Trabalhadoras e trabalhadores rurais acampados em terras concentradas pela empresa Vale S/A em Canaã dos Carajás, no sudeste do Pará, realizaram neste sábado (4) a primeira feira livre de produtos dos acampamentos.
O produtor rural Volney de Sousa, 34, relata que todos os produtores ficaram empolgados com a ideia da feira e estão articulando com outras pessoas um espaço mais adequado para a próxima. Ele é morador do acampamento Planalto Serra Dourada, há 12 km da cidade, onde vivem cerca de 352 famílias.
“A gente queria fazer todos os sábados, mas como o poder público não é muito favorável, foi só por um dia, e ainda não era um espaço ideal, porque não tinha sombra, mas estamos vendo a possibilidade de alguém doar um espaço”, conta Souza.
Na feira, o produtor levou pamonha, milho verde, feijão de corda, abóbora madura e verde. De tudo que tinha na roça, o produtor vendeu “um pouquinho”. Havia ainda outros produtos, como galinha, macaxeira, banana, cajá, quiabo, pimentas, jiló, vinagreira, suco de cajá, bolo e espetinho de porcos criados nos acampamentos.
A proposta era mostrar para a cidade que os acampamentos produzem todos os tipos de alimentos e conseguem vender pela metade do preço do mercado tradicional, explica Souza.
“A gente provou que pode vender pela metade do preço e ainda conseguir ter um lucro em cima da produção. Não é um lucro exagerado, mas dava para suprir nossas necessidades”, comemora.
O educador popular Raimundo Gomes da Cruz Neto, do Centro de Educação, Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular (Cepasp), afirma que a feira livre veio para dar visibilidade à luta que os produtores rurais travam contra mineradora.
Ele diz que, após a conclusão e inauguração do Projeto S11D, considerado o maior empreendimento de mineração da empresa, aumentou o número de trabalhadores que ficaram desempregados.
Como se não bastasse, muitos dos produtos agrícolas que abastecem a cidade vêm de outras cidades e, por isso, são mais caros. Gomes da Cruz Neto afirma que foi para se contrapor a essa realidade do município que os acampados sugeriram a feira.
“Os mais pobres é que sofrem com a elevação dos preços dos produtos. Assim, a ideia da feira é fazer esse contraponto de que podemos fornecer aos trabalhadores desempregados produtos com preços acessíveis, diferentemente daquele cobrado na feira coberta que foi construída agora”, compara o educador.
Conflito
O embate entre os acampados e a mineradora se deve à compra de terras da Vale S/A. O produtor rural afirma que 51% das terras do município estão nas mãos da mineradora e outra parte com grandes fazendeiros. Sem espaço para plantar, o agricultor da região não consegue abastecer a cidade.
“A feira foi muito boa e a principal intenção não era nem só pegar no dinheiro em si, era mais divulgar o que a gente produz, a gente é muito criticado que a gente não produz muita coisa, mas como a terra está em conflito a gente não tem como plantar roças muito grande”.
A região dos Carajás é, historicamente, palco de intensos conflitos fundiários. O mais marcante foi o massacre de 19 trabalhadores sem-terra em Eldorado dos Carajás, em 17 de abril de 1996, mas novos casos surgem cotidianamente. O mais recente foi a agressão que um produtor rural e seu filho de 23 anos sofreram de seguranças da empresa Prosegur, a serviço da Vale, quando estavam consertando uma cerca.
Edição: Camila Rodrigues da Silva