segundos após a execução de Lucas, encostou uma viatura da PM. Parecia até que eles estavam dando algum tipo de cobertura", afirma Damazio Gomes, advogado que acompanha o caso do jovem.
Segundo Gomes, a polícia ainda acusou Lucas de ser "ladrão de Uber". "Tentaram justificar o injustificável. Sem nenhuma preocupação em apurar quem são os responsáveis", aponta o advogado.
Mães em Luto da Zona Leste
Um grupo de mães que perderam seus filhos por conta da violência policial criou um núcleo de apoio às pessoas em luto chamado Mães em Luto da Zona Leste. Há um ano, elas se reúnem e buscam uma forma de superar a dor causada pelas mortes.
Solange Oliveira é uma dessas mães que estavam presentes no ato por justiça para Lucas. Ela perdeu seu filho há exatamente dois anos, vítima do soldado André Pereira dos Santos, que integra o Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra).
"Eu sei que nada vai trazer meu filho de volta, infelizmente, mas nossa luta é para que outros jovens não tenham o mesmo fim. Queremos justiça e respostas. No meu caso: por que um tiro na cabeça do meu filho? E por que, mesmo no chão, ele levou mais dois tiros?", questiona Oliveira.
"O policial que matou meu filho ainda está na rua. A polícia não mata só um filho, mata o pai de uma criança, um irmão, um neto. No Brasil não existe pena de morte, mas os policiais decidem quem vive e quem morre", lamenta a mãe.
Mais violência
Na madrugada da última segunda-feira (27), outro caso de violência contra um jovem chamou atenção em São Paulo (SP). O adolescente João Victor Souza de Carvalho, de 13 anos, foi agredido por um segurança do Habib's da Vila Nova Cachoeirinha, Zona Norte de São Paulo. Ele morreu em seguida.
Segundo testemunhas, o garoto estava pedindo esmola e comida em frente ao restaurante, e o funcionário teria segurado ele pela gola da camisa e lhe dado um soco na cabeça. João Victor morreu após parada cardiorrespiratória perto da lanchonete.
A unidade do Habib's afirmou, por meio de nota, que afastou os funcionários que podem ter envolvimento com o caso. A Polícia Civil ainda investiga o caso, e ninguém foi preso.
Edição: Camila Rodrigues da Silva